O filme A Origem estreia dia 6 de Agosto de 2010 no Brasil.
A Origem é um filme que explora a complexidade da mente humana como se ela fosse um ousado jogo de movimentos estratégicos cujo risco é inevitável já que ninguém pode fugir de sua própria mente.
Não se preocupe com spoiler até ler o segundo aviso a vermelho. Inicialmente conversaremos sobre o filme sem referir qualquer spoiler! Comentarei o que achei do filme e criticarei sem partilhar informações que possam ser consideradas spoiler.
Arquitetura mental para uma missão única, A Origem!
Não devemos ir para a sala de exibição de um filme com expectativas muito elevadas, porque sabemos que na maior parte das vezes estamos aumentando o risco de sofrer uma decepção. Mas, para além dessa maioria, há aqueles filmes que mesmo com expectativas elevadas conseguem satisfazer. A Origem é um dos filmes que conseguem vencer as minhas expectativas, satisfazendo e até surpreendendo.
O filme baseia-se na história de Cobb, um extrator de ideias e pensamentos que acredita ser também capaz de implantar ideias e pensamentos na mente das pessoas.
O foco do filme não é a ação como parece ser em primeira análise. O verdadeiro foco, por trás de toda ação, está nas pessoas, principalmente em Cobb. E o que o futuro lhe reserva? Essa é uma das principais perguntas que surgem depois que parte do seu passado é revelado e um futuro ameaçador cresce como possibilidade. Deixarei os detalhes disso para todos descobrirem em A Origem. Como disse, não pretendo dar spoilers. Após o continue, conversamos mais sobre o filme.
A organização da história está muito bem colocada e está enquadrada na arquitetura ideal para desenvolver a ação e atingir o objetivo principal: tornar a nossa mente, a cena do crime! O espaço físico, social e pessoal das personagens no interior da mente, durante os sonhos, parece simples, mas revela-se ao longo do filme cada vez mais complexo de modo a levar o próprio espectador a duvidar da realidade. Sabe aqueles filmes que nos fazem pensar? Se a pessoa estiver atenta, o filme a fará pensar não só na realidade e no irreal mas também em críticas e questões que marcam a sociedade atual. E se não estiver muito atenta, ela ainda terá que pensar para se localizar bem, identificando o real e o irreal. Enfim, trata-se de um filme que mantém a nossa concentração ocupada.
Há momentos em que o filme parece entrar em nossa mente. Isso deve ocorrer a partir do instante que ele nos convida a mergulhar nos ambientes e nos pensamentos das personagens. Não posso dizer o instante exato, mas ele está misturado na arquitetura formidável de A Origem.
É claro que o filme está repleto de cenas de ação, de violência, mas o interessante e louvável é perceber que houve uma preocupação em dar mais significado. A história não se limita a ser objetiva. Ela brinca com os sentimentos, traumas e pensamentos das personagens e acaba por ser melhor do que aparenta ser no início.
Posso dizer que as minhas expectativas foram destruídas no início do filme que transmite a ideia de que o filme seguirá o estilo de 007. Ainda bem que foi uma ilusão porque não fui assistir A Origem para mergulhar em mais um simples filme de ação, sem desvalorizar os filmes do 007. Esperava algo único, algo emocionante. Não posso reclamar muito.
Apesar do filme ser um pouco confuso às vezes, senti as minhas expectativas serem extraídas no começo e um conceito e uma história surpreendentes serem implantados na minha mente um pouco antes da metade do filme (tenho certeza disso porque aqui o cinema tem intervalo no meio – inacreditável!), dando mais entusiasmo.
No entanto, nenhum filme é perfeito. O início do filme achei pouco cativante, até mesmo confuso. Alguns momentos de desenvolvimento lento também estiveram presentes. E uma das maiores críticas ao filme: a conclusão, o fim. Mas vamos deixar isso para ser comentado e criticado na segunda parte.
O elenco é formidável, os efeitos especiais são magníficos. Cenas explicativas sobre Inception (imersão no inconsciente alheio ou próprio durante o sonho) estão espalhadas, principalmente nos primeiros minutos. O inconsciente de Cobb (Leonardo DiCaprio) é desvendado e descodificado. Desde o início, a ênfase no inconsciente e nas memórias de Cobb destaca a mente da personagem.
Raramente assisto um filme como A Origem que deixa uma marca em mim, um desejo crescente de assistir o filme novamente. Quanto mais o tempo passa, mais quero voltar a assistí-lo. Não é um filme perfeito, mas a qualidade está lá, começando pelos conceitos explorados, pela originalidade de criar um extrator de ideias capaz de implantar uma ideia como uma semente e deixá-la germinar e crescer.
Uma mensagem transmitida pelo filme critica o conformismo da sociedade e incentiva o questionamento da realidade, a concentração naquilo que está ao nosso redor. Incentiva a dúvida metódica. Só assim estamos conscientes. Recomendo o filme.
Assista o trailer do filme e depois conversamos sobre o filme, comentando os acontecimentos (haverá spoiler após o trailer!) e fazendo observações.
Alerta! Alerta!
Risco de spoiler! Se você é alérgico, não continue!
A origem da realidade está no irreal, literalmente!
Na minha perspectiva, o filme esteve dividido em duas grandes partes: introdução e exploração acompanhada por revelações, claro! Na primeira parte, a história não avançou tanto. A preocupação foi explicar o processo de Inception, a forma como entrar no sonho e no inconsciente dos outros funcionava. Houve também referências de psicologia interessantes e em alguns casos convincentes. Adorei o exemplo dado a Saito sobre a implantação de ideias e pensamentos na mente, algo como: “- Não pense em elefantes (pausa breve). No que está pensando agora?” e Saito respondeu “Elefantes.”, deixando esse exemplo agradável sobre o processo fundamental do filme.
Por mais que a ideia de que Cobb seria o comandante da equipe que se aventuraria na mente de Robert Fischer tenha sido forte, aplaudo o destaque de todas as personagens, mostrando um verdadeiro trabalho em equipe. Todos os detalhes de um filme contam e os mais simples podem fazer toda a diferença, como a referência suave de certos objetos designados por Totem. Os totems fizeram parte do elenco praticamente! Quem diria que o “peão” de Cobb teria tanta importância no fim do filme? A importância de Mallorie (“Mal”) era óbvia, mas não pensei que aquele “peão” fosse desempenhar tanta importância como desempenhou!
Há muitas críticas no filme. Há uma crítica contra cegueira da sociedade que não questiona o que a rodeia, apenas acumula percepções, emoções, desejos e ideias e necessidades vendidas e se deixa seduzir. A manipulação mental ocorre mesmo que ninguém entre em nossa mente – podemos ver essa metáfora no filme se estivermos atentos e se a quisermos ver de fato. Outro ponto: só vemos aquilo que queremos. Não somos manipulados se não deixarmos os outros entrarem em nossa mente – devemos ter o nosso sentido crítico bem treinado.
Um “Empurrão” na direção certa!
Os níveis de sonho, a profundeza deles, interferem com a lucidez. Sonhar dentro do próprio sonho parece redundante, mas é um grande risco. Ligamos dispositivos que atuam em nós e tomamos sedativos – pronto, estamos em outro grau de realidade. Mas se vivermos mais em nível, isso realmente significa que ele é mais real que qualquer outro que visitamos por apenas umas horas? Acho que de todos os “empurrões” no filme, posso dizer que esse filme foi um “empurrão” no direção certa! A reação das pessoas projetadas no inconsciente foi uma ideia que encaixou tão bem, que não poderia esquecer de mencionar. Porém, se são projeções ou pessoas, não há como saber à primeira vista. O aprofundamento no inconsciente é outro fator que despertou curiosidade.
O filme pareceu ser um forte apelo ao treinamento da lucidez. Fora isso é um ótimo filme! Os momentos em slow motion constituem um detalhe fundamental para aumentar a tensão. Afinal, os detalhes são tão importantes que fazem diferença mesmo que sejam simples. Pensei que Cobb deixaria Ariadne despertar sem ele, satisfazendo a projeção de Mal que o assombrava – ainda bem que não cedeu. Mas o fim do filme não foi tão objetivo e deixa tudo em aberto.
Implantação concluída com perfeição… ou não!
Sinceramente, não esperava que o filme fosse terminar com um “felizes para sempre!” e se terminasse o filme não teria sido tão bom quanto foi – ficaria faltando aqueles segundos finais de suspense que deixaram o filme aberto. Um bom filme deve ser ousado e brincar com o espectador. Mas terá ficado aberto e sem resposta ou uma continuação do filme poderá vir nos próximos anos? O “peão” a rodar no fim, sem parar chegou a aumentar drasticamente a minha concentração e entusiasmo. Era simplesmente genial se no fim aquilo que parecia ser a realidade acabasse por ser irreal! Seria o limbo de Cobb? Se for, não parece ser exatamente sofrimento.
Cobb perdeu o “empurrão” voluntariamente. Depois parece que ele acorda, mas nós não chegamos a ver o seu corpo sair do carro sequer! Sem nenhum estímulo visível, ele desperta. É possível que os segundos finais fossem no seu inconsciente, talvez limbo. Por outro lado, tecnicamente Não sei o que seria melhor. É bom poder refletir sobre a conclusão do filme (nada tem fim, não é mesmo?), mas ainda gostaria de ter uma resposta objetiva.
O fim foi genial de qualquer modo. O produtor queria nos deixar imaginar o fim e nos fazer pensar sobre o conceito de realidade. Espero que tenha sido a origem de uma série de filmes (ou de pelo menos dois) que explorem a mente humana.
Qual é a sua teoria para o fim?