As quatro realidades alternativas do Homem-Aranha! Impressões de Spider-Man:Shattered Dimensions!

Num plano geral, Spider-Man: Shattered Dimensions é muito parecido com o conceito utilizado em dois games do passado da franquia, mais precisamente de 10 anos atrás, Spider-Man (2000) e Spider-Man 2: Enter Electro, para Playstation (o primeirão!). Não se lembra destes games? Não tem problema, eu também mal me lembrava.

Um dos problemas dos atuais games do Homem-Aranha é que até então todos eram extremamente parecidos, a história principal muda, claro, mas a forma de jogá-los, não. Deste a geração passada os games do aracnídeo da Marvel pertencia ao gênero sandbox, ou seja, o jogador era colocado numa réplica virtual de Nova York e deveria ir do ponto A para o ponto B, resolvendo missões e sub-missões pelo caminho. Claro que a cada game do gênero, os desenvolvedores tentavam refinar a jogabilidade, a já batida Nova York ficava cada vez mais detalhistas, mas missões extras aumentavam em número, o Aranha sempre ganhava novos comandos e combos para luta, os vilões principais iam ganhando batalha mais elaboradas, em alguns games sempre havia itens escondidos por toda a cidade que precisavam de muita exploração, enfim, era sim um jogo complexo, mas que depois de tantas versões e quase sempre ter a mesma jogabilidade, caiu na mesmísse e cansou. Pensando nisso, o novo game do Aranha basicamento jogou no lixo a Nova York virtual. Chega dos mesmos cenários e de deixar o jogador ir para onde quiser. Shattered Dimensions é um game de fases, assim como a versão de 200 e 2001 do Psone. Se você gostava da sensação de liberdade dos outros Spider-Mans, provavelmente ficará incomodado com as limitações de Shattered Dimensions.

Ahhh... Os velhos jogos do Aranha. Simplicidade e diversão garantida.

Na verdade, eu curtia muito a versão antiga do Homem-Aranha. Sim, os gráficos eram podres e limitadíssimos. Exista algumas áreas abertas, onde o personagem se balançava e os prédios iam aparecendo conforme fosse se aproximando. Era tosco mesmo. Mas as fases dentro dos prédios eram fabulosas, com o Aranha sempre andando pelo teto capturando bandidos sorrateiramente. Cito isso, porque um pouco deste elemento foi usado na versão Noir de Shattered Dimensions. Após o continue então, mais detalhes sobre o novo game e o que funciona e o que continua errado na franquia.


Sem liberdade, porém com mais diversão!

Apesar da total sensação de liberdade de ir e vir para onde quiser num mundo aberto, Shatterd Dimensions é muito divertido. Isso porque os desenvolvedores realmente se empenharam em criar fases únicas, com características próprias e bastantes situações únicas, seja envolvendo elementos da locação onde a fase passa ou envolvendo o vilão final da fase.

Cada fase tem um vilão famoso do universo do Homem-Aranha, ou seja, toda fase tem um chefão para se enfrentar ao fim. Mas você não encontra com ele ao fim, ele surge logo no começo e pequenas batalhas podem acontecer ao longo da fase. Isso acontece devido a trama, onde um artefato místico é acidentalmente quebrado durante uma luta entre o Aranha do universo Amazing e Mistério, outro clássico vilão, e os fragmentos desse artefato são espalhados por 4 dimensões. Cada fase tem como o objetivo o resgate de um artefato, que está sempre nas mãos de um vilão. Esse artefato tem poderes místicos e o vilão vai sofrendo algumas transformações ao longo da fase, por exemplo, Electro do universo Ultimate fica gigantesco ao final da fase, enquanto Kraven do universo Amazing adquire super velocidade. Isso torna as batalhas finais bem interessante e intensas. Com certeza este é um game que tem os melhores combates entre Aranha e seus arqui-inimigos. Nos games com liberdade 3D em Nova York, em geral as batalhas se resumiam em socar e desviar do vilão, até a barra de energia dele acabar, em Shattered Dimensions, as batalhas realmente são bem estruturadas e pensadas, deixando um clima cinematográfico para todas.

As fases em si também são divertidas e únicas. Por exemplo, em Amazing a primeira fase se passa numa selva, aquela que vimos nos primeiros vídeos revelados do game, então esta fase possui armadilhas, ruínas e pilares para o Aranha subir e grandes arenas de batalha, existe até mesmo um momento onde Kraven com uma sniper tenta derrubar o héroi. Você joga nesta parte com uma mira te seguindo a todo instante, e sempre que ela travar para atiriar, é preciso desviar. A segunda fase de Amazing já tem um ritmo totalmente diferente, é ainda melhor. Ela é baseado no vilão Homem-Areia, então, tem muita…hã… areia! Os inimigos desta fase são um pé, pois para que você cause algum dano neles, é preciso molha-los e aí depois partir par ao soco, a fase tem barris de água e torneiras espalhadas ao longo do cenário para poder fazer isso. A fase também possui muitos obstáculos, causado pelo próprio vilão do game, não pode cair no chão, que é feito de areia, então já sabe, né? Em algumas partes o Aranha precisa vencer um tornado, atravessando o mesmo, pulando em caixotes que estão voando em torno do grande vendaval, é realmente uma fase bem divertida, porém difícil. Totalmente diferente dos desafios do estágio de Kraven.

Isso porque citei apenas duas fases de Amazing, porém o game traz 4 dimensões do Aranha, conforme você muda de dimensão, os elementos dos estágios e até mesmo o próprio Aranha, ganham novos elementos e diferenças. É divertido então? Com certeza, muito mais do que o formato dos Aranhas sandbox, onde não havia margem para tanta diversidade. Infelizmente isso também não significa que o game não tenha pequenos problemas.

Comentando sobre esse sistema de fases, já deixo o alerta, achei que o game tem pouquíssimas fases, são apenas 16. Quatro para cada dimensão. Pouco, não concordam? Deveria ser um game com umas 24 fases no mínimo. No entanto, as fases são bem longas, estou levando aproximadamente em torno de 40 à 60 minutos apenas para terminar uma única fase. Claro que depois que você terminar ela uma vez, ao rejogá-la, provavelmente vá terminar em menor tempo. Estou jogando no Hard, então morro algumas vezes, mas isso é normal pelo nível de dificuldade. Mas para ser sincero, esperava algo bem mais difícil, depois que se pega o jeito com o chefe ou até mesmo os puzzles de cada fase, dá para ir sem problema, mesmo em Hard.

As Dimensões…

Noir!

Um dos maiores destaques do game, que chamou a atenção de inúmeros fãs do Aranha, a dimensão Noir não é tão assim original quanto pareceu durante a campanha de divulgação do game. Para ser sincero, a dimensão nada mais é do que uma versão mais pobre e inferior do sistema utilizado em Batman Arkham Asylum.

Nesta dimensão, o jogador basicamente fica nas sombras, derrubando os bandidos na escuridão (o game nomeia isso de “takedown”). A ação é mais calma, sem o frenesi da Amazing, por exemplo. O visual também é caprichado para a dimensão, com um tom mais cinza e amarelado, ressaltando as sombras e a escuridão do universo.

O maior problema com estes estágios escuros é que eles não apresentam muitas novidades. Claro que a luta contra os chefões das fases são ótimas, mas o percuso acaba pecando pela repetitividade. É bem diferente da complexidade que Batman Arkham trouxe ao gênero, com puzzles bem elaborados, bugigandas para solução de problemas, e até mesmo o impacto das batalhas eram mais envolventes. Em Noir todo o mecanismo foi simplificado ao máximo. Os cenários tem poucos locais com luzes, então é fácil capturar todo mundo sem ser notado. A IA do game também é bem fraquinha, os bandidos nem percebem que estão sendo capturados um a um, em Batman Arkham tem um sistema inverso, os bandidos percebem e passam a lhe procurar.

Claro que junto com o mix das outras dimensões, Noir causa uma diversidade ao game, mas jamais compraria um jogo solo desse aranha justamente pela morosidade do game. Parado demais, baixa complexidade e muito fácil e simples. Fica óbvio que os desenvolvedores quiseram beber um pouco do gameplay de Batman Arkham, mas não conseguiram a genialidade do rival da DC. Ficou pobre e fraco o gameplay.

2099!

Esta foi a minha dimensão favorita. Para dizer a verdade, desde que foi revelada, já tinha quase certeza de que isso acabaria acontecendo mesmo. O visual futurístico da dimensão 2099 é fabuloso, carros voadores, prédios recheados de luzes, outdoors planando no ar. Aqui não temos Peter Parker por trás da fantasia, mas Miguel O’Hara. Com certeza é uma dimensão que por si própria poderia tranquilamente sustentar um game solo do aranha.

Esta é a dimensão que tem as chamadas “freefalls”, uma espécie de queda livre, onde o Aranha mergulha atrás de um inimigo, desviando de obstáculos, enquanto tenta aumentar a velocidade da queda e pegar o vilão em pleno ar. É um gameplay cheio de adrenalida. Fiquei na vontade que o game tivesse mais partes assim, combinou totalmente com o Aranha, assim como trouxe algo mais com cara de original para o game como um todo.

A história do Miguel também é a que desperta maior curiosidade entre os fãs na minha opinião, afinal a versão Amazing e Ultimate já estamos cansados de saber como é, com o Peter e seus draminhas. A Noir é mais cheia de suspense, mas a trama é bem rala mesmo. 2099 possui uma complexidade e originalidade que uma trama futurística exige e portante é a mais divertida do game.

As batalhas em si, funcionam quase que idênticas aos universo Amazing e Ultimate, com a única diferença é que Miguel pode ativar um poder onde tudo ao seu redor passar a ficar em camera lenta. Dura poucos segundos, mas é ótimo para os momentos de intensidade das batalhas, com inimigos atirando e arremessando bombas no aranha. Na primeiria fase, morri algumas vezes devido a agressividade que os inimigos atacam todos ao mesmo tempo.

Um detalhe curioso é que tanto em 2099 como nos outros universos, sempre que ouver uma situação onde o Aranha está em uma altitude muito grande e o jogador cair com ele de tal atitude, o game permite uma manobra segurando os gatilhos do controle, onde o personagem se vira e joga suas teias para cima, evitando assim que você “caia da fase”. É uma boa idéia, já que , por exemplo, na versão 2099, o jogo se passa numa altitude imensa, onde nem é possível ver o chão. Evita que por bugs que existam no game, você caia para fora do cenário sem querer. Se cair, você volta com facilidade, ao invés de tentar ficar subindo com a teia.

Amazing e Ultimate!

A versão Amazing não tinha como deixar de fora do jogo, mas quando foi anunciado a versão Ultimate, a única a ser revelada, já havia digo por aqui a minha decepção para com esta dimensão, devido a semelhanças que a mesma possui com o universo original do Aranha e também porque já jogamos uma porrade de vezes com o aranha e seu uniforme de simbiose, não trazendo assim qualquer novidade ao game. E eu estava certo quanto a isso.

Amazing e Ultimate são praticamente idênticas. A diferença é que na Ultimate, o Aranha pode ativar um poder onde o simbiose enlouquece e ficar ultra forte, derrotando inimigos com maior facilidade. Porém, assim como a habilidade de 2099, ela dura apenas alguns segundos. Tirando isso, as fases são bem parecidas com o universo Amazing.

Não que estas fases sejam ruins, pois não são, mas se a proposta do game era basicamente trazer 4 games distintos em uma única história, havia alternativas bem melhores do que o universo Ultimate, que nada mais é do que uma versão modernizada da Amazing, com poucas distinções.

Aqui as fases seguem um sistema mais clássico, onde o jogador avança, resolve alguns puzzles extremamente simples, derrota um apunhado de inimigos, e até chegar aos confrontos com os chefes. Não há qualquer novidade como o freefall em 2099 ou os “takedowns” de Noir. Volto a dizer, mais uma vez, que é um sistema mais divertido que os aranhas sandbox, mas que não faria mal um pouco de refinamento e originalidade.

Alguns probleminhas…

Existem tantos games do Aranha que é tão difícil imaginar que os estúdios que cuidam do game continuem errando e marcando bobeira em problemas simples, como o sistema de cameras. Tente colar o aranha na parede e andar com ele. É praticamente impossível, especialmente na versão Noir, onde deveria ser extremamente útil e fácil tal recurso. A camera simplesmente fica maluca, o jogador acaba girando o aranha em seu próprio eixo, mas não sai com o personagem do lugar, devido a camera e o analógico não chegam num acordo de onde eu quero ir. É simplesmnete torturante.

Outra coisa que não gostei muito foram os challenges, que deveriam aumentar a durabilidade do game, mas basicamente 80% dos challenges de cada fase são completados logo de cara, terminando a fase pela primeira vez. E o jogador precisa disso, pois os challenges  abrem os combos e golpes novos que o Aranha precisa comprar, então você já joga pensando em terminar os challenges, que em geral envolvem derrutar X bandidos ou derrotar eles de determinada maneira, ou conseguir fazer algo no ar, ou destruir ou atacar alguma coisa na hora do chefão. Durante as fases, você vai adquirindo pontos que são usados para comprar extras do game, como os golpes e uniformes extras. Mas no geral, você acaba executando tudo isso durante a primeira jogada, basicamente destruindo todo o replay do game.

Uma coisa que eu curtia muito no Homem-Aranha do primeiro Playstation era ficar procurando por capas de HQs do personagem durante as fases. No final, o jogador tinha uma galeria recheada de informações e capas dos momentos mais clássicos do héroi. Isso poderia muito bem ter sido aplicado neste game, já que ele possui uma galeria de informações de personagens e até mesmo uma galeria de troféus (como aquele de Smash Bros da Nintendo). Poderia ter sido trabalhado melhor isso. As fases possuem 8 aranhas de ouro escondidas ao longo de cada uma, mas elas pra nada servem a não ser  como um challenge obrigatório para cada fase do game. E nem são tão difíceis assim de serem encontradas, já que as fases não tem multiplos caminhos, basta ficar com o sensor aranha ligado que é possível enxegar elas até mesmo através das paredes. Mole, mole. Então, uma pena mesmo, um sistema de caça a HQs durante estas fases, seria genial.

Finalizando…

Spider-Man: Shattered Dimensions é uma ótima refrescada numa franquia que já estava no marasmo desde a geração passada. O jogo consegue sim trazer um pouco de originalidade e criatividade ao universo e games do Aranha, a história é divertida, as fases bem estruturadas e únicas.

A idéia de criar um game baseado nas múltiplas dimensões do universo de um mesmo personagem foi realmente uma boa. Isso impede que o game fique repetitido, mesmo que o jogador possa escolher por qual dimensão quer jogar a cada 4 fases vencidas. O clima é sempre de bom humor, dada a personalidade do herói da Marvel, as batalhas contra os clássicos inimigos ocorrendo ao longo de todo um único estágio também foi uma jogada inteligente para não deixar a fase repetitiva, dando diversidade as situações de cada uma.

O jogo infelizmente só pega mesmo em sua durabilidade. Curto demais, com um replay fácil de ser conquistado e alguns bugues bobos, como a camera maluca quando o Aranha está grudado numa parece.

Quanto aos controles, eles respodem muito bem, afinal, depois de tantos anos e tantos games com o personagem, seria estranho ver qualquer estúdio fracassar nesse requisito. Muitos combos diferentes, a jogada de teia funciona como tem que funcionar, o recurso de ser resgatado semi-automaticamente de uma queda, um game fácil de assimilar e de controlar.

Se recomendo? Com certeza, ainda mais se você é fã do personagem e tem o hábito de jogar todos seus games. A única coisa que não recomendo é a compra mesmo. Se possível dê uma alugada, pois é um game que você fecha sem sombra de dúvida num final de semana, e como originais aqui no Brasil são várias facadas nas costas, o melhor é realmente alugar ou pegar emprestado com algum amigo que tenha o game. Mas se dinheiro não é problema para você, compre e se divirta e depois passe o game pra frente, como usado e recupere parte do investimento. Para coleção, realmente não acho que valha a pena, mas esta é a minha opinião. Vai de cada um é claro.

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