Eu queria tirar meu PlayStation2 daquele velho baú empoeirado que está largado em um canto do meu quarto, tirar as teias de aranha, ligar ele na minha televisão e continuar com a minha saga para terminar Gran Turismo 4, completando todos os objetivos, debloqueando e guiando todos os carros, etc, mas eu sei, isso iria demorar, e muito. Talvez mais de um ano até.
Não vejo nada de errado com esse meu desejo. Por outro lado, também sei que não quero investir tanto tempo em um só jogo, já que tenho uma extensa lista de jogos que comecei tempos atrás e ainda hoje não terminei. Alguns, admito, comecei há mais de dez anos atrás, quando ainda não trabalhava fora, e tinha mais tempo livre para supostamente estudar ao invés de ficar apertando botões de maneira frenética em tardes chuvosas.
Toda vez que eu vejo um novo jogo que me interessa e leio na embalagem que ele vai me prender por mais de 40 horas, eu penso duas vezes antes de comprá-lo, sabendo que tenho tantas pendências com outros jogos que ainda preciso terminar. Aonde vou conseguir tempo para mais um jogo? E ainda tenho uma outra enorme lista de livros para ler, cd’s para ouvir, filmes para ver, lugares para visitar e pessoas para visitar, entre outros tantos compromissos.
Eu gostava mais desses jogos longos quando era adolescente, e tinha mais tempo para me dedicar aos games. É exatamente o que revelou um recente estudo da NPD Gruop, que mostra que o nicho dos jogadores hardcores é, em sua maioria, composta por jogadores mais jovens e com mais tempo livre. E esse tempo livre é importante para assimilar melhor a experiência que o jogo pode oferecer. Jogar um jogo longo uma hora hoje, duas amanhã, mais uma no próximo fim de semana quebra a concentração e o envolvimento com o jogo. Eu me lembro quando peguei Chrono Trigger há dez anos atrás e terminei ele em 3 dias, jogando horas a fio, e todo o conteúdo do jogo ainda estava fresco na memória Agora, jogando a versão de DS de vez em quando, não sinto o mesmo impacto que o jogo havia me provocado, e tenho que ficar me lembrando do que havia feito na jogada passada.
Por isso que considero os jogos em episódios uma boa solução para mim. Posso dispôr de umas 10 horas durante a semana para terminar um episódio com folga e mais satisfação, aproveitando melhor os detalhes, pois já não gosto da idéia de ter que jogar um jogo longo de maneira tresloucada, o mais rápido possível nessa mesma semana, sem curtir o jogo, dar a atenção a cada progresso que eu fizer. É melhor degustar um bom vinho vagarosamente, do que ter que engolir ele depressa, o que é um desperdício. Especialmente nos dias de hoje, com jogos cada vez mais curtos.
Mas afinal, qual é o problema de um jogo ser curto e demorar dez, vinte horas até se chegar ao seu final? Pegue por exemplo o Sonic Unleashead. As fases com o Sonic são legais e extremamente rápidas, ao passo que as fases com o Lobisonic são demoradas e tediosas. Aí perguntaram para os produtores porque o jogo não poderia ser lançado só com fases do tipo do Sonic. Eles responderam que se fosse feito assim o jogo teria poucas fases, seria curto, e se as pessoas o terminassem muito rápido, elas se desinteressariam do jogo em pouco tempo. Então, usar o Lobisonic foi a solução encontrada para fazer com o jogo ficasse mais tempo nos consoles e mentes dos jogadores. Deu certo, Sega?
Não é melhor fazer um jogo com menor duração, porém mais intenso, do que fazê-lo gigantesco, cheio de coisas inúteis e que só contribuem para aumentar a lista de jogos em espera?
Final Fantasy possui dezenas de horas de jogo, prometem seus produtores. Mas quantas horas vamos passar apenas matando os mesmos monstros e criaturas com o único intuito de fortalecer nossos personagens? Tirando essas batalhas tediosas, vemos que um jogo como Final Fantasy não é tãoooo grande e demorado assim. Só utiliza uma velha tática de game design que visa ampliar artificialmente o tempo que o jogador se dedica ao jogo. Por outro lado, temos atualmente o exemplo de Modern Warfare 2, um jogo curto, porém extremamente competente em fazer o jogador ficar empolgado com cada segundo que ele passar em frente da tela. Depois disso, é o seu igualmente bem estruturado modo multiplayer que vai fazer com que o jogador mantenha-se ocupado com ele.
Aconselho as as ditas “grandes” produtoras à prestar mais atenção nos jogos das pequenas, mas que crescem a olhos vistos, como é o caso da PopCap, que estão conseguindo seu espaço com jogos mais curtos, porém bem feitos, e mais, importante, mais divertidos de se jogar. Basta simplesmente não “encher linguiça”, certo?