Uma Família da Pesada, ou “Family Guy” se prefirir o original, você provavelmente conhece, mas já teve a oportunidade de dar uma olhada em The Cleveland Show? A animação estreou em 2009 nos EUA, teve uma primeira temporada com 21 episódios e já está garantida para sua segunda temporada, que deve estrear nos próximos meses nos EUA.
A crítica americana massacrou a série, mas isso eu só fiquei sabendo neste momento em que escrevi este post, pois fui fazer uma pequena pesquisa sobre a série. O que é estranho, pois eu achei ela engraçada na medida certa, não ficou “retardada” como Family Guy (não leve isso como uma crítica negativa a Family Guy) e nem política demais como American Dad, que também é outra série animada de MacFarlane, da qual pretendo escrever sobre a mesma em breve. Mas depois do continue irei explorar mais sobre asérie.
Alguns podem estranhar o fato de começar a falar de Cleveland Show por aqui, sem nunca ter feito qualquer análise sobre Family Guy no blog. Na verdade, estou mesmo para escrever uma matéria apenas sobre Family Guy, porém não estou em dia com os episódios, atualmente estou assistindo a sétima temporada (são oito temporada até o momento). Quero colocar ela em dia para conversar sobre a animação, que tem muitos altos e baixos. O mesmo raciocínio vale para American Dad, porém esta estou bem mais atrasado, continuo assistindo a terceira temporada (atualmente são cinco). Como Cleveland é a mais nova, tem menos episódios e por isso acabei terminando mais rapidamente, então começo a trilogia MacFarlane por ela.
Quem acompanha Family Guy, conhece o personagem Cleveland, já que o personagem foi criado dentro do universo de Family Guy, porém para a sua própria série, os roteiristas tiraram o personagem de onde se passa Family Guy e deram uma nova roupagem para ele, assim como novos personagens criados especialmente para sua própria série. Tudo isso, ainda conectando o enredo de ambas as séries animadas.
Na verdade Cleveland nunca foi um personagem que teve muita atenção em Family Guy, teve alguns episódios onde ela aparecia mais, outros ele sumia e no fim, era apenas um mero secundário. Nunca fez falta. Mas o personagem ficou muito mais hilário em sua própria série. A sua esposa mal-humorada e infiel (Loretta) de Family Guy saiu de cena, mais no final do primeiro ano, chega até mesmo a morrer. No primeiro episódio de The Cleveland Show, temos Cleveland se irritando com Peter por destruir mais uma vez a sua casa e ele cair pelado da banheiro no quintal (piada rotineira de Family Guy) e com isso ele resolve se mudar com seu filho Cleveland Jr, outro personagem que chegou a aparecer em Family Guy, mas em raras ocasiões e que na nova série, ganhou muito mais personalidade.
Então Cleveland e Cleveland Jr. se mudam de Quahog para Stoolbend, cidade onde o próprio nasceu. Cleveland se encontra com Donna, uma antiga namorada do colegial, que agora é mãe de dois filhos, Roberta e Rallo, uma versão Afro de Stewie com algumas distinções na personalidade (mas quase que serve com o mesmo propósito na série), Stewie é mais psicótico, enquanto Rallo é mais descolado, mas ambos agem como se fossem adultos, uma marca de MacFarlane para este tipo de personagem. O episódio piloto da animação tenta introduzir todos estes personagens, com personalidades melhoradas, os vizinhos e no final, Cleveland se casa novamente, só que agora com Donna, e assim a série animada passa a ter aquela característica de uma animação de família, como Simpsons, O Rei do Pedaço e novamente, Family Guy. Tudo novo, mas ao mesmo tempo, explicadinho como foi a transição do personagem divorciado que vivia em Quahog para uma nova vida após voltar a sua cidade natal.
Os primeiros episódios de The Cleveland Show realmente não são lá grande coisa, mas é complicado colocar uma série de animação escraxada no ar, com tantos personagens novos, sem explicar melhor sobre cada um deles. Por isso no começa, as coisas podem ser meio cansativas e quem está acostumado com as bizarrices de Family Guy, certamente vai estranhar a série de Cleveland. Mas com o tempo estes pequenos problemas somem, e tudo fica mais divertido e engraçado, até os personagens começam a interagir nas histórias de forma mais natural e engraçado.
Assim como Peter tem seus amigos de bebidas, Cleveland também precisa de amigos sem noção e malucos. Nesse ponto MacFarlane mostra um pouco mais de imaginação e criatividade, porque é difícil competir com Family Guy. Você já deve ter notado que não tem como falar de Cleveland Show sem ficar comparando a todo momento com a série de onde ela derivou. Cleveland conhece então seus vizinhos: Lester Krinklesac, um caipira folgado e realmente burro, Holt Rickter, um baixinho bombado que mora com a mãe e Tim, o urso. Rá! Tim é o máximo, personagem dublado pelo próprio MacFarlane. Da mesma forma que Brian, o cachorro de Peter, fala e age como uma pessoa em Family Guy, Tim tem um emprego, usa camisa e é casado com uma Ursa, chamada Arianna. Aparentemente Tim age como uma pessoa normal, mas é rotineiro na série, ver piadas onde Tim acaba deixando seus instintos selvagens falar mais alto e com isso, lembramos que ele é um urso. A série ainda tem alguns outros personagens secundários com suas manias e tipos, mas não vou elencar o nome deles por aqui, porque são muitos e não vou lembrar o nome de todos.
A narrativa de The Cleveland Show não é igual ao de Family Guy, diria que segue mais o padrão de American Dad. Em Family Guy, quase que a cada 2 à 3 minutos a história é interrompida por uma “Gag” (piada), seja num flashback ou uma cena de famosos ou uma cena nonsense. Esse formato foi o que levou Family Guy ao estrelato, apesar de que nos primeiros anos de show os produtores se perdiam um pouco na técnica (compare com os episódios mais recentes que você percebe isso). Em Cleveland Show ainda existe sim o recurso de Gag em flashes rápido, mas são bem menos frequente, e os roteiristas tentam ao máximo prender a história do episódio às piadas, como American Dad e Simpsons. Eu diria que Cleveland Show até lembra um pouco a fórmula dos Simpsons, onde o episódio começa com um assunto ou evento e que logo em seguida culmina na pauta da história. Claro que as piadas sem noção e escatológicas que todos os desenhos de MacFarlane possuem, também estão em Cleveland. Assim como a paródia de filmes e programas de TV de sucesso estão presente em boa quantidade nesta primeira temporada, o que torna algumas cenas realmente hilárias se você entender a referência.
Comentei lá no começo do post que a animação não foi muito bem na TV Americana, mas isso também é um pouco complexo e relativo. Ao contrário do Brasil, onde a mistura de raças não influencia a TV nacional, nas EUA ainda existe aquela tendência de programas feitos especialmente para a população Negra. Você já deve ter notado sitcoms (série familiáres) onde todos os protagonistas são negros. São programas com piadas próprias e um humor mais específico a essa público. Pode soar estranho, mas não sou eu que estou taxando isso, só estou dizendo que isso existe sim nos EUA. The Cleveland Show apresenta um pouco dessa tendência de programa feito para o público negro, ainda que apresente um elenco misto de raças, a cúpula central da série e até mesmo muitas das piadas do show, envolve os negros, afinal, Cleveland é negro. É uma questão cultural dos americanos essa divisão de programas de entretenimento, isso por exemplo não existe de forma tão distinta no Brasil e não estou necessariamente falando de preconceito, mas de gosto popular. Mas é difícil não deixar de pensar que as críticas negativas feitas nos EUA em torno da série não seja por causa dessa divisão da TV americana, o público que está acostumado com Family Guy lá, deve ter estranho mesmo uma série com o Cleveland como ponto central.
Bobeira a meu ver, pois a animação é bem humorada, tem aquele humor escraxado, tem os tipinhos bizarros, tem todo aquele humor politicamente incorreto que as séries animadas de Macfarlane tem, enfim, tem tudo aquilo que uma animação adulta deve ter. Como eu disse, nenhuma série nasce genial. A primeira temporada de Family Guy é horrível, mal estruturada e com péssimo roteiro, nem se compara com a animação mais atual. American Dad também sofre para engatilhar o humor na dose certa em sua primeira temporada, se você pega para assitir tudo desde o começo, é notável como o humor e os personagens ficaram muito mais engraçados a partir do segundo ano. Cleveland Show com 21 episódios mandou muito bem em muitos deles neste primeiro ano. Teve um ou outro sem sal, mas em contraponto, teve outros totalmente hilários.
Acredito que os fãs de animação adulta, como Family Guy e Simpsons, não vão ter qualquer birra com The Cleveland Show. Eu recomendo sim a série. Atualmente ela está sendo exibida pelo FX na TV por assinatura, mas ainda não topei com ela no canal, não sei se a exibição está sendo dublada ou legendada, nesse ponto eu recomendo MUITO que vocês assistam Cleveland no áudio original, a voz de Cleveland, toda fanhosa é muito engraçada. Também gostei da qualidade da animação, que está sendo exibida em alta definição e em Widescreen. Como não cheguei nos episódios atuais de Family Guy e American Dad, não sei se estas duas séries já estão no formato da TV moderna, mas Cleveland Show ficou muito bonito em alta-definição, assim como a atual temporada de Futurama e Simpsons, que já estão em tal formato. Para quem tem TVs full-HD, é um barato ver animações já nesse formato.
Fica a recomendação e daqui para frente, espero falar mais vezes de Cleveland Show focado em episódios individuais no Papo de Série. 😉
Para fechar Seth MacFarlene vem provando que não tem medo de criar novos projetos. Está com três séries animadas com a Fox, com sua popularidade crescendo a cada ano, enquanto Matt Groening vai envelhecendo e jutando poeira com Os Simpsons. Tudo bem que Groening conseguiu trazer Futurama de volta à vida, mas não seria legal ver Groening criando outras coisas? Se arriscando tanto quanto MacFarlane? Mas novamente, dou graças por Futurama ter voltado, pra mim é o desenho americano mais genial que existe, só é uma pena não ter o reconhecimento que os Simpsons tem. MacFarlene em contraponto também prova que consegue montar um time de ótimos roteiristas e chefiar três produções animadas ao mesmo tempo e ainda assim cada um tem sua própria personalidade. E pensar que tudo isso começou com Family Guy que chegou até mesmo a ser cancelada, até que todo mundo se tocasse que uma série animada assim, não pode ser descartada tão facilmente. Agora de Cleveland Show irá durar tanto quanto as outras séries de MacFarlane, só o tempo dirá. A Fox não anda acertando muito bem com animações, então acredito que enquanto nada de novo surgir, Cleveland continuará no ar, mesmo com as críticas americanas negativas.