Lembram de Phillip Pullman? Aquele de A Bússola de Ouro: narrativa simples, objetiva, sem floreios desnecessários e piadinhas infelizes, uma ideia original e personagens maravilhosos. Assim, Pullman tornou-se reconhecido em todo o mundo com a sua trilogia Fronteiras do Universo: sucesso controverso que irritou a igreja por sua crítica religiosa e encantou (e ainda encanta) pessoas de todo o Planeta.
Mas, o grande mérito do autor não é criar confusão, aliás, eu diria, não é nem na capacidade de prender o leitor e coisas do tipo, que editores adoram para vender. O sucesso do autor está, sem medo de afirmar, na capacidade de criar personagens tão carismáticos quanto fantásticos. É impossível não simpatizar até mesmo com os vilões! Não precisam ser todos bonitos, nem ridiculamente apaixonados repentinamente, nem passarem por romances baratos ou provações forçadas. Na verdade, é proximidade com a realidade e não o idealismo que faz com que nos aproximemos do trabalho atual do autor…
No primeiro volume da coleção, Pullman escreve a história dessa garota bastante espirituosa, inteligente e independente que se envolve (ou melhor dizendo, é envolvida) em uma trama de símbolos, assassinatos, drogas, dinheiro, conspiração, corrupção enfim, tudo o que de ruim pode acontecer…
A obra é ambientada na Inglaterra Vitoriana e fica impossível não remeter a Sherlock Holmes, seu contemporâneo, já que também trata da resolução de um mistério.
De qualquer forma, o livro não é surpreendente no roteiro principal, digamos assim, nem na premissa, argumentação, mas, se supera em algumas surpresas, brigas e reviravoltas bastante ousadas. Se você está acostumado com aquele tipo de livro que gera um “micro-suspense” a cada fim de capítulo, como estratégia para te prender até o fim, talvez seja mais complicado ler Sally e A Maldição do Rubi.
É como diz um ditado (bem aproveitado pelos acomodados): não é a história em si que importa e sim como ela é contada. Afnal, o livro conta com tudo o que já vimos nos livros infanto-juvenis: um vilão esquisito (nesse caso uma velhinha má, quase uma bruxa Disney) e seus capangas idiotas, um romance eminente e um amigo oportuno.
Mesmo assim, Sally e A Maldição do Rubi é muito mais do que isso. Trata de uma garota solitária e talentosa, bem à frente do seu tempo, tendo que mostrar dotes contábeis em uma empresa falida, convivendo com uma atriz, à época em que ser atriz não era lá sinônimo de ser alguém com dignidade e enfretando a escória da sociedade: tudo ao mesmo tempo.
As revelações são intrigantes e surpreendentes, daquele jeito que faz você pensar: “poxa cara, como ele pensou nisso?!”. E Phillip Pullman mantenha a sua narrativa em dia, afinal, matando a saudade de quem curtiu a trilogia Fronteiras do Universo com a criação de mais personagens estremamente carismáticos e de uma grande história que termina deixando uma vontade de querer mais.
No mês de julho foi lançado o tereceiro livro dessa série no Brasil: Sally e o Tigre no Poço. O segundo volume, Sally e a Sombra do Norte é ainda melhor que o primeiro, mostrando o que aconteceu com os personagens desde o final do primeiro volume e, simplesmente, confundindo o leitor de forma positiva, que pensa: “Quer dizer que é isso?!” ou “Mas, e aí? Vai ou não vai?!” e coisas do tipo…
Vale conferir e, na semana que vem, já trago a análise de Sally e a Sombra do Norte!
*OBS. Estava com saudades e devendo aqui na Livroteca! Perdão a todos, mas, tive um mês bem pesado e que já deixei para trás. E voltamos às resenhas semanais!