Com humor peculiar, melancolia e uma certa nostalgia de um passado que muitos de nós queríamos ter vivido, Charles M. Schulz é um nome imortalizado que transcendeu o gênero “tirinhas de jornal” alcançando um patamar de filósofo da vida moderna.
Com décadas de carreira, o autor não tem só um trabalho extenso, mas bastante significativo para a cultura ocidental.
E nesta coleção (versão brasileira da editora Canongate Books Ltd) publicada pela L&PM, fica claro que o trabalho de Schulz não nasceu pronto: personagens principais e secundários tinham características físicas e personalidades diferentes do que nós nos acostumamos a ver.
Aparece o Schroeder (o pianista e paixão da Lucy – que não exisita ainda e vai sendo introduzida no decorrer do apanhado), como um bebê – que nem sabia falar (aos poucos ganha a camiseta, depois o mini piano)!
Bom, era diferente. O que não quer dizer que não era tão boa quanto se tornou! O potencial melancólico de um garotinho que já refletia sobre a vida, como gente grande, o humor existencialista, moderno e inteligente, um traço leve e simples de um homem declaradamente talentoso e diferenciado: que nunca mudou seu estilo ao longo de tantos anos. O personagem Charlie Brown era super divertido, mais solto e debochado, ao mesmo tempo que melancólico (um Charlie mais novinho, que não sabia ler, nem escrever, nem contar direito!).
Digo isso porque essa edição maravilhosa conta ainda com uma entrevista com Charles Shulz realizada nos anos 80, ele já com cerca de 60 anos e com farpas na língua: falou sobre o mercado, sobre outros quadrinistas, sobre ele mesmo, como ele não gostava de ter sua tirinha vista como se fosse feita para o público infantil e muitas outras curiosidades e respostas afiadas imprescindíveis para se conhecer os bastidores de Peanuts.
Aliás, Charles revela como odeia o nome Peanuts (que não foi criação dele e mesmo sendo conhecido no mundo inteiro, ele continuava odiando…), critica colegas, explica porque seu traço sai tremido (porque suas mãos começaram a tremer com a idade avançada), dentre outras coisas interessantes. Em muitas páginas de entrevista que dão um diferencial a mais nesta coleção.
O Volume 01, que reúne histórias de 1950 a 1952 (super bem dividido no interior do livro: com o mês e ano em cada página), traz ainda uma introdução do jornalista Garrison Keyllor, conterrâneo do autor (que fala sobre como a cidade era à época da infância de Shultz) e um ensaio sobre a importância do autor.
Mas, esses bônus valiosos, são “apenas” bônus valiosos, diante de tantas tiras e da evolução aparente em cada traço e novas aparições e definições de cada personagem. Charles não se achava um divisor de águas e também não entedia o porque de ser tão “idolatrado”, embora admitisse que sua tira tinha “classe”. Afirmou que não tina uma filosofia por traz daquilo tudo e que ele não tentava passar coisa alguma… Mesmo que citasse Beethoven, Mozart e levasse a sério as crises infantis dos garotos.
Eu entrei em contato com a editora e eles me responderam que pretendem lançar a edição Box, ou seja, como a americana: que reúne dois exemplares em um Box super bonito, protegido e pelo mesmo preço – vamos aguardar então!
A publicação original foi lançada há cerca de 3 anos e nunca terminou nem nos EUA, afinal, são 25 volumes (não deu tempo ainda) ! Charles Shultz escreveu durante 50 anos, tiras inéditas! É coisa pra caramba! Vai ficar uma coleção cara, financeiramente falando, mas, de valor inestimável para se ter em casa, para sempre.
Ah sim, e pelo que observei também da L&PM foi sucesso de vendas aqui no Brasil. O primeiro volume já está na 4º edição nacional! Você pode ler algumas páginas a partir de site da editora e também eu fiz uma galeria logo abaixo!
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