Portallos Entrevista: Pato Fu! Eles falaram das modinhas, da música brasileira e da independência!

Eles já foram considerados uma das 10 melhores bandas do mundo, ao lado do Radiohead e U2! Têm fama de gostar de experimentar e seu profissionalismo e sincronia com tudo o que há de mais novo em equipamentos, espanta quem assiste a um show deles.

Recentemente lançaram um disco tão inusitado quanto curioso e “fofo”: Música de Brinquedo – gravado com instrumentos de brinquedo (é claro) e contando com a participação dos filhos (fazendo backing vocals memoráveis!). Falei do disco aqui e, como não podia deixar de ser, corri atrás da banda para falar mais com a gente. O guitarrista John Ulhoa (também produtor, arranjador etc.) nos cedeu seu tempo e respondeu a algumas perguntas.

Assim, vamos poder conferir a opinião do artista sobre o atual cenário da música brasileira, como é ser um artista independente, os efeitos da fama, qual o caminho para quem quer viver de música e muito mais!

Portallos: Sem dúvida o álbum Música de Brinquedo é um álbum que atrai público e imprensa pela engenhosidade e inovação. Eu, particulamente, acho que a inclusão das vozes das crianças – do jeito que está feito (desafinado ou não e expressivo, como crianças devem soar), foi a melhor coisa do disco! Contudo, não fica o receio de as pessoas escutarem apenas pela curiosiade? De não ser um disco que será escutado por muito tempo?

PF: Bom, a chance de alguém ter sequer a curiosidade de ouvir algum disco sempre é grande. Se este despertar isso, já é um passo adiante. De todo modo, acho que não, esse não será um disco de vida curta, muito pelo contrário. Acho que vai além do interesse que a própria banda pode despertar normalmente, ele pode acabar virando um presente clássico para pais e filhos por muito tempo…

Portallos: Pato Fu não é exatamente uma banda de Rock tradicional – tem um estilo próprio que a gente consegue identifcar facilmente. Fazer um álbum infantil (mesmo que não tenha sido a proposta inicial, por ventura), sem ser algo “extra” da banda, como mais um trabalho da discografia, pode confundir um pouco o público? Já que ao vivo, continuam as apresentações “normais”?

PF: Ao vivo estamos fazendo os dois shows, depende do lugar. A gente considera esse disco como um “projeto especial”, mas ao mesmo tempo não achamos que deve ser colocado ali como algo menor. Pra fazer ele direito temos que nos dedicar muito, e deixá-lo pela metade, relegado à insignificância de um “baixe aqui essas versões que fizemos” seria um pecado…

Portallos: Banda independente é uma banda mais feliz? Há menos pressão, mais liberdade, pelo que o senso comum sabe, mas, não dá mais trabalho? Se preocupar com divulgação, alcance, enfim – o que acha dessa diferença na carreira de vocês?

PF: Não é questão de ser independente. Eu assinaria com uma gravadora pelos moldes antigos, se aquilo ainda existisse, mesmo porque sempre tivemos liberdade criativa. Gravadora era um vespeiro que podia ser bom ou não, dependendo de como a banda lidava com aquilo. Eles terem verba pra produzir, fazer clipes, divulgar, era uma coisa boa. A “banda feliz” é aquela que faz o que quer e é bem sucedida no que faz, seja independente ou não.

Portallos: Como você enxerga o cenário da música atual, como produtor de um álbum bastante inovador, como esse? Me refiro ao que chamam de “modinhas” hoje, das bandas coloridas, da composições mais “vazias”… Você acha que o público jovem mudou muito? Ou que foram as bandas que mudaram a motivação para tocarem?

PF: Acho que essas modinhas sempre existiram, a diferença é justamente o encolhimento do mainstream, pela fraqueza das gravadoras e a pulverização da informação na internet. O que resta pra aparecer como sucesso de massa são só as coisas de segmento muito específico, “aposta certa”. Então talvez as “bandas coloridas” como você falou incomodem mais que o Menudo incomodava, porque eles ficavam ali do lado fazendo o sucesso deles, paralelamente a muitas outras coisas. As outras coisas também estão por aí hoje em dia, mas perderam espaço na grande mídia. Coisas muito diferente sempre tiveram dificuldade pra se mostrar. Hoje em dia se mostram na web, mas é mais difícil dar o pulo para as TVs e rádios.

Portallos: Qual caminho para poder viver de música? Atualmente não há uma presença tão grande de gravadoras e a maioria do rendimento é por conta dos shows, pelo que me parece. Como uma banda pode deixar de ser mais uma banda – o investimento na música tem que ser igual ao marketing, a assessoria de imprensa, ao de boas fotos, enfim.

PF: Todo esse movimento da música me direção à web fez a vida ficar mais divertida pras bandas novas, mas ao mesmo tempo tornou a profissionalização muito mais difícil. Antigamente o “gol” era assinar um contrato com as gravadoras. Podia ser bom ou ruim, claro, mas era uma “carreira” que se anunciava. Acho que hoje em dia o “gol” é ter muitos views no youtube, ou tocar nos festivais independentes. Que são coisas legais, ajudam a divulgar, mas não “dão camisa”, não são suficiente pros músicos largarem seus empregos. Então, pra uma banda se fazer notar acho que é importante ter um show muito bom, ter videos muito bons, pra pegar essa janelinha que ainda existe e tentar criar um público grande o suficiente pra se sustentar.

Portallos: O Pato Fu é uma banda bem entrosada com a tecnologia – já fui a um show em que vi Vsts, Samples, tudo isso misturado no palco, sem preconceito do que seria “boa música”. Você se considera um explorador nesse aspecto ou opta pelo formato por conta da facildiade de transporte, manuseio, custo, etc?

PF: Opto pelo que é melhor pra música. Se tiver um instrumento de verdade, eu uso. Se o plugin é bom o suficiente, uso também. No fim, acabo sendo um cara que usa muito menos hardware que a maioria dos produtores, eu realmente gosto dos plugins e não tenho fetiche nenhum com amplificadores valvulados, equipamento vintage, essas coisas… Mas respeito os músicos que gravo, se o cara fica feliz com um amp gigante de guitarra, boto lá o amp, um guitarrista feliz toca melhor.

Portallos: Em geral, o artista se deixa levar muito quando atinge um certo sucesso? Me refiro a quando o Pato Fu foi apontada entre as grandes bandas mundias, emplacando mais singles em rádios, televisão, etc. Isso realmente pode prejudicar até mesmo um músico de talento, em detrimento da fama, somente?

PF: Pode acontecer qualquer coisa. Tem artistas que melhoram com o tempo, outros não. A gente só tenta manter a identidade pessoal, enquanto vai evoluindo artisticamente.

Portallos: Muito obrigado por aceitar falar conosco. É um grande prazer, de verdade. Nesse meu começo de carreira, por conta de um livro que estou escrevendo, entrevistei muitos artistas, os quais tive orgulho de ter conhecido pessoalmente. Infelizmente, só nos falamos por email, mas, a atenção também é muito importante e acredito que nosso público va ficar muito feliz também!

PF: Valeu, abraço!!!

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