É difícil pra mim escrever um Mesa de Quadrinhos de mangá atualmente, me acostumei tanto com o Conversa de Maná, onde esmiúço apenas um capítulo semanal, que quando pego um volume inteiro de qualquer mangá, fico pensando em uma lista gigantesca de coisas para escrever. E não dá pra comentar tudo, tenho que podar e me focar apenas no principal. Mas estou treinando, espero que meu ritmo com os MdQs aumentem nos próximos meses.
Hoje trago para os leitores do blog, um mangá estreando no rodízio do site, Rosario + Vampire, lançado alguns meses atrás pela JBC. Atualmente nas bancas está sendo vendido o terceiro volume, mas a JBC é sacana comigo e este mangá em específico não chega em Jacareí-SP, e novamente expresso meio ódio por essa distribuição setorial que existe no Brasil. Sendo assim, até o momento deste post, tenho apenas os dois primeiros volumes. O terceiro vou adquirir só no próximo mês, pois aí compra ele e o quarto pela internet.
Rosario + Vampire é um mangá do selo Jump, a famosa publicação japonesa que todo mundo sabe de sua existência. O autor, homem (porque sempre me confundo com nomes japoneses), é Akihisa Ikeda. A série foi publicada no Japão entre os anos de 2004 à 2007. Possui 10 volumes. Atualmente existe uma sequencia no Japão, ainda não finalizada, chamada Rosario + Vampire: Season II, e até o momento possui 7 volumes, entretanto, a JBC ainda não se pronunicou se irá lançar a sequencia tão logo acabar a primeira série, mas é quase certo que ela seja lançado em algum momento futuro após a conclusão dos 10 volumes originais.
Mais detalhes sobre os volumes nacionais e o estilo narrativo do mangá e os comentários sobre os dois volumes iniciais, após o continue!
Mais páginas por capítulo = Menos capítulos por volume…
Estamos atualmente acompanhando no Brasil uma enorme expansão de mangás por aqui e de todos os títulos que acompanho atualmente nenhum é no formato que Rosario + Vampire, e isso me causou uma tremenda estranheza inicial. Antes é preciso entender que não existe apenas uma Shonen Jump no Japão, existem várias Jumps, de vários formatos e periodicidade. A mais famosa é a Jump semanal, casa de mangás como Naruto, One Piece, Bleach, Katekyo Hitman Reborn e etc. Porém existe também uma Jump que é mensal, e mangás mensais tendem a ter mais páginas por capítulo. Eu sei que num ponto futuro, D.Gray-Man da Katsura Hoshino passou de semanal para mensal, mas esse momento ainda não chegou nos volumes lançados pela Panini. E Rosario + Vampire segue este formato mensal desde que foi criado em 2004. Por conta disso, cada volume encadernado possui apenas 4 capítulos.
Parece pouco e na verdade se você pensar em termos de história, realmente é pouco. Cada capítulo fechado, parece um episódio de um animê. Tem um começo, meio e fim, mas de forma mais lenta e desgastante, enquanto um mangaká que escreve capítulos semanais, não tem o luxo de tantas páginas, ele acaba se virando com o que tem, e a história fica mais dinânima e ágil. Este é alias um dos motivos pelo qual esperei ter os dois primeiros volumes em mão para comentar, pois há mais para se poder avaliar.
Introduzindo um universo de Dia das Bruxas!
Para quem não conhece nada sobre a história, farei um breve resumo. O protagonista da série é Tsukune Aono, um ser humano normal. Um zero à esquerda numa definição básica. O mangá começa com ele chegando nessa Academia sinistra, que parece ter saido de um daqueles filmes de terror bem antigo. É a única escola que o aceitou, já que ele bombou no vestibular de tudo quanto é lugar (no Japão tem vestibular para cada nível de ensino escolar).
Mas na verdade trata-se de uma Academia de Monstros (Yokai no original), um lugar sobrenatural, isolada do mundo dos humanos, onde todo tipo possível de criatura do mundo das trevas estuda o comportamento humano e suas atividades do dia a dia para poder se infiltrar no mundo dos humanos. Isso explica porque não vemos vampiros e lobisomens andando por aí. Todos possuem habilidades que camuflam sua real aparencia, e para Aono, são todos humanos, até ele se tocar exatamente que ele não podia ter caído num lugar mais bizarro. O autor também tem uma certa preocupação em explicar, de forma cômica, como é que Aono foi parar ali, já que não deveria ser algo que qualquer humano pudesse se matricular, apesar de boba a explicação, este é meio que o tom do mangá e funciona de forma engraçada.
Mas o que é um mangá escolar, sem um romancecinho? Aono encontra no primeiro capítulo do mangá a vampira Moka Akashiya, essa que aparece no dois quadro acima. Uma criatura agradável e simpática, que fica amiga do Aono logo de cara, mas ela é uma vampira, e não resiste de vez em quando em dar umas mordidas no pescoço do personagem. A piada funciona algumas vezes. Moka tem um poder oculto na verdade, pois no universo da série, os Vampiros são os seres mais terríveis de todo o bestiário de monstros, mas Moka não parece ser assim. Na verdade ela possiu um Rosario, e daí o nome do mangá, onde seu poder e a Moka mais sanguinária ficam selados. Sim, ela tem dupla personalidade, a Moka do Rosario conversa em algumas partes com a Moka inocente. Por algum motivo ainda não explicado, não se sabe a origem deste Rosario, e nem o fato de que apenas Aono consegue tirar ele do pescoço de Moka e com isso despertar seus poderes selados, nem mesmo a Moka pode mexer em seu Rosario.
E o mangá segue essa linha nos primeiros capítulos, conhecemos monstros, alguns são ruins, atacam uns aos outros, e o Aono e Moka sempre estão metidos no meio de tudo. Aí ele arranca o Rosario da garota, a vampira de verdade surge e estraga o dia dos vilões. Vou comentar em maiores detalhes essa linha narrativa.
Volume 1: Os 4 Capítulos!
1º) Vampira na Escola: Na verdade eu resumi quase que todo o primeiro capítulo nos parágrafos acima. É o clássico momento de um mangá onde personagens precisam ser apresentados, o universo da série tem que ser explicar. A fantasia tem que ser apontada em seus limites. Dá para achar engraçado alguns pontos e o curioso é que se você avaliar apenas este primeiro capítulo, parece ser um mangá interessante, que trás uma premissa original e ao mesmo tempo divertida, pois foge um pouco daquele mangá do gênero escolar onde o personagem só quer saber de calcinhas, o mangaká só se preocupa com mini-saias curtas, com toda aquele mel com açucar da juventude do menino que gosta da menina, que gostade outro menino, que tem aquele draminhas juvenis, enfim, bem você entendeu. De uma certa forma, Rosario + Vampire foca-se mais em brincar com esta atmosfera de halloween, do que ficar enfatizando os problemas juvenis que a molecada tem nesta idade. Sim, isso ainda tem no mangá, Aono gosta da Moka e vice-versa, mas não é o foco principal do começo do mangá, o mais divertido mesmo são os monstros e o universo diferenciado criado para a série. Pena, que o autor ao menos nestes dois volumes iniciais, se repete demais na narrativa. E já vou chegar lá.
Então capítulo 1, garoto entra na escola de monstros por enquando, conhece a garota mais bonita e simpatica, que na verdade é uma vampira. Um aluno meio revoltado com a situação dos dois surge, encara ambos, no meio de um momento de perigo, acidentalmente Aono tira o rosario de Moka, desperta outra Moka, que vence o cara e fim. Aono acaba ficando na escola, mas tem todo uma construição e linha narrativa pra isso. Com mais de 50 páginas, se o autor não fizesse isso, seria um tremendo vacilo. É como eu disse, neste primeiro capítulo, tudo funciona bem, e isoladamente, ele é ótimo.
2º) Kurumu dos Sonhos Negros: No segundo capítulo, já percebi que o mangá ia sofrer de alguns problemas. Como explicar? Hum… conhece Sailor Moon? Se você tem mais de 20 anos, com certeza deve conhecer, os mais novos talvez conheçam pela internet, mas de qualquer forma, Rosario + Vampire após concluir o primeiro volume me lembrou muito o animê (porque nunca li o mangá) de Sailor Moon. Era divertido ver Sailor Moon, mas era evidente que no começo da série tinha episódios que era um saco ver a Serena correndo pra baixo e pra cima em sua vidinha normal e nos 5 últimos minutos do episódio, aparecei um mosntrengo, Serena virava Sailor Moon e com o mesmo golpes SEMPRE (o da tiara lunar) derrotava o vilão. Não tinha construção de batalhas, não tinha tensão e o pior, um monte de episódios terminavam sempre igual, com Serena e a maldita tiara, sem uma elaboração muito grande.
Rosario + Vampire sofre deste mal nos dois primeiros volumes. Aono e Moka sempre vão se meter em algo sinistro, afinal é um mangá de monstros, então um sempre vai aparecer. Aono tira o rosario, e a Moka chuta-bundas aparece e com um único golpe, em geral um chutão, manda o monstrengo a nocaute. Esse ritmo funciona, é claro, mas não em quase todo o capítulo. Frusta sabe? Com 50 páginas por capítulo, esperava algo menos clichê e mais elaborado. Lutas com reviravoltas, humor bem mais afiado. Mas o ritmo é quase sempre o mesmo. Nesse ponto, outros mangás escolares como 100% Morango são mais divertidos do que Rosario, pois ao menos apresenta diversidade de situações.
Um detalhe é que seria muito chato um mangá sem elenco, então o autor vai aos poucos inserindo outros personagens para a turma de Aono. Neste conhecemos a Kumuru, que faz o papel de vilã do capítulo, mas depois de derrotada por Moka, acaba virando amiga da dupla principal, e até fica meio apaixonada por Aono. Ah, esqueci de comentar, no primeiro capítulo, Aono revela pra Moka que é humano, então não tem essse dramalhão “conto ou não conto” na série, ainda bem. Mas fora Moka, ninguém mais sabe, já que o matariam se descobrisse um humano numa escola de monstros.
3º) Entrando em um clube: Aono e Moka precisam se afiliar a algum clube, algo bem tradicional do sistema escolar no Japão por sinal. Até aí não há nada errado com a história, ela esta seguindo o seu ritmo. A batalha final contra a sereia do clube de natação é até o momento um das melhores elaboradas nestes dois volumes, mas 50 páginas só para explicar que vampiros ficam fraco na água? A primeira cena com a Moka na piscina já deixa óbvio isso, e o autor demora páginas e mais páginas para afirmar expressamente isso. Num capítulo semanal de 17 páginas seria ótimo, mas 1/4 do volume do mangá só pra isso?
Ao menos o traço do mangá é bacana. Os monstros quando tem suas verdadeiras formas reveladas são realmente caprichadas e passam a sensação certa. Aqui a Kurumu, agora amiga do grupo, já participa da história e é peça chave para que Aono pare de ser um tapado, alias neste capítulo ele está bem mais do que o normal. No geral, Aono é mais cabeça, e entende melhor as pessoas. A Moka chuta-bundas, por exemplo, tem admiração pelo rapaz, pela fibra apresentada em momentos de risco.
4º) Coexistência: O último capítulo do volume parecia bobo inicialmente, mas no final do volume 2, percebe-se que o autor já havia planejado um rumo mais promissor para o mangá, mas novamente, fico nessa coisa de que com capítulos maiores, o desenvolvimento da história tinha que ser bem melhor. Neste capítulo, felizmente a história dá um bom desenvolvimento com Aono e Moka brigados por culpa de um lobisomem que começa a espalhar falsas mentiras sobre Aono. No fim, esse cara também vai acabar integrando o grupo, sendo o editor do clube de jornalismo, onde Aono e Moka (e Kurumu) acabaram se juntando. E o clube de jornalismo é uma das pontas que vai amarrar um evento no final do volume 2 que melhora a qualidade da história. Também nota um certo esforço do autor para que a luta em cima do prédio na lua cheia seja leta, mais ainda tem muito o que se aprimorar.
E apesar das tirinhas no final do volume, feitas pelo autor da série, a JBC peca feio ao não publicar o freetalk do volume. A Panini já anda mandando bem com contra capas coloridas em seus mangás, incluindo o freetalk nelas. A JBC precisa se mexer logo.
Volume 2: + 4 Capítulos!
No plano geral, o segundo volume do mangá é bem melhor do que o primeiro. Não se queima um episódio inteiro para origem e explicações. E os quatro capítulos aqui apresentam uma dinamica melhor entre as histórias, que começam a ganhar um melhor desenvovimento. Temos um para incluir novo personagem, temos uma outra sem Aono e Moka como principais, o que já dá um ritmo diferente e temos duas interligadas a eventos maiores que provavelmente serão mostrados no volume 3, o que já deixa um gancho mais interessante e animador para continuar a coleção.
5º) Diabruras de Amor: O capítulo mais fraco do volume na minha opinião. Ele serve para apresentar a personagem, Yukari Sendo, aluna prodígio, mas uma bruxinha. No universo da série os bruxos sofrem preconceitos por se parecerem demais com humanos. Na verdade eu apenas não gostei da personagem Yukari, que é aquele tipico personagem pirralho, que só serve para irritar. Ela acaba se afiliando ao grupo, e acaba também se apaixonando por Moka e Aono (sim, por ambos). Personagem bobinha, numa história de discriminação de raças, o desenvolvimento é bom, mas a personagem não me convence.
O vilão acaba sendo um monstro lagarto, mas a Moka chuta-bundas vence o cara na mesma facilidade com que se assoa o nariz.
6) Aniversário Artístico: Este capítulo comparado com o anterior é infinitamente melhor. Até mesmo o monstro vilão, a Medusa, é mais épico do que uma lagartixa gigante. Até a perspectiva da história é interessante, com o aniversário de Aono chegando e ele curioso para saber se Moka vai lembrar e tentando convidar a vampirinha para passarem a data juntos. Tem esse tema de coragem para convidar, com estas ótimas páginas com garotas (monstros, não tem humanos na academia yokai) da escola em estátuas, chorando eternamente. A luta da Moka chuta-bundas também é muito bem feita aqui e a professora do mal, não será vista apenas neste capítulo, mas no final do volume, ela começa a tomar moldes para ser uma vilão muito maior para o começo do mangá.
Capítulo bem desenhado, bem detalhista e o interessante é que até este momento, achava a história meio previsível em cada capítulo, mas aqui, eu realmente não conseguir adivinhar o que Moka estava tramando. Então gostei do fim quando essa coisa de aniversário é revelada e comemorado. E como a turma está no clube de jornalismo, a história dessa professora tem que virar notícia de jornal, e isso dita os rumos da história a seguir.
7º) Dia de Fechamento: Este capítulo justifica a capa da edição, com a personagem Kurumu. É uma história onde ela é a principal. O resto da turma está preocupado com o fechamento da edição do jornal da escola, sobre a professora do capítulo anterior, mas a Kurumu começa a ser assediada por um garoto, que no final acaba revelando ser o monstro acima. Nesse ponto do mangá, começa a ser divertido tentar adivinhar qual é o monstro do capítulo. XD
E como é um capítulo dedicado a Kurumu, no final do mesmo, é ela quem enfrenta e derrota o carinha acima. Numa batalha bacana, demonstrando que ela tem grandes poderes. Nada de rosario e nem de Moka lutando. Gostei desse diferencial. Foge um pouco do ordinário, já que até então, sempre é Moka quem enfrenta os monstros. Também é mostrado e desenvolvido de uma forma bem mais detalhada a personalidade da Kurumu. Passei a gostar mais dela depois deste capítulo.
8º) Um desejo para a lua: E o último capítulo! Ufa! O melhor ficou para o final do volume 2. Aqui o autor cria o Comite de Segurança da Academia Yokai, que basicamente atuam como uma mafia escolar, fazem o que querem e matam quem quiserem. Os caras são agressivos e fortes. E na história, odeiam o clube de jornalismo, por conta de uma rixa do passado. Eles acabam impedindo a distribuição do jornal escolar, com a notícia da professora, e com isso o grupo fica dividido com o que fazer, enfrentar os caras ou simplesmente desistir do jornal?
Parece bobo assim, mas na verdade dá a entender que esse comite é muito mais do que aparenta ser. No final da capítulo, surge a professora Medusa, e levanta a hipóteses (pois ela não sabe a verdade como os leitores) de que Aono na verdade é um humano! E segundo a lei da escola, o comite tem a permissão de matar Aono e todos seus amigos! Caraca! Mas aí o volume acaba. Aono será desmascarado? Vamos ver mais batalhas elaboradas?
Também é de se elogiar a batalha contra a mulher-aranha do comite que rola neste capítulo, pois é muito bem estruturada, com Aono e Kurumu sendo presos, Moka chegando pro resgate, Aono sendo ferido tentando proteger a Moka. Enfim, são poucas paginas, mas o autor sobre passar tensão e suspense nestas páginas finais do capítulo, até mesmo devido a todo esse clima de medo que o comite de segurança transmite. O cara com dois pontos na testa um quadro mais acima, é o líder, quero só ver do que ele é capaz. E fala sério! Essa mulher-aranha ficou muito louco no quadro acima! No desenho, o autor não deixa a desejar.
Concluindo… Rosario + Vampire é isso. História meio arrastada, num universo que é sim divertido e diferente. Mas tenha em mente que essa coisa de 4 capítulos por volume, pode não agradar a todo mundo, deixando tudo muito devagar. O autor também ainda está aprimorando sua técnica nestes volumes iniciais, tentando bolar melhores lutas, não deixar repetição excessiva na narrativa de um capítulo e outro. O humor não chega a ser daqueles de gargalhada sem noção como Buso Renkin anda proporcionando. É realmente um mangá mais leve, se você gosta de dia das bruxas e essa coisa de bestiário de criaturas, vai curtir, mas se procura um shonen mesmo, Rosario + Vampire não é exatamente isso. E também não chega a ser um mangá escolar de calcinhas, tem sim um teor juvenil de paixonites, mas o universo dos monstros tem um destaque maior. Complicado, né? Bem de qualquer forma, são apenas 10 volumes. Se eu já comprei 02, vou continuar até o fim. Compraria depois a sequencia se for lançada? Não sei, quero ver como estes 10 volumes originais acaba primeiro.
Prometo que no próximo MdQ da série, não farei algo tão extenso, mas este era o primeiro, precisava explicar certinho todo o universo do mangá e as principais características.