Ler algo assim faz a gente entender melhor o conceito de clássico. Como uma história escrita há mais de cem anos, em meio a uma Inglaterra vitoriana (e pedante) pode durar até hoje?
Um fenômeno desses tem que reunir muitos fatores: qualidade, aceitabilidade, apelo e aquele algo mais, aquele quesito que torna uma obra atemporal.
Sherlock Holmes: Um Estudo em Vermelho é o romance de apresentação do detetive mais irregular de uma Londres supostamente certinha. É a introdução de como Holmes conheceu Watson, alugou a famosa casa 221B, na Baker Street e a primeira resolução fantástica que nós leitores pudemos testemunhar.
Mas, vai mais além. Essa primeira história mostra um Holmes que ainda não era Holmes totalmente, pelo menos aquele que se tornaria nos contos e romances posteriores: o viciado em drogas, o insuportavelmente pedante, forte Sherlock Holmes (o Holmes que foi inspiração de House). O único fator que se manteve é a genialidade que pasma a todos.
Tem um trecho que Sir Arthur Conan Doyle (o escritor) fala através de Dr Watson (o ecritor da históra) e através de Sherlock Holmes sobre as diferentes capacidades das pessoas. Há aquela que consegue entender as coisas sinteticamente e outras analiticamente. Isso quer dizer que tem aquela pessoa que consegue entender para onde vai uma história e há outras que conseguem desconstruí-la e entender como os fatos se sucederam.
A escrita de Conan Doyle é tão sintética quanto analítica, digamos assim e tudo acontecendo paralelamente. Enquanto nem todos os fatos foram expostos, Holmes já sabe o resultado, porque foi capaz de deduzir tudo. E, quando os fatos começam a ser expostos, nós, míseros leitores, começamos a conectar os pontos e entender como aconteceu.
E em seguida, somente naquelas últimas e esperadas páginas, Holmes conta como tudo aconteceu e como fora tão simples para ele!
E você xinga ele! Com aquele ar pedante que diz que tudo é simples e bem claro e que só não conseguimos entender, bem, porque não somos capazes, não estamos no “grupo analítico”.
Claro que estou fazendo essa brincadeira para que você se sinta o universo de Sherlock Holmes. Afinal, era impossível descobrirmos algo que não nos fora mostrado (nem citado por alto, apenas pistas que ele descobre e segue sem o conhecimento do leitor). É só para exemplificar o clima em que ficamos…
Mas, devo dizer que o grande trunfo da história não está no mistério, nem na resolução dele, como acontece nos diversos contos de Sherlock Holmes. Como é um romance, Conan Doyle teve oportunidade de contar tudo em mais palavras e a história paralela que ele revela para que sintamos na pela a ira que levou o assassino a se tornar o que se tornou, essa sim, enche de lágrimas.
É rica em detalhes, mas fluída. É emocionante, mas não apelativa. Tem personagens fortes, marcantes, mas foge dos clichês (na medida do possível para um romance popular).
Assim, Um Estudo em Vermelho é um livro para qualquer prateleira e para qualquer leitor que goste de coisas boas, seja do gênero que for. É rápido, forte, intenso, engraçado, leve e tudo ao mesmo tempo. E é por esses motivos que mesmo tendo sido escrito há 124 anos, ainda continua editado e reeditado.
A Edição Que Sugiro
Agora, sobre esta educação que ilustra a nossa imagem de abertura do post. É da Editora Zahar e é simplesmente a edição definitiva. Não é só porque a própria empresa diz que é! É porque é lindo mesmo, ilustrada, cheia, lotada de notas sensacionais, que ajudam a contextualizar e até informar o leitor mesmo.
Algumas notas são até esdrúxulas, na verdade, coisa de fã doido, sabe? Curiosidades até desnecessárias. Eu recomendo que você leia tudo e aí, a cada capítulo, após ler, dê uma olhadinha nas notas. Se você ficar parando para checar, acho que nem entende a história, de tanta informação que você vai receber.
Mas, é uma versão sensacional, papel e tradução maravilhosa, com ilustrações da época mesmo, muito legal e por um preço bem em conta, cerca de R$28,00, em qualquer livraria.
O risco é você quere colecionar e aí ter de comprar das 08 edições da coleção!
Espero que gostem e comentem por aqui também!
Info:
Editora: Jorge Zahar
Autor: Arthur Conan Doyle
Número de páginas: 232
Volume: 6