No final da semana passada, rolou por quase toda a internet uma notícia que pode (ou não) abalar todo o mundinho dos videogames para alguns. Quem não ficou sabendo, repasso rapidamente: Keiji Inafune, conhecido mundialmente por ser o criador de Mega Man, se demitiu da Capcom, a qual já havia dando declaração de o quanto estava frustado com a forma de negócios do estúdio. Inafune tinha um cargo de grande importãncia, ou melhor, cargos. O cara era chefe adjunto da divisão de pesquisa e produção de jogos e também supervisor global de pesquisa e desenvolvimento da empresa. Ele esteve envolvido na produção de muitos games importantes da Capcom nesta geração, como Mega Man 9 e 10, Dead Rising 1 e 2, Lost Planet 1 e 2. Claro que ele não andou atuando e produzindo estes games sozinho, mas por exemplo, em Dead Rising 2, ele mexeu muito no gameplay em relação ao primeiro game e conseguiu criar um game infinitamente mais divertido.
Inafune também estava trabalhando em muitos novos games para a Capcom que ainda estão para serem lançados, como Mega Man Universe, na qual estava responsável na parte de designe do game, Mega Man Legends 3 como um dos produtores, além dos recém anunciados Asura’s Wrath e DmC (Devil May Cry), este último em parceria com a Ninja Theory. Nenhum projeto foi cancelado alias, já que Inafune não era o único responsável.
Mas o que levou Keiji Inafune a largar a Capcom?
Certamente não era falta do que fazer que estava chateando esse grande mestre dos videogames. Entrevistas recentes mostram que Inafune estava insatisfeito com o modo de negócios da Capcom, assim como a própria produção japonesa de games em geral, alegando que os estúdios ocidentais estavam se saindo muito melhor no mercado atualmente (o que de certa forma é verdade, basta ver sucessos como Halo, Assassin’s Creed e God of War). Chegou inclusive a comentar que não havia mais para onde crescer dentro da Capcom, depois de 23 anos de serviço dentro da empresa, ele já havia chegado ao posto máximo que a empresa permite e mesmo assim, ele não tinha poder suficiente para tentar colocar uma proposta de negócios de desenvolvimento de games de ambito mais global. A situação toda é bem complicada, se o cara é realmente um gênio e não tem liberdade para criar um game do seu próprio jeito, não resta dúvidas que algo não está legal. Vide todo o tempo que a Capcom levou para deixá-lo criar um Mega Man Legends 3 ou até mesmo a quantidade de anos que a própria franquia Mega Man ficou as moscas, sem nada de interessante saindo.
O problema é que Inafune não está inteiramente errado. A Capcom é realmente um estúdio japonês que andou produzindo muito nos últimos anos, conseguiu subir ao topo novamente graças a Street Fighter IV, mas é inegável que seus games ainda seguem um modelo de desenvolvimento mais oriental, ao invés de ter uma visão mais global. Apesar de ter adorado Resident Evil 5, muitos criticaram o novo game, que largou um pouco a idéia de “survival horror” e ficou mais focado na ação desenfreada e adrenalina. Devil May Cry 4 também sofreu e ficou na mesmíssme do título, com muitos inclusive ignorando a quarta aventura de Dante, e não culpe o gênero, porque quando os ex-companheiros de casa, a Platinum Games, chegou no começo deste ano com Bayonetta, o mundo inteiro aplaudiu. Nem vou dizer nada sobre Mega Man por download com a cretinisse de ser em gráficos 8-bits que o meu sangue já ferve. O primeiro Dead Rising também sofreu muito quando foi lançado, pela dificuldade extrema e gameplay problemático. A capcom vez muito nesta geração, mas ao mesmo tempo, também sofreu muitas duras críticas.
Você se lembra de todos que largaram a Capcom nos últimos anos? Algumas carinhas como Shinji Mikami (criador de “Resident Evil”), Atsushi Inaba (produtor de “Viewtiful Joe”), Yoshiki Okamoto (“Street Fighter II” e “Final Fight”), Hideki Kamiya (“Devil May Cry”, “Okami” e “Bayonetta”) e Noritaka Funamizu (“Street Fighter Alpha”). E nunca vou me esquecer da galera da Clover Studios de Viewtiful Joe e Okami, que fundaram um estúdio próprio que conhecemos hoje como Platinum Games, alias muitos dos nomes acima, estão trabalhando no estúdio.
Keiji Inafune não deixou claro o que pretende fazer agora que largou seu cargo na Capcom. Poderia vir a criar um estúdio independente próprio, como muitos andam fazendo, mas ele também pode a vir a trabalhar dentro de um estúdio já existente, talvez até deste lado do globo, já que ele anda encantado com os games ocidentais. Ou na pior das hipóteses, para os gamers é claro, ele pode acabar se aposentando. O jeito é aguardar e ver. Mas deve ser difícil para um desenvolvedor como ele, decidir largar mão de suas criações. Imagino como deve ser triste sair de uma empresa, largando todas as suas obras primas, sabendo, por exemplo, que ele nunca mais poderá trabalhar com um Mega Man. Nada impede é claro que futuramente ele invente algo semelhante, mas aquele gostinho de algo 100% original não existiria.
Voltando um pouco para a Capcom, já foi decidido na empresa quem ocupará o cargo de Inafune: Jun Takeuchi, que trabalhou recentemente em games como Lost Planet e Resident Evil 5. É um cara de talento, mas não tem metade do curriculum do Inafune e nem o mesmo brilhantismo, na minha singela opinião, claro.
E fica essa sensação meio chata em relação a Capcom. Puxa, na geração passada conseguiram criar um mega estúdio secundário de qualidade, a Clover, que entregou obras primas e franquias que podem durar gerações (Viewtiful Joe e Okami) e os caras acabam fechando o estúdio!? Ícones como os criadores de Resident Evil e Devil May Cry também cairam foram, agora o criador de Mega Man. O que diabos ainda resta no estúdio? De que adianta ela ser dona de todas estas franquias de sucesso se não conseguem manter seus idealizadores trabalhando e expandido esse universo criado? Dar nas mãos de outros desenvolvedores nem sempre é garantia de sucesso. Imagine uma Nintendo sem Shigeru Miyamoto? É assim que eu começo a imaginar a Capcom que não consegue mais segurar os maiores talentos do estúdio.
Ao menos a Capcom ainda tem Yoshinori Ono, que vem fazendo um trabalho fenomenal com a franquia Street Fighter nesta geração. O próprio Jun Takeuchi também fez um belo Resident Evil 5, mesmo com as contradições apontadas. E tem o Ryota Niitsuma que parece estar fazendo um trabalho excelente em Marvel vs Capcom 3. Fora estas três figurinas, não me vem em mente mais nenhum nome famoso dentro da Capcom. Alguém consegue citar mais algum?
Fico com essa preocupação final, de que a Capcom não perca a qualidade de seus games com a saida de mais uma estrela da casa, que isso também não afete os próximos games de Mega Man e muito menos franquias como Dead Rising, que acho sensacional. Acho que algumas das considerações do Inafune deveriam sim ser levadas em conta, como a proposta de negócios e desenvolvimento de games com um foco mais global e menos niponico. Faço também mais votos para que Inafune consiga logo resolver a sua situação e volte o quanto antes a produzir games, nas esperança de que ele não se aposente.
E agora é esperar e ver como isso vai repercutir nos próximos games da Capcom e do Inafune, separados após 23 anos de trabalho. Será que o “divórcio” vai ser ruim para os filhos, no caso, nós, os gamers?