Crônicas Veríssimo: As festas – Orgias

Quase um mês sem Veríssimo aqui no blog. Pode demorar, mas sempre voltamos com as crônicas. E uma especial às festas de fim de ano! o/

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As festas

Aproxima-se a perigosa época das festas. O Natal e o Ano-Novo, como se sabe, despertam os melhores sentimentos das pessoas, e isto pode ter conseguências terríveis. São conhecidos os casos de paixão, alguns até terminando em morte, que começaram em festas de fim de ano, na firma, quando o espírito de conciliação e congraçamento leva as pessoas a baixarem a guarda e aceitarem o que normalmente não aceitariam e a fazerem o que, no resto do ano, nem pensariam, ainda mais depois de beberem um pouco. Nada mais embaraçoso do que, no segundo dia do ano novo, ter de tentar desfazer algum equívoco do fim do ano anterior.

– Dona Teresa, eu…
– Pintinho!
– Pinto. Meu nome é Pinto.
– Humm. Como nós estamos mudados, hein? Na festa…
– Era justamente sobre isso que eu queria lhe falar dona Teresa. Na festa. Algumas coisas foram ditas…
– Só ditas não, não é, Pintinho?
– Pinto. Pois é. Ditas e feitas, que…
– Já sei. Vamos fingir que nada aconteceu.
– Eu prefiria.
– Muito bem. Só não sei o que vou dizer ao papai.
– O que que tem o seu pai?
– Ele está vindo de Cachoeiro para o casamento.

Outra coisa perigosa é a pessoa se entusiasmar no fim do ano e decidir mudar. Ser outra pessoa. Deixar velhos vícios e adotar novas atitudes, ou recuperar algumas antigas. Janeiro, ou pelo menos a sua primeira quinzena, é uma espécie de segunda-feira do ano. As ruas ficam cheias de novos virtuosos, pessoas resolvidas a serem melhores do que no ano passado.

– Olhe.
– O que é isso?
– Aquele livro que você me emprestou.
– Eu não me lembro de…
– Faz muito tempo. E, na verdade, você não emprestou. Eu peguei. Eu costumava fazer isso. Nunca mais vou fazer.
– Você pode ficar com o livro. Eu…
– Não! Ajude a me regenerar. Quem fazia essas coisas não era eu. Era outra pessoa. Um crápula. Decidi mudar. Este sou o eu 2006. Comecei devolvendo todos os livros que peguei dos amigos. Acabou com a minha biblioteca, mas que diabo. Me sinto bem fazendo isto. Outra coisa. Precisamos nos ver mais. Eu abandonei os amigos. Abandonei os amigos! Olhe, vou à sua casa este sábado.
– Não. Ahn…
– Prometo não roubar nada.
– Não é isso. É que…
– Já sei. Vamos combinar um jantarzinho lá em casa. A Santa e eu estamos ótimos. Fiz um juramente, na noite de ano bom. Que me regeneraria. E ela me aceitou de volta. Há dois dias que não olho para outra mulher. Dois dias inteiros! Isso era coisa do outro.
– Sim.
– Do crápula.
– Sei…
– Eu era horrível, não era? Diz a verdade. Pode dizer. Uma das coisas que eu resolvi é não bater mais em ninguém. Era ou não era?
– O que é isso?
– Como é que eu podia ser tão horrível, meu Deus?
– Calma. Você está transtornado. Vamos tomar um chopinho.
– Não! Não posso. Jurei que não botaria mais uma gota de álcool na boca.
– Mas um chopinho…
– Está bem. Um. Em honra da nossa amizade recuperada. E escuta…
– O quê?
– Deixa eu ficar com o livro mais uns dias. Ainda não tive tempo de…
– Claro. Toma.
– E vamos ao chope. Lá no alemão, onde tem mais mulher.

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