Não é de hoje que a indústria de mangás no Japão luta contra a pirataria de seus produtos distribuídos por tantos sites internacionais, os autores do ato, ou melhor, os scanlators se defendem e dizem que a prática não tem nenhum interesse a não ser a divulgação do material à pessoas que não tem ou dificilmente terão acesso ao mesmo. Se pararmos para pensar, veremos que muito provavelmente a onda de mangás (animes nem tanto) e todo essa “paixão” desmedida pela cultura japonesa (um terço dela) não seria tão grande sem o trabalho dos scanlators, principalmente aqui no Brasil, pois deste mesmo modo auxiliaram de alguma forma e pouparam as distribuidoras japonesas no que diz respeito a divulgação do material, o problema é que nem todos visam somente a divulgação dos mangás e levantam a bandeira de fã, muitos acabam por lucrar em cima da coisa toda, não é difícil ver mangás que se encontram nas bancas ao mesmo tempo sendo lançados simultaneamente na internet, geralmente esta parte não é o problema, afinal, se está disponível é de direito do leitor saber o que se passa mais adiante, uma vez que a edição brasileira jamais estará emparelhada com a japonesa, o problema aparece quando os scanlators (aparentemente) se esquecem de retirar os primeiros volumes e dar crédito a editora assim que ela começa a publicação de determinado título no país, isso sim eu não acho certo, se você é fã tem de prestigiar sim o autor, o que você tem em mãos é fruto de um trabalho duro como qualquer outro e merece o devido respaldo.
Entra ano, sai ano e o filme não muda, algumas prisões aqui e ali no próprio Japão (sim, por incrível que possa parecer lá também rola dessas coisas) mangakás expondo sua insatisfação quanto ao assunto na internet (alguns de forma bem ridícula), além de alguns casos em que houveram fechamento de sites que abrigavam milhares de scans como a One Mangá, claro que medidas assim de nada vão resolver esta tremenda bagunça que chamamos de internet, pois para cada site fechado, outros 3 nascem para continuar o legado, a indústria japonesa vive (ou vivia) no mundo da lua e só veio perceber isso agora (antes tarde…), tanto que está mexendo os pauzinhos para criar uma medida inovadora quanto ao assunto.
No que ela consiste? Muito simples, oficializar a prática dos scanlators na internet, segundo o site Anime News Network, durante o evento Denshi Shoseki Comic Summit, realizado em Akihabara nesta semana que passou, o diretor de gerenciamento da editora Shueisha, Kazuhiko Torishima, anunciou a criação de um website em conjunto com outras editoras no intuito de disponibilizar mangás de forma legal para o público norte americano, elas são: Akita Shoten, Kadokawa, Kodansha, Shueisha, Shogakukan, Akaneshinsha, ASCII Media Works, East Press, Ichijinsha, Enterbrain, Oakla, Ohzora, Gakken, Kasakura Shuppansha, Gentosha, Jitsugyo no Nihonsha, June-Net, Shodensha, Shonen Gahosha, Shinshokan, Shinchosha, Takeshobo, Tatsumi, Tokuma Shoten, Nihonbungeisha, Hakusensha, Fujimi Shobo, Fusosha, Futabasha, France Shoin, Bunkasha, Houbunsha, Magazine House, Media Factory, LEED e Libre Publishing, os títulos a serem disponibilizados ainda não forma revelados, a iniciativa tem data prevista para começar no mês de março do ano que vem, mas uma versão beta do site já pode acontecer este ano, ainda segundo informações, o site será também uma central de informações destas editoras e suas obras. Ainda não se sabe se está nos planos deste projeto uma possível expansão para outros países.
Não é difícil perceber que estão presentes antologias de peso neste projeto, particularmente, acho a idéia perfeitamente justa, esta empreitada dos japoneses prova que o maior problema não é a divulgação do material em qualquer lugar, mas sim o lucro indevido em cima do trabalho alheio, não que isso vá acabar com os sites americanos que disponibilizam scans que já conhecemos, mas pode frustrar aqueles que se intitulam fãs e não ajudam a indústria, concordo plenamente com a iniciativa, aliás ela até que demorou a chegar, não é de hoje que o mercado pede inovações quanto a venda de um produto, ainda mais se o mesmo for relativamente novo no mercado, se for uma criação própria, como músicas por exemplo, não foram poucos os artistas que tiveram de migrar para o formato MP3 com distribuição via download na internet em decorrência da mídia física já estar perdendo espaço na preferência do público, talvez algum dia o formato tome o lugar do bom e velho CD (ou já tomou?), não só pela venda, mas também pela praticidade de quem consome o produto, claro que existe sempre aquele que gosta de ter o produto em mãos, e não acredito que a mídias físicas desaparecerão por completo, nem os LPs conseguiram isso ainda, mas a tendência é essa, o modo de se vender algo hoje com o avanço da tecnologia tende a mudar mais e mais. Parando de viajar com CDs e voltando aos mangás, outro exemplo é a distribuidora Viz Media, que buscando um novo modo de lucrar com mangás de forma mais satisfatória, criou este ano um portal para disponibilizar os títulos que detém nos Estados Unidos via distribuição digital no Ipad, nem preciso dizer que com livros o mesmo já está ocorrendo.
Enfim, vender uma idéia original sempre foi um risco, pode-se obter sucesso ou fracassar, a diferença é que agora, os produtores terão de atuar com novas ferramentas, como a internet, cantores, autores de livros ou HQs, todos que produzem conteúdo próprio devem repensar e se adequar aos novos rumos que o mercado exige, que os tempos modernos estão exigindo, devem usar a internet a seu favor e não tentar repreendê-la, querer censurá-la ou coisa do gênero, controlá-la é totalmente impossível, diria que quem remar contra esta maré, tem tudo para ser engolido por ela.
Voltando aos mangás, esta ação não visa e nem vai acabar com os sites de scans que conhecemos hoje, mas se ela frustrar aqueles que desejam lucrar com o trabalho dos mangakás, já terá sido muito válida, afinal, como diria Edward Elric, tem de haver uma troca equivalente nesta história, do contrário, um dos lados tende a cair e nós sabemos bem qual é.
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