Arakawa Under the Bridge | Humor surreal e reflexões de valores pertinentes!
Faz mais de um mês que estou ensaiando para escrever sobre Arakawa Under the Bridge, devido a falta de tempo e também porque eu ainda não cheguei numa idéia de texto para descrever a real sensação e surpresa que tive com este animê, que estreou na TV japonesa em Abril deste ano. É muito difícil, atualmente, um animê me surpreender e impressionar a ponto de dizer que ele é imperdível. Tudo bem, eu gosto de uma porrada de animês de longa duração e tal, mas animês curtos quase nunca me satisfazem a ponto de eu poder falar “valeu totalmente a pena assistir”. Arakawa conseguiu atingir esse árduo conceito. Posso dizer que foi, até o momento, um dos melhores animês de 2010 que assisti. E olha que já comecei e larguei uns 30 animês curtos este ano que não me incentivaram a ir até o fim.
Arakawa Under the Bridge possui apenas 13 episódios, porém uma segunda temporada já está em produção e deve estrear em 2011. A obra é baseada num mangá, começado em 2004, de mesmo nome, criado pela autora Hikaru Nakamura, sendo que ele ainda não foi concluindo, contando com 10 volumes até o momento.
A história da série gira em torno de Ichinomiya Kou, de 22 anos, estudante e futuro herdeiro de uma grande coorporação empresarial japonesa. A família milionária do rapaz tem a tradição de nunca, jamais, em hipótese alguma, ficar devendo algum favor a outra pessoa e Kou segue essa regra à risca. Na verdade o lema é “Nunca ficar em dívida com alguém”. A história começa com Kou de cuecas numa ponte. Suas calças foram penduradas numa das pilastras da ponto por um bando de arruaceiros. O rapaz ao tentar recuperar suas calças, cai da ponte e acaba sendo salvo por uma misteriosa garota, que até havia oferecido ajuda antes dele cair, mas devido ao lema da família, Kou recusou. Mas agora ele está vivo graças a garota, com certeza ele está em dívida com ela. É aí que começa toda a maluquisse sensacional de Arakawa! O que a misteriosa garota quer de Kou para que ele retribua o favor? Rá!
Não se deixe enganar pela sinopse acima, pode parecer meio estúpido, mas a série tem um humor surreal, onde pequenas coisas são levadas ao exagero propositalmente para que a história funcione e reflexões sejam criadas. Não é simplesmente uma comédia de exageros, apesar de que certos elementos do gênero serem utilizados. Na verdade quando você assiste os primeiros episódios fica com aquela idéia na cabeça de “que absurdo! que troço sem noção é isso?” e conforme a história vai se desenvolvendo, você percebe que cada absurdo, cada fato sem sentido, na verdade começa a fazer sentido e é esta a ideía da autora da série, mostrar algo que certamente você veria com uma base preconceituosa e ao longo do tempo, conforme vai conhecendo melhor estes elementos, você nota que não há do que ter preconceito. Maluco está nos olhos de quem vê.
A vida debaixo da ponte…
Continuando o resumo lá de cima, a garota que salvou Kou se chama Nino. Inicialmente ela não quer nada em troca do salvamento, mas Kou insiste dizendo que ele não pode continuar a viver sabendo que está em dívida com ela. Nino pede a ele que seja seu namorado, porém ele tem que viver debaixo da ponte com ela, pois se ele for embora, nem que seja um único dia, provavelmente ela esqueceria dele. Rá! Kou apesar de relutar um pouco, acaba aceitando as condições, isso demora todo o primeiro episódio da série para acontecer, eu que resumi bem. No fim, a história começa com a chegada de Kou à vida debaixo da ponte de Arakawa, e aí é que as coisas começam a ficar surreais e as surpresas surgem!
Narrando a situação parece algo que jamais aconteceria na vida real, mas o primeiro episódio é bem convincente diante de toda a situação apresentada e no final você se sente curioso para saber o que diabos vai acontecer e o que tem de tão estranho em viver debaixo da ponte. Já no primeiro episódio somos apresentados a um tipinho bizarro, o chefe da vila, que é um Kappa (um ser aquático da cultura japonesa – veja), quer dizer, obviamente não é um Kappa, mas um ser humano normal usando uma fantasia de Kappa, mas na história é como se o cara realmente fosse um Kappa, mesmo que a sua pela apresente zíperes, que alias são notados por Kou logo no primeiro episódio e se tem mais algumas piadas ótimas em torno do óbvio.
O tal Kappa, como disse acima, é o chefe da vila. Todos que passam a morar debaixo da ponte, precisam ganhar um novo nome, escolhido pelo tal Kappa. Kou passar então a se chamar Recruta, outra piada ótima de começo de animê. Depois disso e até o final da série, Kou é chamado a todo momento de Recruta, eu mesmo ao escrever está matéria fico pensando no personagem como “Recruta” e não como “Kou”. XD
E o animê segue em diante, a cada episódio novos tipinhos mais esquisitos ainda vão sendo apresentados e a vida debaixo da ponte vai ficando mais interessante, pois cada habitante da vila, apesar de suas esquisitices tem muita personalidade e uma história por trás da história, alguns de forma mais explícita, outras mais implícitas e não é explicado logo de início. Isso porque o animê tenta apresentar os personagens de forma que Recruta e quem está assistindo carregue um pouco de preconceito (não de forma negativa) quando ao personagem, claro que tudo de uma forma cômica e não ofensiva, mas fica aquele pensamento de como isso tudo pode realmente ser levado a sério.
Fazendo uma comparação, vocês já devem ter ouvido falar ou leem as tiras da Chiclete com Banana do quadrinista Angeli, não? Criador de tipinhos clássicos, inspirados claramente na cultura brasileira da década de 80/90, como a Rê Barbosa, Bob Cuspe, Os Skrotinhos, Meia Oito e Nanico, Luke e Tantra, Wood e Stock, Rhalah Rikota, Mara Tara, Walter Ego entre outros tipinhos escrotos (como o próprio criador os denomina). Todo estes personagens de Angeli, mesmo que inventados e com uma forte e até exagerada personalidade são inspirações em pessoas e no povo brasileiro em geral. Funcionam como um crítica escraxada. Não sou fanático pelas tirinhas do Angeli, algumas eu acho engraçadas e outra não, mas respeito e muito o senso crítico e imaginativo que ele tem para criar personagens únicos e originais, que casam muito bem com o que vemos das pessoas por aqui, ainda que com aquela forma exagerada de ser destes personagens, afinal é aí que está a graça. Arakawa Under The Bridge faz quase a mesma coisa, temos muitos personagens estranhos e únicos, que de uma forma ou de outra, carregam inspirações e personalidades exageradas justamente para fazer essa análise do que existe por aí, e o absurdo é aumentando justamente para criar o humor surreal do animê, afinal, aí é que está a graça da coisa. Criar um animê sério, apenas para falar de preconceito, sem fazer humor, não é o que a autora da série tem como meta. Tudo nessa casa deve ser implícito e carregado com muitas piadas e humor, deixando ao telespectador ou ao leitor do mangá, se este for o caso, tirar suas próprias conclusões de onde está o exagera, o que foi criado apenas para fazer humor e o que ali tem uma pontinha de verdade e crítica social. Cabe à você chegar as estas conclusões e pra mim esta é a genialidade da série. De uma certa forma, as tiras nacionais da Chiclete com Banana fazem exatamente a mesmíssima coisa.
Esta imagem acima é uma marca do animê, basicamente existe em todos os 13 episódios iniciais. Sempre que Recruta se espanta com algo ou chega a uma conclusão reflexiva, aparece esse quadro acima, que não dura nem 2 segundos. É como um flash. É um recurso interessante, ainda que o animê ainda se utilize de caretas e aquelas cenas de espanto e de gritaria, típica do humor japonês, que alias acho engraçado e gosto. É uma forma exagerada de comédia japonesa e dependendo da situação funciona muito bem. Quase todos os animês da atualidade usam esse recurso, idem para One Piece (e muito), Naruto e Bleach. Mas esse flash dos olhos muitas vezes dita a narrativa da situação em que Recruta se encontra, é um toque diferente dos animês que se vê por aí e que duvido que tenha no mangá, já que rola quase que a todo momento, principalmente no começo da série onde a cada 5 minutos, uma surpresa é apresentada na vida debaixo da ponte.
Na galeria abaixo, é possível ver alguns dos personagens que compõe a série. Não vou explicar porque eles são assim ou até mesmo dar muitos detalhes sobre os mesmo, pois o grande barato da série é assistir e ver qualé a deles e porque são assim.
Um detalhe que me chamou bastante a atenção é que em Arakawa Under The Bridge não é aquele erotismo gratuito que muitos animês tem. Aquela sensação Hentai, de personagens feninimas mostrando a bunda, peitos e calcinhas que muitas produções japonesas atuais possuem, até mesmo quando não são necessárias ou não são do gênero proposto. Acho que é o que muita gente chama de “fanservice” (ainda que eu ache este termo um tanto relativo). Nino está sempre com seu moleton, e quando está no rio, usa maiô, e o animê não fica naquela coisa de dar close na bunda ou nos peitos, seja de Nino ou de qualquer outra personagem feminina da série. É um detalhe interessante, pois os japoneses realmente tem essa tara por desenhos e Arakawa vai totalmente contra a maré. Outro fato interesante é que a história apesar, de certo um ponto de vista, ser sobre Recruta realmente se apaixonando por Nino e por esse estilo de vida simples, muitas vezes não fica naquela melação boba de amor de colegial que tantas outros animês se prendem, mas há um foco muito maior no relacionamento e nesse “ecossistema” que existe debaixo da ponte. Como Recruta se relaciona com todo mundo, como funciona esse sistema, o que cada um faz, qual a história dos personagens etc. Não fica só naquela história de Nino e Kou, mas todos os outros personagens aparecem e participam da série como protagonistas praticamente, não deixam o foco da história cair na mesmisse.
Acabei não comentando muito sobre Nino, que meio que é o centro de todos que vivem debaixo da ponte, mas é porque eu realmente não quero dar muitos detalhes sobre cada personagem, mas a garota é sempre muito desligada de tudo, e alega ser de Vênus. Não sei se é uma brincadeira com aquele famoso livro “Homens são de Marte e Mulheres são de Vênus?” ou se a garota pode ser literalmente uma alienígena, a série brinca um pouco com isso, mas não deixa claro qualé a da Nino. Alias espero que nem explicar, pois como disse uma das genialidades da história é estas coisas jogadas ao ar para que o espectador tire suas próprias conclusões. Isso ao menos explica porque na imagem que abre o post, Nino está sentanda sobre o que deve ser Vênus. E ao contrário de outras personagens femininas de animês japonses, Nino não tem uma voz fina e estridente ou vive gritando e se balançando por todo lado, pelo contrário, ela acaba sendo a personagem mais contida da série, o que torna a sua personalidade algo bem original. É difícil não se sentir cativado pela memas.
Por fim, a série é curtinha como eu disse, tem apenas 13 episódios, em sua maior parte tendo como destaque o cotidiano da vida debaixo da ponte mesmo. Não tem essa negócio de hentai, batalhas do tipo shonen etc, é um animê de comédia de rotina, com muita conversa e situações engraçadas que surgem em torno dos acontecimentos da vida e das estranhisses de cada personagem. Se fosse uma série longa, talvez cansasse esta fórmula, mas quando ela acaba, acaba deixando a sensação de “quero mais”. Lá para o fim, os produtores tentaram dar um desfecho para a primeira temporada, com os habitantes da ponte correndo o risco de serem despejados, situação que dura uns dois ou três episódios, e deixa a história uma pouco mais séria. Aí Recruta mostra de que serve a sua influência no “mundo real” e consegue salvar a pátria. A narrativa se perde um pouco nessa parte na minha opinião, mas nada que chegue a danificar a temporada, pelo contrário, acho que seria estranho se acabasse sem algum tipo de desfecho desse tipo. E no final do último episódio, é mostrado rapidamente o que pode vir a rolar na próxima temporada de 2011.
One baixar? Encontrei os 13 episódios da série na Anime Central (link) por torrent. Lembrando que lá é preciso se cadastrar e seedar (ajudar a compartilhar os arquivos), pois se você apenas ficar baixando, sua conta acaba sendo bloqueada. Entretanto Arakawa lá está como Gold Torrent, ou seja, não consome raito (taxa de quando você baixou no site).
Bem pessoal, é isso. Eu gostei muito da série, pretendo ver a segunda temporada ano que vem e até mesmo vou fazer um DVD para guardar pra mim e assistir num futuro distante. Recomendo mesmo. Fica a dica para quem está sem nada para assistir ou procura algo curtinho que dê para ver num final de semana rapidamente. 😉
Alias nessa onda de mangás chegando aos montes no Brasil, bem que alguma editora (JBC ou Panini) poderia lançar a série por aqui. Colecionaria com a mais absoluta certeza.