Todo ser humano que esteve pelo menos de passagem pelo planeta Terra nos últimos 20 anos conhece Os Simpsons, o seriado de animação que é transmitido pela FOX e figura como recordista em tempo no ar e participações especiais de famosos nos episódios, isso está inclusive no Guinness Book, seja lá qual for a importância disso. O grande mérito dessa série é, ter conseguido se manter atualizada mesmo com as drásticas mudanças que ocorrem cada vez mais rápidas em nossa sociedade. Sempre com muita criatividade, com um bom humor característico e críticas pertinentes. A série conquistou e vem conquistando legiões de fãs ao longo desses anos de sucesso.
O seriado já começa muito bem pela abertura. Eu sempre fico curioso para saber o que Bart vai escrever no quadro da escola e, principalmente, o que vai acontecer quando a família chegar ao sofá para se reunir em frente a TV, funciona como uma espécie de bônus para os telespectadores. Recentemente uma dessas aberturas virou polêmica por mostrar um final com personagens de características orientais trabalhando em condições precárias em uma fábrica de artigos da série, mostrando exploração de trabalho infantil e maus tratos a animais.
Essa nova abertura tem mais modificações que o normal e foi criada por Banksy, um grafiteiro artista plástico inglês que eu não nunca tinha ouvido falar até então. Confira o vídeo abaixo e tire suas próprias conclusões. Logo mais irei expor minhas ideias sobre este vídeo e outros casos absurdos que tem ocorrido nos desenhos animados.
Eu sempre gostei de desenhos animados, desde criança até hoje. Os Simpsons eu tenho assistido com menos frequência, até porque tenho outras séries como prioridade e não tenho tempo para assistir todas como gostaria. E o que eu vejo como papel principal dos desenhos é entreter, divertir o telespectador. Mas não pode ser apenas isso, deve também passar alguma mensagem bacana ou levantar algum ponto interessante de discussão. Os bonequinhos amarelos de quatro dedos sempre fizeram isso muito bem, só que infelizmente as pessoas ainda se mantêm fechadas para debater certos assuntos abertamente. E isso eu não entendo o porquê, sinceramente.
Muitos de vocês devem ser do tempo das antigas lojinhas de 1,99. Pra quem não conheceu, os produtos que eram vendidos nessas lojas eram da China, Taiwan ou de outro país asiático, em sua maioria. Era tudo de qualidade inferior mas o precinho em conta era o grande atrativo. Parece que eu tô enrolando? Mas o porquê desses preços tão baixos é que pouca gente comenta. Não é segredo nenhum que muitos países, não só os asiáticos, submetem os trabalhadores a longas jornadas de trabalho e pagam muito mal ou quase nada. E ainda existe a exploração da mão-de-obra infantil, que embora muitos achem repugnante tocar nesse assunto.
Esse tipo de coisa é triste, sim concordo, mas se elas existem, e nós não queremos que continuem existindo, então porque não debatermos o assunto abertamente? Fechar os olhos e virar a cara para a realidade vai fazer com que o problema desapareça como mágica? Nesse caso dos países asiáticos eu acredito que a polêmica seja mais política, até porque os Tigres Asiáticos nunca foram muito amiguinhos do Tio Sam. Imagine só uma cena dessa, produzida por americanos, sendo transmitida na Coreia, ou pior, na China.
Quem se lembra da polêmica que gerou quando foi exibido um episódio especial dos Simpsons no Rio de Janeiro? O episódio mostrava a exploração excessiva da nudez nos canais de TV, a violência urbana, crianças mendigando e mais alguns problemas sociais que estamos cansados de ver por aqui. Muita gente criticou e achou feio um programa de TV mostrar o nosso querido país daquela forma. Mas espera aí. Quantas pessoas morrem por dia vítima de bala perdida aqui no Brasil? E as mulheres seminuas se esfregando nas câmeras no domingo a tarde? E pessoas que morrem de fome? Não existem crianças pedindo esmola nas ruas? Ah! Shhh! Mas tem que esconder isso tudo, né? Afinal nos vivemos em um país turístico, temos a obrigação que receber os gringos e suas doenças novas aqui todo ano durante o carnaval. Sempre com um sorriso na cara e implorando para que voltem com novas doenças e bactérias cada vez mais fortes. É esse conformismo todo e o pensamento de que os estrangeiros são superiores a nós que fazem com que até um troglodita americano cheio de esteroides sai por aí falando o que bem quiser de nosso país. Ou talvez seja apenas aquela conversa de irmão, todo mundo sabe os defeitos mas só quem pode apontar sou eu. Só nós brasileiros podemos criticar nosso país então e tudo o que disserem de nós é absurdo. É assim que funciona?
Algo que me incomodou muito certa época foi quando vi algumas pessoas comentando sobre racismos nos desenhos animados. Isso foi logo depois do lançamento de “A Princesa e o Sapo”, o primeiro filme da Disney com uma princesa negra como mocinha da história. O que nos faz perguntar: porque demorou tanto para ter uma protagonista negra na Disney?
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Algumas companhias do ramo da animação andam tão obcecadas em evitar qualquer comprometimento que preferem esconder as características de alguns personagens. A emissora americana 4kids é exemplo disso, tanto que deu repaginada no visual da Jynx (Pokémon), alterando discretamente o seu tom de pele, saca só:
Ainda nos Estados Unidos, a mesma 4kids, editou algumas cenas de Dragon Ball Kai para que não aparecesse sangue na tela, mas a questão mais polêmica foi a mudança da cor da pele de um dos personagens da série, conhecido como Senhor Popo. Veja abaixo a sútil mudança de cor, do preto para um azul-mamãe-me-pintaram-no-paint:
Primeira coisa que me vem a mente é, a decepção que deve sofrer os criadores dos desenhos ao verem suas obras modificadas tão grosseiramente e de maneira injustificável. Vamos ser sinceros. Todo mundo sabe que as pessoas negras possuem certas características, não é verdade? Lábios grossos, nariz mais largo e tal. Assim como os asiáticos tem seus cabelos ralos, olhos puxadinhos são baixinhos e tudo o mais. Claro que isso não é lei. A natureza se encarrega de brincar com nossos corpos, e com isso temos as mais variadas combinações. Essa é a graça do ser humano, as variações físicas.
Então, qual é a justificativa de pegar um desenho em que tem um personagem que representa uma raça, sem mal nenhum, sem dizer que ela é melhor nem pior que qualquer outra, e descaracterizar completamente o personagem? Se ele é um negro com lábios grossos, porque não deixar que seja? Ah as crianças não podem saber que existem pessoas assim? Ué, existem pessoas azuis andando por aí? E porque quando temos uma princesa branca, loira e de olhos claros nos desenhos ninguém pinta essa patricinha de verde?
Bom, porém o que mais me chocou, quanto a censura de suposto racismo nos desenhos, foram os casos da dupla Tom & Jerry. Desta vez foi na Inglaterra. Quem assistia ao desenho deve se lembrar de que na havia uma mulher que era dona da casa onde Tom morava e aconteciam as perseguições. Essa mulher não aparecia muito e também nunca foi mostrado o rosto dela. Mas dá para perceber que é uma mulher gorda e, devido ao pouco de pele que fica amostra, que é uma mulher negra. Pois, essa personagem foi substituída no programa, por uma mulher branca e magra, além disso a dublagem foi alterada para uma voz mais delicada. No vídeo abaixo ela aparece logo ao 30 segundos e pela dublagem dá para perceber que se trata de uma voz com gírias características dos negros americanos que vemos nos filmes e seriados.
Além disso, o desenho Tom & Jerry ainda enfrentou problemas em alguns países por conta de um episódio em que Jerry se disfarçava de canibal pintando o corpo todo de preto para enganar Tom. Mas o engraçado é que ninguém reclama quando ele pinta o corpo de branco e finge ser um fantasma. Houve cortes também em algumas cenas em que aconteciam alguma explosão e os personagens ficavam com o rosto preto (o que seria carbonizado) e os lábios bem vermelhos. Note que em 3:40 do vídeo (quanto Tom está com a cabeça no forno) há uma explosão e a cena é cortada repentinamente.
Eu fico me perguntando qual seria o motivo para trocar a personagem que faz o papel da dona de Tom. A Dona Bella nas Meninas Super Poderosas também nunca apareceu e nem por isso foi trocada. A professora do Charlie Brown em Snoopy igualmente. Se o problema fosse apenas a dublagem (não defendendo a troca) porque trocar a personagem então? O pior de tudo isso é que as pessoas que comandam essa grande indústria parecem esquecer que o público deles é um monte de criancinhas. Quando eu assistia a esses desenhos não via maldade em nada disso. Pouco me importava a cor da pele de fulano ou de ciclano. Pouco me importava se quando explodia tudo Tom ficava com a cara preta. O que eu gostava mesmo era a diversão e as horas de riso que o desenho me proporcionava. E nem me tornei uma pessoa racista e preconceitusa por ter assistido a esses desenhos, creio que ninguém se tornou.
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Então, vamos pensar um pouco sobre a nossa existência, e usar um pouco da sabedoria que temos para refletir. Refletir se vale a pena viver assim, odiando as diferenças dos outros. Vamos nos respeitar um pouquinho para variar. Claro que eu não estou sonhado com um mundo perfeito de paz e a amor, afinal, os problemas aparecem. Mas vamos pensar sobre o propósito dos desenhos animados: divertir e nos fazer esquecer um pouquinho os problemas. Vamos ser um pouquinho mais franco também, e deixar esse pensamento antigo de lado com medo de tocar em certos assuntos. Por conta disso tudo tenho gostado bastante de desenhos como Family Guy, sempre trazendo muitas críticas e muito sarcasmo em seus episódios, mesmo sendo criticado duramente por isso.
Será que alguma criança está ligando para a cor da pele dos personagens? Ou pior seria possível uma criança ter esse tipo de preconceito tão abominável? É tão importante assim parecer correto para os outros? É melhor excluir e descaracterizar uma raça que poderia estar sendo representada? Parece que as pessoas vivem com tanto medo de serem racistas ou preconceituosas que acabam sendo com todo esse excesso de cuidado. Algo que aprendi em minha vida e procuro levar sempre comigo é, ver o mundo com os olhos de uma criança, não levar a vida tão a sério e rir um pouco de nós mesmos, ou até das nossas próprias diferenças. Tudo isso só me fez lembrar uma frase: “Dancem, macacos, dancem!”.