Cuidado! Risco de spoilers!
Se você é alérgico – ou ainda não viu o filme – se afaste!
Exemplo perfeito de como um roteiro mediano pode ser salvo por um elenco afiado e uma direção competente.
Essa afirmação acima, pra mim, é a que melhor define Salt. Não consigo imaginar o filme funcionando tão bem se outros nomes estivessem envolvidos na produção, o elenco bem entrosado e a direção confiante nos fazem esquecer por uns momentos o quão fraco é o roteiro do filme. Salt é o típico filme de ação pipoca: uma oficial da CIA é acusada de ser espiã da Rússia e precisa fazer de tudo para provar sua inocência. Nós já vimos esse filme várias vezes, mas o diferencial aqui é que no papel principal temos uma mulher e isso faz toda a diferença.
Pra quem não se lembra, Salt era pra ser um personagem masculino e Tom Cruise seria o ator escalado para interpretá-lo. Mas devido a problemas de agenda (Cruise estaria filmando o suspense político The 28th Amendment, mas acabou fazendo Encontro Explosivo primeiro) o filme teve que ser repensado por completo. Sai Edwin A. Salt e entra Evelyn Salt com Angelina Jolie encabeçando o elenco. Acho que essa foi a mudança fundamental para o sucesso do filme, pois Cruise estaria encarnando pela sexta vez o mesmo personagem, o que iria contribuir negativamente para sua já manchada carreira. Já que estamos falando do elenco – e este é um dos grandes trunfos do filme – só posso elogiar as competentes atuações de Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor, como os implacáveis agentes que perseguem Salt. August Diehl e Daniel Olbrychski se esforçam ao máximo para tirar proveito do pouco tempo em que aparecem. Desnecessário falar de Jolie, certo? Sua beleza é hipnótica e ela concede à Salt um ar de confiança que somente um atriz com um extenso currículo em filmes de ação conseguiria.
Desde o início da projeção Salt não dá trégua ao público e até seus momentos mais tranqüilos possuem um clima de suspense, não nos deixando respirar nem nas suas cenas finais. O diretor Phillip Noyce, veterano dos filmes de espionagem, possui total consciência do frágil roteiro que tem em mãos e por isso ele emprega um ritmo frenético ao longa. As cenas mais dramáticas são rapidamente resolvidas pois, por conta do tom totalmente absurdo da história, so fossem um pouco mais exploradas se tornariam cômicas. Noyce brinca com a dualidade da personagem durante todo o filme, sempre a colocando em situações que faça o público questionar de qual lado Salt realmente está. Se você já assistiu a pelo menos uns dois filmes de espionagem na vida, saberá antecipar as surpresas do roteiro bem antes delas acontecerem.
Se por um lado o filme peca pela obviedade, nas cenas de ação é onde ele realmente brilha. Salt é um Bourne de saias. Seja criando explosivos com materiais de limpeza ou utilizando uma arma de eletrochoque e um motorista desacordado para dirigir uma viatura da polícia, Salt é implacável! Noyce dirige essas cenas com uma precisão incrível, sem cortes bruscos mas ainda com aquela câmera trêmula, o diretor é hábil em nos deixar ver a ação propriamente dita. Ao contrário de outros diretores por aí, cofcofmichaelbaycofcof, que complicam tanto suas cenas de ação a ponto de deixar o público nauseado.
Salt poderia facilmente cair no esquecimento não fosse o entrosamento entre todos os envolvidos na sua produção. Desde a direção confiante de Noyce até as corretas atuações de Jolie, Schreiber e Ejiofor que conseguem mascarar o roteiro fraco de Kurt Wimmer.