Pra não se decepcionar, melhor é encarar Ranma ½ como algo descompromissado? [Vol. 10 e 11] [MdQ]
Pode parecer idiota a pergunta do título, mas é o que tenho pensado recentemente em relação a Ranma. Já foram 11 volumes e, tirando os iniciais em que a leitura é ainda rodeada da expectativa de ver “pra onde vai esse mangá”, os que se seguiram não causaram mudança alguma na história ou nos personagens. Como ler 5 ou 6 volumes de algo que já perdeu a “novidade” e que não nos apresenta nada realmente diferente? É aí que entra a indagação do título, e vou tentar explicar melhor como cheguei a isso depois do continue.
Quem acompanha os MdQs de Ranma ½ aqui no Portallos provavelmente percebeu que o do volume #10 ficou especialmente atrasado em relação a seu lançamento nas bancas, mas a explicação pra isso é bem simples: falta do que comentar. Depois de um nono volume que me causou mais impressões negativas do que positivas, fechar o #10 depois de 180 páginas de mesmisse só serviu pra me desanimar com o mangá.
Falo de “falta de novidades”, mas não é bem no sentido mais superficial da palavra, porque a Takahashi continua apresentando novos personagens, que sabe-se lá quando vão aparecer novamente, se é que vão aparecer, e as situações cômicas nunca foram repetidas até agora. Todas são baseadas em torno do núcleo básico “algo que instigue o ciúme de Akane e/ou Ranma”, mas não dá pra dizer que a autora não tem criatividade, pois todas são de fato únicas.
Quando me refiro a essa aparente mesmisse da qual a história sofre, estou querendo dizer num plano mais amplo. A rotina dos capítulos poderia ser considerada como dias sucessivos, e às vezes temos mini arcos que se passam em apenas uma tarde por exemplo. Todos os eventos criados pela autora são rápidos e de conclusão similar, sem haver uma gradual aproximação dos personagens principais mesmo quando deixados a sós ou quando a história se volta mais pra eles. Começamos a ler o próximo arco e vemos que está tudo absolutamente igual.
Não vemos aquele crescimento dos personagens que os shonen têm através de novos poderes e inimigos e que os shoujo têm através de tragédias e mudança nas relações entre personagens, então a sensação é a de que não saímos do lugar! Não tenho um histórico de acompanhar mangás de comédia, mas de uma forma ou de outra, sempre acabo achando que dava pra mudar várias coisas se a autora quisesse. Inu Yasha, também de Takahashi, sofre da narrativa lenta praticamente da mesma forma, mas a diferença é que nele as coisas vão se encaminhando, mesmo que num esquema de 80 páginas de “cotidiano” e histórias menos relevantes para 20 de desenrolar absurdamente rápido de acontecimentos.
As lutas também estão menos frequentes do que nos primeiros dois ou três volumes, em que Ranma acabava enfrentando alguns personagens até o final, sem que alguém interferisse no meio pra desviar o problema para outro fim, e eu gostava muito de ver os desenhos da Takahashi mostrando os movimentos dos personagens, em especial o estilo de luta de Ranma que é bem diferente do que normalmente vemos em mangás (talvez mais parecido com o do Goku criança em Dragon Ball).
Alguns podem se perguntar por que raios, então, continuo lendo esse mangá, mas novamente a resposta é bem simples: é engraçadíssimo. Muitas das piadas perderam aquela novidade que me fazia cair na risada, mas é inegável o bom humor e a leveza da narrativa que a autora consegue passar. Bem ou mal, o universo de personagens se completa numa trama bem complexa de desejos pessoais, o que sempre rende momentos cômicos. Algumas histórias são mesmo menos inspiradas (normalmente as que duram só um ou dois capítulos, como a última do volume 10), mas aí vai de questão de gosto.
Pessoalmente, gostei muito da primeira do volume 10 (acho as com ambientação na praia sempre mais legais, e essa em especial colocou um teor de urgência nas ações dos personagens) e da terceira do volume 11, aquela com os cogumelos que faziam as pessoas obedecerem. Hoje mesmo, depois de espirrar, lembrei na hora das condições do Ranma e comecei a rir, tipo, “putz, eu teria que abraçar alguém agora XD”. Foi divertida também a da técnica suprema do Happousai, mas talvez mais porque eu gosto das participações do velhinho do que pela história em si.
Dessa forma, me pergunto se, para apreciar Ranma ½ do “jeito certo”, não deveria ser eu a mudar minha forma de encará-lo. Devo abri-lo para ler esperando apenas me divertir e, quem sabe, gostar de algum avanço que a autora resolva colocar na vida de Ranma e Akane? As perspectivas são desanimadoras, na verdade, considerando que ainda temos 27 volumes pela frente… será que eles só ficarão juntos no final? E até quando o Ryoga continuará sendo o Pi-chan sem a Akane desconfiar? Não sei mesmo se a história aguenta se basear nas mesmas dúvidas por tanto tempo, mas isso só os próximo volumes podem dizer, não é verdade? Então até o próximo Mesa dos Quadrinhos!