Vejam só como o tempo passa e as coisas mudam, lá atrás, em 2000. a editora Conrad apostava na inovação e trazia os primeiros mangás para o Brasil, digo os primeiros, porque a editora foi a primeira a dar o devido tratamento ao material, ainda que não fossem exatamente lançados no mesmo formato que no Japão (formato takobon), se pararmos para lembrar, outras editoras tentaram trazer histórias em quadrinhos lá da terra do sol nascente para cá muito antes das atuais, porém sem sucesso.
Excelentes obras como Akira, Lobo Solitário e Crying Freeman, chegaram a ser publicados no Brasil entre as décadas de 80 e 90, mas como a paixão do brasileiro por leitura não era (e ainda não é) muito grande, foram rapidamente canceladas.
Em 2000, eu achava que a supremacia era da Conrad, que não dormiu no ponto, passou na frente e trouxe títulos chamativos como Dragon Ball, Saint Seiya e One Pìece. Claro que não demorou muito e outras editoras vendo o potencial da idéia, correram atrás, como a JBC trazendo Yu Yu Hakusho, Sakura Card Captors e Rurouni Kenshin e etc.
A ascensão dos mangás juntamente com a chegada de outras editoras foi questão de tempo, infelizmente o que começou pequeno e barato, foi se tornando grande, popular e muito caro. Lembro da época em que os mangás da Conrad custavam 3,90, era meio tankobon mas era perfeito pra quem não tinha tanto dinheiro assim pra gastar com mangá na época.
O tempo passou e hoje a Conrad, pioneira na vinda dos mangás ao país, não é nem sombra do que foi no passado, problemas financeiros, mangás atrasados, perda de contratos, foram o início da derrocada da editora, passando infelizmente de herói a vilã, com isso, muitos títulos que eu, Deus e o mundo colecionavam foram para o espaço, Vagabond, One Piece, Fushigi Yuugi, Monster e outros mais, no meu caso, o golpe mais duro que recebi foi o cancelamento de Neon Genesis Evangelion.
Depois do continue falamos mais sobre isso.
Pouco antes da crise da Conrad, o mangá nacional já havia alcançado o japonês e estava sendo publicado a passos de formiga. Yoshiyuki Sadamoto (o criador) não foge a regra e assim como muitos autores, não tem pressa alguma em concluir o mangá, que é publicado lá no Japão desde 1994. Depois de 3 anos de hiato do mangá por aqui, só temos quatro volumes para serem lançados, se lembrarmos que esses volumes são meio tankobons, isso significa que o mangá só andou apenas 2 volumes em 3 anos, particularmente, um tanto frustrante para qualquer fã na minha opinião.
Embora no caso de Evangelion, acho que seja meio que uma jogada de marketing, com os recentes filmes sendo lançados e os diversos spin-offs que a série ganhou, estender o tempo de vida do mangá seria mesmo uma jogada e tanto, até porque, eles já prometeram dar um final definitivo e mais coerente para a quadrilogia nos cinemas, que até o momento contam com 2 filmes. Então, terminar o mangá a essa altura do campeonato, talvez estrague a surpresa ou crie um final alternativo (de novo). A verdade é que Yoshiyuki Sadamoto já embromou tanto com a história que talvez nem ele mesmo saiba mais o que fazer com ela.
O final da história contada nos filmes será o mesmo no mangá? Quem sabe, só o tempo irá dizer.
Mas enquanto não sabemos, a JBC, como vocês ja devem saber, repatriou o mangá de Evangelion e finalmente neste mês de setembro, no dia 28, vai trazer o mangá de volta começando de onde a Conrad parou, lançando o volume 21, indo até o volume 24. O formato será o mesmo, a intenção é trazer de volta aqueles que acompanhavam o mangá pela Conrad, além de atrair novos leitores, e é ai que começam os erros.
Acho difícil alguém que queira conhecer a obra, começar a colecionar do fim para o começo, o formato também não é atraente, acredito que o público que compra mangá hoje não é o mesmo que se acostumou a comprar mangás pela Conrad há 9 anos atrás, antes eles tinham 100 páginas, agora o padrão é 200. Outra questão é o preço, quem comprava pela Conrad como eu (ou pensa em começar agora), provavelmente também não vai gostar dele, R$ 7,90 num meio tankobon fica difícil, a antiga publicação custava R$ 6,90, um preço que eu já considerava um crime, agora são 100 páginas custando quase o mesmo preço de um mangá de 200 páginas, cobrar isso é um abuso, não vejo nem justificativa plausível para isso, é uma verdadeira faca no estômago de quem ficou esperando esses 3 anos para voltar acompanhar o mangá, uma pena mesmo. Preferia ver a coleção toda relançada em novo formato a ter de pagar tão caro num mangá sendo lançado pela metade.
Caso a volta do mangá seja satisfatória para a editora, quem sabe outras (se não a mesma) não trazem de volta mais obras canceladas pela Conrad, o grande problema é o formato para um relançamento, já que não é todo mundo que gosta de comprar meio tankobon, ainda mais quando acabamos pagando um preço abusivo pelo produto. Seria bem melhor relançar tudo de novo, do que colocar quem já começou a coleção contra parede, porque ou você paga esse preço injusto ou simplesmente fica sem completar sua coleção, eu assim como tantos outros que aprenderam a gostar da obra pelas mãos da Conrad, estava realmente feliz com a volta de Evangelion, mas aí entra em cena (infelizmente) aquele famoso ditado: “Quando a esmola é demais, o santo desconfia.”
Não desconfiei, deu nisso…
E você? Desconfiou desde o princípio?
Créditos da imagem que abre o post a usuária RinoaLemonmac, lá do devianart.
Observação (Pelo Editor Thiago): Toda essa polêmica que a JBC levantou seria simplesmente resolvida se a editora tivesse se explicado desde o começo como seria o formato, de que número iria lançar o mangá, e o mais importante e que até o momento ela ainda não se deu o trabalho de respondar: Independente do lançamento dos volumes continuados de onde a Conrad parou, é intenção da JBC relançar Evangelion novamente desde o começo, em formato original, após o término destes 4 volumes em formato ultrapassado? Isso a JBC já deveria ter respondido no momento em que fez o anúncio de como Evangelion será lançado no próximo dia 28 e não ficar esperando que todo seus leitores façam barulho e fiquem especulando a hipótese.
E agora fico com aquela preocupação, se a JBC resgatasse One Piece, não seria um absurdo de ela continuasse de onde a Conrad parou? A série continuaria aqui no Brasil mutilada, num preço exorbitante, e depois de 70 volumes já lançados, dificilmente iria atrair novos leitores, quem compra um mangá depois de tantos volumes lançados? Fiquei com medo agora. Editoras, resgatem sim o material morto pela Conrad, mas recomecem tudo novamente caceta!! Formato original, com o preço atual do mercado, e visando uma nova geração de leitores!
Eu tenho os 70 originais de One Piece da Conrad, mas de forma alguma, gostaria que eles continuassem. Os mangás no Brasil evoluiram muito, o formato de hoje em coleção como Bleach, Naruto, Hunter x Hunter, D.Gray-Man é infinitamente melhor do que o antigo da Conrad. Compro com gosto One Piece tudo de novo, mas não pago R$ 7,90 por meio-takobons mutilados pelo antigo sistema de publicação… os fãs de Evangelion deveriam pensar nisso também.