Famílias fazem documentário de suas vidas! E nós? Morremos de rir!
Modern Family, ou Família Moderna, não é uma simples série de comédia, embora esse seja o seu foco de destaque. É um retrato familiar cheio de pessoas diferentes que, na convivência diária, mantêm o bom humor e a estrutura social que designamos por família, havendo inclusive divulgação de filosofias de vida.
A série produzida pela Fox que estreou em Setembro de 2009 no canal ABC (no Brasil exibida pela Fox) encontrou uma fórmula equilibrada de unificar comédia, filosofia e documentário em algo único. O resultado foi ótimo! Sem dúvida, uma série que surpreendeu muitos e satisfez milhares!
Julgo a série como uma revelação extremamente positiva. Difícil ignorar o clima confortável, atraente e descontraído que Modern Family transmite. A crítica americana não discorda da minha opinião, embora haja pequenos traços que os críticos fizeram questão de condenar e o único detalhe criticado que considerei realmente interessante foi a ausência de cenas de afeto entre Mitchell e Cameron. Falarei sobre isso mais adiante.
Não é difícil de gostar de Modern Family, até porque ela demonstra um humor bastante apropriado, sem exagero ou qualquer traço forte de “retardação”, quer dizer, sem parecer “retardado”. Séries de comédia que abusam do humor estão espalhadas por vários canais e poucas são boas!
Considero Modern Family um exemplo de série que envolve um humor “inteligente”, criativo e único. A série criada por Christopher Lloyd e Steven Levitan, sendo uma série diferente no formato, não se mantém presa apenas ao humor. Contrariamente a isso, ela quase em todos episódios introduz conclusões filosóficas que equilibram muito bem o conteúdo humorístico da série – a dose certa foi encontrada e o público, tal como a crítica, já reconheceu a qualidade (e não são só os vários prêmios que justificam essa afirmação.) A primeira série usuária desse padrão que surge na minha mente enlaçando o humor e um conteúdo filosófico com qualidade é How I Met Your Mother.
Não é novidade para quem já conhece a série que o protagonista é coletivo abrangendo famílias, declaradas modernas, que surpreendem com o grau de familiaridade e com seus comportamentos humanos. Reconheci rapidamente a aposta em dimensões humanas menos sombrias e malignas, menos pesadas, que são exploradas para manter o tipo de humor que, na base do estilo de comédia da série, se apoia na futilidade humana, nas suas manias e nos seus hábitos e costumes. Não considero isso como um elemento negativo – a série está muito bem do jeito que está.
Algumas vezes rio por identificar hábitos familiares semelhantes aos meus, outras vezes me deparo com atitudes hilariantes perante problemas sérios – os produtores mostram firmeza naquilo que fazem e partilham. Cada personagem tem uma personalidade e ela é muito bem definida, transformando as pessoas em imagens de um verdadeiro retrato (apesar disso, fique calmo porque não há uma previsibilidade destrutiva.)
O pilot da série apresenta três núcleos familiares com características bem distintas: a família Dunphy, a família Delgado-Pritchett e a família Pritchett-Tucker. Fora essas famílias, outras personagens relacionadas com as famílias centrais ou simplesmente soltas participam tanto continuamente quanto descontinuamente – como é o caso do Dylan, relaxado e impulsivo, típico adolescente que Haley supostamente namora. O momento em que todas as famílias que conhecemos revelam estar interligadas através da família de Jay Pritchett marca especialmente o primeiro episódio, deixando o bom ainda melhor. Partimos de família individuais para uma grande família com tradições, fraquezas, medos, sonhos e muito senso de oportunidade e de bom humor!
Família Dunphy: composta por um casal, Phil e Claire, e por seus três filhos Haley (a mais velha), Alex (a irmã do “meio”) e Luke (irmão casula). A dinâmica dessa família esteve perfeita na primeira temporada e chegou a surpreender! Cada membro possui determinadas prioridades e a interação entre eles é capaz de ser tão adversa que chega a ser cômica. Acho que o fato de a série estar em formato de documentário, transmitindo uma maior seriedade, torna as confusões e acontecimentos ainda mais engraçados.
Haley não larga o celular (texting all the time!) o que simboliza a figura adolescente e seus traços particulares. Alex é a mais inteligente como todos devem ter percebido e mesmo assim ela não consegue resolver seus problemas de incompatibilidade social na escola. Algum tempo mais tarde, ela conseguiu entrar em um grupo de amigas (episódio em que Alex foge da própria mãe) o que fez o comportamento dela ficar um pouco diferente do habitual, gostei disso mas nem tanto. Diria que a intervenção mais prestigiada de Alex provém da sua atitude sarcástica, irônica, implicante com os irmãos que não foram presenteados com muito perspicácia intelectual.
O irmão casula? Não o dispensaria do elenco. Esse age como o filho mais perdido, mais desatento e calmo. Luke é o mais “lento” de todos e quem já assistiu a série, entende o que estou querendo dizer. Ele demora para entender as coisas e raramente faz a interpretação correta. Reconheço que todos são engraçados, mas Phil talvez se destaque mais porque ele pensa ser o superman, apto a fazer qualquer coisa – a vida dele é uma aventura (limitada, embora ele não perceba). Contudo, diante de muitas atividades e objetivos, acaba por temer ou por errar terrivelmente – hilário quando ele rouba a bicicleta, por exemplo. Claire é perfeccionista de mais, mas na maioria das vezes ela descobre que a perfeição vem das várias assimetrias da vida – o retrato da família é um exemplo perfeito disso para quem já assistiu o último episódio da 1ª temporada! Espero ver mais momentos de qualidade desta família na próxima temporada que estreia no dia 22 de Setembro de 2010.
Família Delgado-Pritchett: Essa é a família central e admiro a sua estrutura extremamente diversificada. Jay é idoso, Gloria é jovem e Manny é só uma criança (filho do ex-marido de Gloria, Javier Delgado). Se acrescentássemos mais um bebê, as principais fases da vida estariam incluídas na família!
Inicialmente, acreditei que a série fosse estabelecer famílias individuais como base mas esse foi um erro tremendo – a família de Jay está relacionada com todas as outras e isso só melhora ainda mais a trama. Jay é o tipo de pessoa mais tradicional, mais rígida, bem ao contrário de Gloria. No entanto, a química dos dois é infalivelmente positiva! A relação de Jay com Manny ganha um carácter fundamental, mesmo sem considerarmos a ausência do pai biológico do garoto, Javier Delgado. Aliás, não valorizei tanto a participação de Javier. Ele mostrou ser sedutor, liberal ao extremo e esperto o suficiente, mas não ri tanto com a sua atuação. Jay reagia sempre com uma atitude mais cômica, cobrindo um pouco a atuação de Javier, na minha opinião – não acho isso ruim, mas também não realça muito o pai de Manny.
Gloria é uma personagem que representa praticamente os colombianos, ou pelo menos, essa é a impressão que ela passa: parece que os produtores quiseram fizer dela uma personagem-tipo. Acho a personagem um pouco forçada mas indispensável. Aquela falta de paciência, a honestidade e a forte personalidade criam situações inesquecíveis. Adoro a forma como ela fala! E por fim, Manny. A criança age como um adulto, muito responsável, demonstrando interesse pela cultura do próprio país, apoiando a mãe mas não deixa de viver a própria infância, ou melhor, o início da adolescência.
Família Pritchett-Tucker: Que grande jogada da produtora! É louvável e digno de comentário o fato de terem feito uma série que não só mostra um casal homossexual vivendo com os absurdos preconceitos mas que também explora um casal de homossexuais que adotou uma filha! Se há alguma série recente que tenha feito isso, perdoe a minha ignorância, mas não conheço. Quando lembro da entrada triunfante de Cam com a inesperada música do Rei Leão (Ciclo da Vida), morro de rir! Nem preciso comentar a batalha entre Mitchell e o pombo intruso.
A crítica americana desaprovou a falta de afeto entre Cam e Mitchell. Não há como discordar. Não sei se é de propósito, mas o afeto expressivo entre os dois é raro – não lembro de os ter visto beijar em nenhuma cena! Eles adotaram um bebê, moram juntos, têm uma relação ótima e nunca demonstram afeto expressivo ao toque. Isso fica estranho, mas perdoável depois que foi revelado que um episódio da segunda temporada estará dedicado a isso. Contudo, isso é um simples detalhe! Esse tipo de afeto não acontece, mas em nenhum momento isso compromete a qualidade da série.
Outro aspecto caracterizador dessa família é a tentativa de esconderem a própria relação. Conseguem chegar ao exagero e criar situações incomodas e, claro, hilariantes! Citando o primeiro episódio mesmo, a reação explosiva de Mitchell quando pensa ter sido insultado no avião ilustra perfeitamente a tensão que eles possuem relacionada com a possibilidade do preconceito. Não é fácil, nem culpo tanto eles por estarem sempre em alerta para lidarem com pessoas ignorantes. E por outro lado, o resultado dessa tensão é benéfica para o enriquecimento da série.
A Evolução da Série
A fórmula no início da primeira temporada estava quase certa, só precisava ajustar alguns elementos. Ademais, há determinadas propriedades que são temporais, surgindo apenas após alguns episódios se eles estiverem feitos na medida certa. À primeira vista, as personagens são pessoas normais narrando suas vidas, o que até soa um pouco cansativo, mas não se deixe levar por isso. Em poucos episódios assistidos, você já se sente membro da família.
O segundo episódio esteve claramente melhor do que o primeiro, mas ainda não estava ajustado. O roubo da bicicleta aprofundou mais a personalidade de Phil e não avançou muito mais a série. Demorou cerca de mais de um episódio para a série me conquistar por inteiro. Agora não resisto a um episódio sequer. Assim como a maioria das séries bem feitas (excetuando algumas séries como Smallville que teve uma queda significativa nas últimas temporadas), a qualidade é crescente ao longo da exibição.
Há uma genialidade na série inesquecível. Não apostam apenas na comédia, mas também na criatividade. No episódio em que Dylan ganha a confiança da família de Haley, tudo está tão calmo e em harmonia e até a música que ele canta para Haley começa com algo romântico e sem maldade… De repente, a letra da música lança ao ar o verso “Baby I want to do you, do you!”.
Não esqueço também do colapso no aeroporto: Haley se aproxima de um garoto de 14 anos e ainda critica Dylan! São momentos inesperados, acidentais que tornam tudo tão espontâneo e divertido. Outra cena que ficou marcada foi a fuga de Dylan que o levou a ficar preso na casa de Haley enquanto toda a família ia para o Hawaii.
Phil se faz de pai legal, moderno. Ele é praticamente um dicionário de vocabulário recente, incluindo expressões online! (ironia) O significado de WTF? Why The Face, óbvio! Morri de rir com a cena em que ele se mostra e declara ser um pai legal, nada velho, muito bem informado e entrosado. Ele entende as novas tecnologias, ao contrário de Claire, mas precisa rever alguns conhecimentos e expressões. Pura comédia!
O último episódio foi excelente. O retrato da família capta a essência de cada um deles e deixa gravado o início de, eu espero, muitas temporadas. Uma comédia bem sucedida que ainda pode ir bem mais além. Essa foi uma surpresa do ano de 2009 – obrigado Steven Levitan e todos envolvidos na produção e continuem mostrando mais essa grande família.
Enfim, Modern Family possui tudo que uma série de comédia deve possuir e um pouco mais, digamos extras. Explora dimensões humanas e filosóficas, apresenta uma série de pessoas e não pessoas de uma série. É ideal para quase todos os momentos e a 1ª temporada veio bem preenchida com 24 episódios de 20 minutos. No Brasil a série é exibida no canal Fox Brasil (TV por assinatura). Acredita, vale a pena ser assistida!
A Segunda Temporada está Perto!
Falta muito pouco para a estreia da 2ª temporada! É já no dia 22 de Setembro de 2010 (Quarta-feira). Espero muito bom humor nessa próxima temporada, mas não só. Adoraria ver as personagens sofrerem mudanças em suas vidas, alguns novos elementos introduzidos, assistir o “crescimento” que cada um deveria ter à princípio. Atenção que não estou dizendo que estou insatisfeito com as personagens até agora – isso seria um absurdo!
A Fox, juntamente com os criadores da série, acertou em cheio com Modern Family!