Como eu disse aqui ontem, além de Welcome To The N.H.K. eu também passei a mão em Astral Project, mais um mangá seinen que a Panini/Planet Mangá acabou de trazer para as bancas brasileiras. Logo que li a descrição, ali mesmo na banca (pois nem sabia que estavam planejando lançar isso por aqui), lembrei de mangás sobrenaturais de boa qualidade como Death Note e um dos atuais sucessos da Jump, Enigma. Adoro esse tipo de história, que geralmente te faz querer saber mais sobre o que vem a seguir a cada capítulo lido. Esperando muito por isso ao ler Astral Project, comprei o mangá sem pensar 2 vezes.
Antes de começarmos a nossa conversa, vamos a algumas informações prévias. Astral Project (também conhecido como Tsuki No Hikari ou Sob a Luz da Lua) é um mangá escrito por Garon Tsuchiya, que utiliza o pseudônimo de Marginal para assinar a obra, que também conta com os desenhos de Syuji Takeya. O título foi publicado na revista Comic Beam entre 2005 e 2007, totalizando 04 volumes encadernados. Astral Project terá periodicidade mensal ao custo de 10,90. A trama trata da história de Masahiko, um motorista boa pinta de uma agência de prostitutas de luxo em Tóquio. Numa noite a trabalho, ele recebe uma ligação de uma amiga de sua irmã, lhe informando que a mesma acaba de falecer. No mesmo instante Masahiko larga tudo e vai ao encontro de seu antigo lar. Primeiro para participar do enterro e segundo para levar consigo uma lembrança de sua irmã como recordação. A lembrança é um CD de Jazz que ao ser tocado por ele em sua casa, dá início a um inesperado fenômeno. A projeção extra corporal.
Pois é, desta vez ao invés de artefatos da morte ou simplesmente poderes sobrenaturais, temos um mistério a ser desvendado. O há do outro lado dessa existência? Masahiko toca o CD misterioso de Jazz, o último CD de música que sua irmã ouviu em vida. Ele fecha os olhos para sentir o som e quando volta a abri-los está flutuando em seu quarto olhando seu corpo sentado no sofá, já sem vida. Essa é a experiência de uma projeção extra corporal (até o Ash e o Pikachu já a experimentaram naquele episódio clássico da primeira temporada de Pokémon onde aparecem Gastly, Hunter e Gengar numa tapada só).
O que poderia ser isso? Ao ouvir aquele CD de Jazz, algo totalmente fora do comum aconteceu. Poderia a irmã dele ter ouvido o mesmo CD e não conseguido retornar para o próprio corpo? Masahiko quer respostas e para isso ele vai em busca delas durante todo o volume inicial. E assim é dado o pontapé inicial para a trama de Astral Project. Logo de cara me espantei um pouco com o traço. Eu havia acabado de ler Welcome To The N.H.K. quando comecei a folhear Astral. De primeira me pareceu algo mais puxado para os quadrinhos americanos, mas depois vi que não era nada disso. Na minha opinião o trabalho de arte não é nem tão realista e tão pouco fantasioso demais como vemos em muitos mangás por aí. Alguns personagens tem expressões mais realistas que outros, somente isso.
E por falar em personagens, até que gostei do protagonista. Masahiko é um cara boa pinta, bem vestido, educado e ainda assim não é nenhum bobalhão. Já perdi as contas de quantas vezes vi mangás onde o cara tem um mundo de mulheres aos seus pés e nenhuma malandragem na cabeça. Já Masahiko não, ele sabe as armas que tem em mãos e quando é o melhor momento para usá-las, ou pelo menos foi essa a impressão que ele passou inicialmente pra mim. Fiquei surpreso também com alguns quadros onde as mulheres quase se atiram em cima do cara, em especial aquela antiga amiga da irmã dele, a tal da Yukari Shindo. Aquele quadro dela dizendo “Esse eu tenho que traçar” foi demais, o que me lembra que ainda tenho que ler mais mangás adultos assim (chega de tanto Shonen, quero meninas atiradas a partir de agora!!!).
Enquanto Masahiko procura resposta sobre o que realmente aconteceu com a irmã dele, ele vai conhecendo gente que já convive com a experiência de sair do próprio corpo há muito tempo. Quando ele começou a descobrir os estranhos fenômenos produzidos pelo CD, achei que ele estaria sozinho nessa busca, mas é exatamente o contrário. Mesmo assim isso não significa que ele vá encontrar tantas pessoas quanto gostaria, pois pelo que foi explicado, cada um descobre a projeção extra corporal de uma forma diferente, como ficou bem claro depois da conversa dele com Zampano. E tem tambem o lance das almas penadas só se encontrarem somente se tiverem algo em comum. Como disse a misteriosa atendente do supermercado. Solidão e infelicidade foi o que fez com que os 2 se encontrassem, haverá uma segunda vez?
O lance da carta da irmã dele foi algo bem confuso, com ele levantando a hipótese dela ter sofrido uma lavagem cerebral antes de redigir aquele texto estranho, como se fosse alguém se sacrificando em prol de alguma crença religiosa ou algo do gênero. Como ele provavelmente era uma das poucas pessoas que a conheciam melhor do que ninguém, com certeza ele não está errado em sua afirmação. Agora se ela se suicidou ou se deixou ser morta por algo ou alguém é que é o ponto X da questão. As lembranças da Yukari também não ajudaram muito, apenas abriram mais possibilidades de outras pessoas com habilidades sobrenaturais diferentes aparecerem futuramente. Aliás essa história meio que fugiu do assunto de projecão extra corporal, com ela mostrando ter poderes paranormais (vamos ter salada?).
Enquanto Masahiko descobre mais sobre o mundo espiritual (me lembro tanto de YuYu Hakusho quando penso nessas palavras que ás vezes parece até que o termo foi inventado pelo Togashi unica exclusivamente para o anime…), o velho colecionador a quem ele mostrou e deixou uma cópia do CD, aparece algumas vezes conversando com músicos, só para gente ficar sabendo que o som produzido na mídia não pode ser desse mundo. Não sei que relevância tem ou terá isso mais adiante na história. A partir do momento em que o protagonista saiu do corpo e passou a passear pela cidade como se fosse um pássaro invisível (aliás, que inveja…), já ficou mais do que claro que algo de muito estranho estava acontecendo. Interessante eles usarem nomes de artistas do Jazz que realmente existiram, nunca tinha ouvido falar de nenhum deles e de início fiquei imaginando que a morte de Albert Ayler havia desencadeado alguma maldição ou coisa parecida, mas com essa história de que há mais de um jeito de se experimentar a projeção astral, essa probabilidade caiu quase que totalmente no meu conceito.
Agora sinistro mesmo foi ver aquele monstrengo surgir do nada (inevitavelmente me lembrou Berserk). Quando olhei, pensei que o mangá tinha degringolado a coisa toda de vez. Achei que ele iria ser perseguido, descobrir um poder incomum e salvar o dia (ou algo pior e que já tenhamos visto antes em qualquer outro anime). Graças á Deus, não foi bem assim, ao menos ainda, pois o que o monstro falou ficou martelando na minha cabeça. Ele disse que nada mais era do que uma personificação do desejo de alguém que provavelmente naquele momento estava adormecido. Mas estes seres só existem por existirem, para vagar por aí sem destino ou o criador deles tem interesses egoístas na Terra? Como por exemplo, desejar morte de alguém? Não deu tempo do Masahiko perguntar isso, se é que isso passou pela cabeça dele, mas acredito que isso seja se não totalmente, pelo menos em parte verdade. Lendo no Wikipédia bem por cima, dá para ver que há mais de um modo de se entrar no estado extra corporal, seja por vontade do próprio indivíduo ou inconscientemente, como expicou o monstrinho. Talvez hajam outros que não tenham interesses tão pacíficos quanto este que apareceu no primeiro volume e quem sabe a irmã dele não tenha sido uma vítima de um deles? Já que eles são uma projeção de alguém que nem sabe que ele existem, então eles poderiam fazer o quisessem. Viagem demais? Faz parte, afinal é só o volume inicial (mas não descarto, se não… perde a graça).
Pelo resuminho do próximo capítulo, o nosso chauffeur de prostitutas luxuosas ainda vai conhecer mais deste mundo estranho de almas penadas e consequentemente mais gente maluca também. Pesando tudo, posso dizer que gostei sim de Astral Project. É um mangá mais adulto, japonês claro, mas que foge do mesmo arroz com feijão que estamos acostumados a ver por aí. Tem muitas situações bacanas além de todo o mistério em torno da morte de Asami (vixi, só agora fui falar o nome da moça) e esse outro mundo em que transitam tantos humanos solitários fugindo de si mesmos através da projeção extra corporal. Situações estas que lembram mais uma vida real (pois é… sem poderes especiais por aqui pessoal). Como as baladas que Masahiko frequenta, as personalidades que ele conhece, as dúvidas que ele tem sobre o que realmente está contecendo, se tudo isso é real ou somente um sonho e não posso deixar de lembrar aquela cena já inesquecível da Yukari aos pés dele na cama. Enfim, detalhes como drama, cotidiano e outras coisas mais que você dificilmente vai encontrar tantas vezes sendo repetidos num mangá shonen.
Para quem quer fugir um pouco do mais do mesmo e experimentar acompanhar mais uma história sobrenatural, recomendo, sem comparações á obras famosas claro. Nada daquele oba oba que é Death Note, até porque não se tem nem notícia de um anime sobre essa obra. Se bem que para mim ela funciona melhor em mangá mesmo. Se não reproduzissem toda essa atmosfera mais adulta e até mesmo sombria, jamais ficaria interessante na TV (isso se é que mangás seinen são mesmo interessantes para ciração de um anime, comercialmente falando). No mais, fico no aguardo do segundo volume, com acontecimentos mais impactantes, ao menos assim espero.