Análise (2) | Sonic Unleashed (Xbox 360)

Sonic Adventure 2 Battle: Este é o game considerado, por muitos gamers, o melhor Sonic em formato 3D que a Sonic Team conseguiu criar. Até hoje. Vou ser ousado e dizer que Sonic Unleashed conseguiu bater Adventure 2. O jogo tem defeitos, assim como o outro citado acima, porém as qualidades de Unleashed superam e se sobressaem. A crítica caiu matando em cima do game, eu sei, mas não consegui entender o porque. Werehog? Será mesmo? Quer saber o que tem de errado com o game? Eu digo.

Dados Técnicos
Plataforma analisada:
Xbox 360
Players: 1 Player [off-line] Desenvolvedora: Sonic Team
Distribuidora: Sega
Lançamento: 20/Nov/2008

Hedgehog Engine é onde tudo recomeça… de novo.

Não dá para mentir e dizer que a Sonic Team não vem já a muitos jogos atrás tentando achar um formato onde Sonic se sinta em casa. O primeiro Adventure quase conseguiu alguma coisa, mas um mapa para ficar perdido não agradou. Depois veio o Adventure 2, mais focado na ação e menos na exploração, mas aquelas fases com Tails e Knuckles matam de tédio e raiva qualquer jogador. Houve Sonic Heroes, que não sei porque, não foi tudo que prometeram, talvez os múltiplos personagens em fases praticamente idênticas ainda não foi a chave certa. Aí a geração mudou, desconsiderando pérolas como Sonic Riders é claro. Veio Sonic The Hedgehog para X360 e PS3. O game tinha tudo para agradar, mas foi um jogo de início de geração, A Sonic Team ainda não sabia trabalhar direito com a produção e o resultado foi um game com loadings mortais, bugs demais e essa coisa de três histórias diferentes para Sonic e seus primos-clones , Shadow e Silver, nas quase mesmas fases não conseguiu atrair o público. Até no Wii, Sonic Secret Rings tentou e apesar dos belos reviews, há quem depois de um tempo ficou de saco cheio com a jogabilidade tão limitada e com uma aventura tão diferente do usual. Precisou passar por tudo isso até que a Sonic Team resolvesse jogar tudo no lixo. Esqueça os formatos passados, a jogabilidade e até mesmo a engine utilizada. A Sonic Team começou um novo Sonic a partir do zero.

O que não existe em Unleashed: Fases com outros personagens do mundo do Ouriço. Chega de Rougue, Shadow, Silver, Cream, Silver e mais aquele elenco multi-colorido que vinha insistindo horrivelmente de aparecer em cada maldita nova aventura de Sonic. Tinha secundário demais tirando o brilho do principal. Em Unleashed você verá apenas Tails e Amy. E não jogará fases com eles. Tails está ali para ajudar Sonic num mini-game em cima do Tornado, o clássico aviãozinho dos Sonic 2D. Há apenas duas fases assim e elas são ótimas, já que trata-se apenas de apertar os botões que vão aparecendo na tela, nem o avião é controlado pelo jogador. Já Amy é um mero enfeite, não serve para nada. E só, mais ninguém dá as caras no game. Ótimo!

Voltando a falar um pouco da nova Engine. É ela que dá as novas diretrizes no gameplay de Unleashed e conserta alguns bugs dos games 3D de Sonic. Sabe aquele clássico erro de sair do cenário quando você está rápido demais? Percorri todas as fases do game sem passar por esse defeito. Claro que há momentos em que você deverá trabalhar com o turbo [explicações daqui a pouco], sobre pena de não alcançar determinado caminho na fase ou afundar, se estiver andando sobre a água.

A nova engine também permite trabalhar num gameplay parecidíssimo com o que a Sonic Team fez com Sonic Rush, para Nintendo DS, ou seja, a tela passa de 3D a 2D e aí o caminho é bem old-school. Ou Sonic avança ou recua. Com belos elementos de plataforma e com os clássicos inimigos no meio de uma corrida, pedindo maior atenção do jogador. Essa virada 2D está em todas as fases. Diria todas as fases são compostas de 60% 3D e 40% 2D, o que é uma boa combinação.

Seguindo ainda a ideia de pontos positivos de Sonic Rush, a Sonic Team ainda trouxe à Unleashed a opção de turbo que foi um dos fatores chaves para o sucesso da versão DS. O turbo é o que o próprio nome diz, o jogador aperta X e Sonic triplica sua velocidade de forma assustadora. Claro que existe uma barra de turbo para não torná-lo infinito. Ela enche conforme o jogador colhe os clássicos anéis de energia. Não dá para aumentar a barra fazendo malabarismos durante os pulos igual Sonic Rush, mas é uma boa ideia atrelar ela aos anéis.

Alguns elementos dos antigos games de Sonic também retornam aqui. Os caminhos múltiplos e atalhos nas fases agora estão bem mais visíveis e em maior número. Tais caminhos estão no modo 3D ou 2D, o jogador precisa ficar esperto durante toda a fase para não perder nenhum. Algumas fases como em Chun-Nan [Baseada na China] você tem a impressão que há duas fases, uma trilhada por cima e uma por baixo, tal qual os games de Mega Drive.

O sistema de combate com Sonic também é eficaz. O jogador pula, uma mira automática aparece com um símbolo verde e com o botão X Sonic ataca diretamente o inimigo, sem o risco de cair da fase. Claro que se o jogador apertar antes da mira aparecer as chances de perder o controle e sair correndo para onde não deve é grande. Felizmente, são poucas as vezes que, em modo 3D, você precisa pular para atacar um inimigo, já que basta acionar o turbo para varrer o que estiver na sua frente. No modo 2D você pode utilizar o sistema clássico e apenas pular no inimigo, se bem que na maior parte das vezes é preferível usar a mira automática ou o turbo também.

Um outro detalhe tão importante na jogabilidade com o Sonic são os botões LB e RB, novidade nos games de Sonic em 3D. Uma das maiores dores de cabeça no gameplay em 3D da franquia é se movimentar em alta velocidade. Pular é quase que impossível sem o risco de desgovernar o ouriço e ir para os lados também não é tão fácil assim. Principalmente naquelas famosas trilhas predeterminadas, para isso a Sonic Team inseriu um dash lateral. Esse dash já havia aparecido no primeiro trailer do game. O objetivo dela é facilitar ao jogador que desvie de espinhos ou qualquer outra ameaça enquanto estiver correndo com o Sonic sem o perigo de perder o controle pulando ou indo para as laterais com o analógico. O dash lateral acaba se tornando bem intuitivo e permite um melhor controle de Sonic em alta velocidade. Não sei como não haviam pensando nisso antes. No vídeo abaixo, repare na parte dos trilhos, que não é preciso pular, Sonic dá um pulinho pequeno para o próximo trilho apenas com um leve toque no LB/RB.

Um outro ponto importante em Unleashed: o problema de loading demorado que Sonic The Hedgehog tinha foi consertado aqui. Eles não levam nem mais do que 5 segundos para carregar o game. Pelo menos instalado no HD do X360.

A polêmica: Werehog! Plataforma vs Corrida?

O mais bizarro que eu li na internet foi gamers dizendo estarem horrorizados como a Sega transformou um Ouriço em um Lobo. Quase aquela mesma história de como Sonic podia ser apaixonar uma mulher em Sonic The Hedgehog. Bem esquecendo o passado e focando apenas em Unleashed. Sonic não vira um lobo. Werehog não é um lobo. Há todo um contexto para a metamorfose que o protagonista sofre. Isso tem a ver com a história principal.

O jogo começa com clima de fim de mundo. Sonic no espaço, numa estação espacial de Eggman [Robotinik para os íntimos. Lá após ser capturados acidentalmente, em sua forma Super Sonic, Eggman drena toda a energia das Chaos Emerald e consegue despertar uma força maligna no planeta, que acaba sendo despedaçado. Algo muito parecido acontece em Blue Dragon. Dark Gaia é o nome desta força, não posso dar mais detalhes para não estragar a surpresa. Basta saber que tal energia influência e infecta as pessoas. Sonic acaba sendo afetado, então a noite, que é quando as energia é mais forte, ele vira Werehog. Não é um lobo, mas uma forma mais bestial de Sonic, mais primitiva e má. E Werehog é o divisor de opiniões, e que torna Unleashed um jogo polêmico pela crítica.

As fases com Wereghog não tem um apelo pela velocidade, mas pelo combate misturado com elementos de plataforma. Eu pensei várias vezes em Prince of Persia do Gamecube, enquanto jogava com o Werehog. Não que ele seja igual.

Nos primeiros minutos em que você estará jogando com Werehog, sentirá um sistema de combate meio travado. Com poucos combos e movimentos. Isso porque o jogo tem um sistema de Skills. Levels se preferir. Há várias skills para elevar: Força, Combate, Escudo, Unleashed e Energia. Cada vez que o jogador escolhe elevar a skill de combate, novos comandos e golpes são destravados. Esse é provavelmente a skill mais importante para conseguir jogar direito com Werehog. Seguido por força.

As fases noturnas são maiores que das de velocidade diurna obviamente. Nas fases dos Sonic, morrendo e indo com calma, o jogador leva uns 10 minutos ou um pouco mais para fechar. Nas com Werehog a maior parte eu fiz com mais de 25 minutos cada, vasculhando tudo.

As fases são caprichadas, mostrando que a Sonic Team realmente trabalhou com carinho no desenvolvimento dela. Há muitas sequências criativas, novas e singularidades únicas em cada mundo. Sem mencionar as habilidades envolvendo as partes de plataforma do game. Preciso dizer que me senti mais confortável, de uma forma old-school, em jogar com Werehog do que muitos games plataforma em 3D atualmente. A grande sacada foi permitir que Werehog estique seus braços como se ele fossem de borracha. Assim quando estiver perto de uma plataforma, mesmo que você passe o momento correto de pegá-la, há ainda a possibilidade de se agarrar já que o protagonista se estica um pouco mais do que o normal.

Não vou me estender mais porque acredito ser difícil descrever a situação. Lembro apenas que qualquer jogo estilo plataforma, é arriscado o jogador morrer a qualquer momento por imprecisão e este regra também existe ao jogar com o Werehog.

Vou apenas complementar agora a parte do combate, que pode sim, ser frustrante. A noite o jogador encontrará os seres formados pela Dark Gaia e estes são mais espertos que os robôs de Eggman que aparecem de dia. Os inimigos se defendem e atacam em grupo. É preciso ter muita atenção. Não dá para ficar esmurrando os botões, a menos que você esteja bem elevado nas skills. Há um comando de timing, que ocorre depois de socar um pouco o inimigo. Com o B você o aciona e uma mini-mini-mini-animação acontece, se durante ela, você apertar corretamente o botão, o inimigo morre, senão ele contra-ataca, o Werehog perde energia, e o inimigo passar a ter novamente 100% de energia. E o comando nessa hora é rápido demais, se demorar 2 segundos é muito. Em boa parte do jogo preferi trabalhar com combos e skills do que usar esse ataque fatal, pois o risco de perder energia e morrer com ele é grande demais.

Hora de mencionar outro grande tabu dos games da Sega: A câmera. Li alguns reviews que não gostaria da câmera do jogo ser travada, ou seja, você não a movimenta livremente a qualquer hora. Eu gostei disso e muito. Nunca deu certo jogos em 3D do Sonic onde você precisa ficar posicionando a câmera. Em Unleashed em quase 95% das vezes, ela sabe sozinha onde deve estar. Quando estiver em modo combate com o Werehog ela fica um pouco mais manual, permitindo o player rodar o cenário ou posicioná-la melhor, mas ao jogar com Sonic esqueça, ela vai se adaptar perfeitamente a situação que for exigida. Se der uma guinada repentina para o lado, é porque é por ali que você vai. O máximo que dá para fazer com ela jogando com Sonic é mover um pouco para os lados ou para baixo/para cima para ver se há alguma coisa ali, e só, tirou o dedo do analógico, ela volta pro lugar que deveria ficar. Muito raro também ela não conseguir acompanhar a velocidade do Sonic, o que era bem frequente de acontecer nos jogos anteriores.

O vídeo abaixo é apenas um trecho do Act 1 com Werehog em Empire City. Uma das minhas fases preferidas. Veja o vídeo com atenção, repare nos momentos plataformas e nos combos que o personagem usa nos combates. Veja como a câmera se comporta também, pois toda a vez que ela gira ou mexe no vídeo, não é o jogador, mas o game posicionando-a automaticamente onde deve ficar:

Alguns jogadores podem reclamar que esse estilo de gameplay descaracteriza Sonic, mas não é bem assim. Os antigos Sonics de Mega Drive tinham muitos elementos de plataforma. Talvez não houvesse estes combates, mas eles não chateiam, pelo menos não a mim. São muitos combos e depois de um tempo, Werehog fica tão forte, que as batalhas passam cada vez a dar menos problemas.

World Map, Exploração e Fases Extras!

Mais acertos por parte da Sega em 3 pontos distintos.

O game não segue no estilo dos games de Mega Drive, com fases atrás de fases. O jogador precisa ir para os locais corretos onde o jogo deve prosseguir. Decisão arriscada do time de desenvolvimento, já que isso era uma reclamação constante nos antigos games em 3D: Ficar perdido e não saber aonde prosseguir.

A solução em Unleashed é genial. As fases principais são distribuídas em países. Isso porque Sonic precisar juntar o mundo novamente e para isso deve restabelecer o poder das Chaos Esmeralds, mas os templos que fazem isso estão espalhados pelo globo. Então há o mapa do mundo, onde você escolhe onde deve ir. Os locais vão abrindo conforme a necessidade da história de avançar. O jogador também não fica perdido aqui porque há uma trilha e um efeito especial no local que você deve ir para continuar a história.

Dentro do país não há um mundo aberto como Sonic Adventure, mas uma peguena vila com alguns habitantes. Isso é importante, porque algo grande demais deixaria o jogo arrastado e xarope. As vilas não tem mais do que 10 habitantes para conversar e fazer sub-guest, que lhe auxiliam nas skills de Sonic/Werehog, além de arrebatar algumas conquistas no X360. Há também um lojinha em cada vila para compra de quinquilharias que também destravam recompensas e conquistas. Dentro das vilas, há um local estabelecido por um símbolo gigante de dia/noite onde estão as fases deste país. Cada país tem uma fase diurna para Sonic, uma noturna para o Werehog e uma para o chefe. Porém, isso para a história prosseguir, pois existem fases extras escondidas e que só vão ser destravadas posteriormente. Não são grandes como as fases principais, mas não fazem feio não. Eu joguei a do primeiro mundo Apotos e fiquei abismado com a dificuldade em uma do Sonic que é praticamente inteira em 2D.

Enfim, o jogador ainda pode sem precisar ficar voltando a vilas, ir para o mapa do planeta diretamente ou transformar cada local em dia ou noite para jogar com ambos os protagonistas com um simples clique no menu. Simplicidade total nessa parte.

Outro ponto muito bem elaborado em Unleashed é a exploração total do game. O jogo traz LPs de Áudio, Livros de Artwork e Fitas de VHS escondidas nos mapas e todas as fases do game. Pena que a Sega não tenha ousado um pouquinho mais e colocado algumas trilhas sonoras clássicas de outros games de Sonic na sala de áudio. Mas os livros de artworks com Storyboards do game são fabulosos. O maior problema é encontrar todos os itens, que totalizam mais de 150.

Além destes extras bacanas há 400 medalhões do Sol e da Lua. 200 de cada. Eles também estão espalhados por fases, em geral mais de 15 em casa uma, pelas vilas e até mesmo em sub-guest. O professor Prickles também o recompensa com algumas quando você entra para lhe entregar algum souvenir.

Já aproveito para mencionar os souvenirs, que Sonic compra nas lojinhas de cada vila e devem ser entregues ao professor. Isso irá gerar uma recompensa ao fim do game. São mais ou menos 5 bugigangas em cada vila que são compradas com anéis de energia coletados nas fases. É bacana pois no fim do game você tem uma galeria de objetos coletados.

Além disso há 4 poderes a serem coletados para Sonic nos mapas com as fases, que tornam melhor a jogabilidade das fases extras com o Ouriço.

Enfim, já mencionei acima as fases extras, que existem em todos os mundos e tanto para Sonic quanto para o Werehog, elas são destravadas conforme o jogador vai coletando os medalhões de Sol e Lua, alias o jogo em si só avança se você os coletar. As fases principais também são amarrados as coletas destes itens. Por umas 3 vezes cheguei num ponto onde não podia continuar porque não tinha medalhões suficiente. Lembra do sistema de estrelas para cada porta em Mario 64? É a mesma coisa. A solução é voltar, procurar na vila, rejogar aquela fase que você deixou um monte para trás ou jogar uma das fases extras.

Para terminar, há ainda os modos survival e time trial para todos os mundos do game. Esses modos estão com o vendedor de cachorro quente, basta falar com ele para abrir o menu com os desafios. Tudo isso foi muito bem pensado para compor o replay do game. Imagine se fossem apenas fases atrás de fases. Não teria tanta graça.

Acertos e Furadas

Considerações finais

Sonic Unleashed pode não agradar a todos, mas certamente a meta da Sonic Team era fazer um Sonic em 3D livre de tantos defeitos quantos os anteriores e que superassem tudo de bom que eles já haviam acertado nos games do Ouriço. Meta cumprida. Unleashed tem de tudo para se tornar uma nova franquia para Sonic.

Talvez num Unleashed 2, ao invés de um Werehog, inventar uma outra mutação. Pois se Mario pode virar uma abelha ou uma mola, Sonic também pode brincar com outras formas que gerem fases alternativas ao modo velocidade. Sem a necessidade de dezenas de protagonistas ou clones de ouriço para suprir fases mais lentas.

Sonic Unleashed deve ser testado e jogado pelos fãs do mascote. Mas também é um belo game para começar a conhecer o personagem. Só não deve agradar mesmo aos rabugentos que acham que Sonic já morreu. Para estes, eu peço apenas que se possível, joguem os momentos em 2D de Unleashed e vejam se tem a coragem de dizer isso novamente.

Bonus Extra: Apotos, Act 3 com Sonic

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