Eu queria escolher a dedo qual mangá eu adicionaria a minha lista de MdQ’s a fazer aqui no Portallos, mas como já tem muita coisa avançada nas bancas, simplesmente não deu. Me deparei com N.H.K. e mais um outro chamado Astral Project (que vou ler daqui a pouco e se tudo der certo vai entrar na roda também), o contexto de Welcome To The N.H.K. eu já conhecia, mas nunca me interessei a ponto de correr atrás do anime que estava estreando na época. Agora com o mangá sendo publicado por aqui, nada melhor do que matar de uma vez por todas a curiosidade.
Só para nos situarmos melhor, o mangá na verdade é fruto de uma Light Novel lançada em 2002, depois dela é que vieram uma adaptação em mangá que foi publicada de 2004 a 2007 nas páginas da Shonen Ace, com roteiro de Tatsuhiko Takimoto e arte de Kendi Oiwa, e por fim um anime feito pela Gonzo em 2006. A história fala de Tatsuhiro Sato, um Hikikomori tentando mudar de vida, mas espera ai… o que exatamente é um Hikikomori? No Japão eles são a classe vagabunda da sociedade, mas não são que nem os daqui do Brasil (como assim?). É simples, enquanto que no Brasil o típico vagabundo rouba, mata e faz o diabo a quatro por pura falta de instrução na vida (claro que isso não é uma regra), no Japão o Hikikomori é o vagabundo que se isola de tudo e todos, não tem vontade ou coragem de fazer absolutamenta nada e rejeita qualquer contato com o resto da sociedade. Detalhe: este ser tem um nível de instrução ás vezes acima da média, mas simplesmente não consegue se relacionar com as pessoas a sua volta quando se encontra numa situação real. Daí a diferença entre os 2.
A proposta do título é falar destas pessoas expondo os problemas pelas quais elas passam com seriedade e ao mesmo tempo humor, e dito isso, vamos logo para o que interessa. se você ainda não leu o mangá, mas está interessado, sugiro que fique longe do que vem a seguir. Lembrando que Welcome To The N.H.K. (Bem vindo a N.H.K.) tem 8 volumes, é publicado aqui pela Panini/Planet Mangá, custa 9,90 e terá periodicidade bimestral.
Sem saber bem o que esperar comecei hoje o que deveria ter iniciado na semana passada (preguiça lá em cima, mas juro que não sou um Hikikomori). Logo de cara já temos uma idéia da vida que Tatsushiro leva, preso a 4 anos em casa depois de trancar a sua faculdade, ele passa a vida trancado nela, sem muitas perspectivas, vendo animes, comendo porcarias e ponderando sobre a idéia de se matar ou não. Tudo isso com o auxílio do dinheiro de seus pais. Talvez para nós essa seja até uma situação meio que normal, mas no Japão, onde se houve falar muito da rigidez que os pais tem em relação ao futuro de seus filhos e as pressões que os mesmos sofrem desde pequenos, chega a ser dificil imaginar que existam realmente pessoas assim vivendo por lá.
E passados 4 anos, numa bela manhã (Ou era tarde? Não sei), eis que alguém bate a porta da casa do nosso Hikikomori em questão. É uma senhora de meia idade oferecendo revistas de auto ajuda, por uma desagradável coincidência a revista trata exatamente do assunto que mais dói no protagonista. Num acesso de fúria ele acaba afugentando a senhora, mas cativa a atenção da garota que a acompanhava. Mais tarde ela reaparece dizendo que o observa já há algum tempo e com um contrato a ser assinado, ela oferece ao rapaz uma oportunidade dele se livrar daquilo que ele mais detesta, ser um Hikikomori. Basicamente assim começa Welcome To The N.H.K.
Ah claro, esqueci de explicar o porque do N.H.K. do titulo não é mesmo? É que logo no início do mangá Tatsuhiro tem um sonho logo após aspirar um pó, que segundo explicado por ele mesmo é apenas um calmante (tá bom… me engana que eu gosto) que tem praticamente o mesmo efeito de uma droga alucinógena. Aliás, no decorrer do mangá o que não falta é a abordagem de remédios e drosas comuns (qual a diferença mesmo?) que os personagens usam para fugir um pouco da realidade que os cercam, nada exagerado, não temos ninguém ficando louco ou se matando, aparentemente esse não é o objetivo deste título. Tudo aqui é tratado de forma mais leve, mas mesmo assim não deixa de ser notável, pois eu mesmo nunca havia visto isso em outros mangás (é nisso que dá só ler Shonen Jump).
Mas voltando ao sonho de Tatsuhiro, dentro dele ele se encontra com sua TV, computador e mais alguns outros eletrônicos que não deveriam esta ali falando com ele, durante a conversa a TV afirma categoricamente que a verdadeira culpada pela reclusão do protagonista é de total responsabilidade da rede de televisão japonesa N.H.K. (sim, aquela emissora que picotou uns pedacinhos de Tsubasa Reservoir Chronicles e fez a série terminar precocemente, virando tempo depois uma série de OADs para explicar os buracos e a continuação da história), associando a desgraça que é sua vida a uma conspiração arquitetada pelo canal jsponês. Lembrando de seu passado, tantas vezes debruçado em frente a TV, assistindo as atrações do canal (no caso muito anime), ele liga os pontos, cria uma nova sigla para a emissora (N.H.K.= Nihon Hikikomori Kyoukai= Sociedade dos Hikikomoris do Japão) e decide que vai mudar de rotina e acabar com a conspiração que armaram para ele. Agora como… já são outros quinhentos.
Só que essa história da N.H.K não colou muito pra mim não, eu não entendi o porque do nome da emissora estar no meio disso tudo. Talvez porque foi ela quem deu vida a novel que virou anime depois? Ou realmente teremos alguma coisa envolvendo o canal de TV em um futuro não muito distante dentro da história do mangá? Porque os eventos do primeiro volume, com exceção da alucinação do protagonista em nada te remetem a emissora, a não ser talvez as milhões de referências a animes e outras coisas (que são milhões mesmo, tanto que eu não tive o saco de procurar nada no glossário que fica no fim do mangá).
Além de Tatsuhiro, o protagonista Hikikomori, temos Misaki, a garota misteriosa (porque nem de onde ela saiu se explica) que se propõe a tirá-lo dessa vida de excluído da sociedade. O curioso é que ela entrega um contrato para ele assinar antes de formalizar o pacto de ajudá-lo, dizendo que ele é perfeito para projeto dela. Do que será que se trata? Um TCC sobre como salvar a raça humana? Tá. viajei demais, porém reparem que na capa do volume é ela quem usa uma camiseta da N.H.K., só que é a sigla fictícia (aquela que o protagonista criou enquanto estava alucinado). Será que toda a sua saga que vai rolar dentro desses 08 volumes também não é um alucinação dele?
Também ainda não vi nexo nessa história dela aparecer de repente nos mesmos lugares aonde ele vai, tão pouco no porque dela querer ajudá-lo (se é que a intenção é essa mesmo, e o protagonista que não faz questão alguma de perguntar, hum…), há momentos em que ela parece ter uma interesse amoroso nele (mas nada fica claro), enquanto ele fica imaginando cenas e mais cenas eróticas com a garota (a propósito, que esse mangá tem um pézinho no hentai, ah isso tem). Me pergunto também se o Tatsuhiro não está fazendo parte de um reality show ou algo assim. Lembram daquele filme do Jim Carey, onde ele descobria que toda a sua vida era um atração de TV? (esqueci o nome) Será que a Misaki é alguma atriz ou coisa assim? Seria mesmo tudo uma conspiração de alguém ou de alguma organização? (isso até explicaria o porque dela cair de pára-quedas na vida dele) Hum… imaginação nas alturas hoje. E ainda no embalo de tantas perguntas, o que diabos é aquele bonequinho que mais de assemelha a um extraterestre que aparece algumas vezes, inclusive na capa traseira do primeiro volume? (Ou é a da frente? Não faço idéia) Ele me pareceu ser uma espécie de símbolo dos Hikikomoris, mas não tenho certeza.
Fora esses 2 no centro das atenções ainda temos Yamazaki, um cara extremamente vidrado em anime do estilo Moe e Hentai (personagens fofas ao extremo e… preciso mesmo explicar Hentai? Agora juntem os 2). Ele é um antigo amigo de Tatsuhiro e apesar de aparentar ser mais oprimido e retraído que o protagonista, ainda consegue conversar com outras pessoas. Dentre suas maiores ambições, está a de criar um game para a cominudade pervertida de plantão (algum desses moleques deu início à vida de Love Plus e seus derivados, mas quem?). É através de Yamazaki, que alguns conceitos como o Moe e muitas sátiras há alguns animes e lugares nos são apresentados. como o Maid Café por exemplo.
O primeiro volume mostra algumas tentativas de Tatsuhiro em se socializar ou se matar, o mangá te arranca um riso ou outro, mas nada que te faça gargalhar de verdade. Destaco alguns momentos como a cena em que Misaki dá de cara com Tatsuhiro segurando a bonequinha sem roupa (eu sabia que os otakus eram tristes lá no Japão, mas nem tanto assim) ou a cena em que ela pega ele tirando fotos das meninas na escola. Essa segunda parte foi bem engraçada, e na vida real não duvido que além de jovens, adultos também não façam esse tipo de coisa, não é de hoje que sabemos o quanto o povo japonês busca auxílio seja em games ou outros tipos de produtos para suprir muitas vezes uma necessidade comum que é motivo de vergonha aos olhos de um nação tão conservadora e por vezes retrógrada demais. É nestes momentos que fica nítido o quanto a história alterna entre os momentos sérios e os verdadeiramente engraçados, fazendo o foco mudar bem rápido de uma hora para outra. Num momento Tatsuhiro discute com Yamazaki dentro de um Maid Café, se perguntando se não está se tornado além de um Hikikomori, um “Moezeiro” de mão cheia e no outro ele encontra uma amiga de tempos atrás que hoje usa uma porção de remédios para encarar os problemas.
Os quadros onde ocorre o acordo entre Tatsuhiro e Misaki para que ambos finjam serem namorados um do outro foi engraçado, é interessante como o foco (humor ou drama) também muda para o Hentai em questão de minutos. O quarto do Tatsuhiro todo bagunçado também teve quadros bem legais, queria ter a mesma liberdade com o meu para fazer uma senhora bagunça como aquela, difícil é imaginar quanto dinheiro ele já gastou com toda aquela tranqueira espalhada pelo chão. Se tivesse que dar um fim naquilo tudo ou venderia ou torraria tudo no fogo da lareira (e queimaria a casa… provavelmente).
E chegando ao fim do primeiro volume, digo que nem gostei demais e nem de menos desse mangá, foi tudo na medida, quando o peguei achei que ele seria extremamente cômico e não é bem assim. Não diria que ele tem uma história interessante, mas depois de 1 volume lido com certeza fica interessante saber o que vem na sequência. Apesar de eu achar que algumas coisas ainda estão mal explicadas, preciso relevar já que estamos só no início, acho que não há porque acelerar as coisas desde que as pontas soltas se juntem no fim das contas. No mais, se você espera ua mangá com lutas, explosões, personagens marcantes e uma empolgação sem fim logo de início, passe longe de Welcome to the N.H.K. Se você espera uma mangá extremamente engraçado, daqueles de chorar de rir a cada página, também recomendo que pense 2 vezes antes de comprar. N.H.K. tem sim essa característica, mas ela perde um pouco o fôlego tentando alternar entre a seriedade de algumas situações e o seu lado divertido (é a última vez que repito isso, prometo). Claro que isso não tira o interesse do leitor pelo que vai acontecer a seguir. Eu pelo menos quero saber que fim vai levar a história de Tatsuhiro e se toda essa história é mesmo uma conspiração de alguém ou alguma organização. No próximo capítulo a mãe dele vem visitá-lo e ele tem de fingir ter uma namorada e um bom emprego (onde eu já vi isso antes?), até lá.