Acordando com zumbis
Pois é, zumbi que se preze levanta cedo e vai a luta… ou melhor dizendo, vai atrás do pão de cada dia. Não, não… seria a carne de todo dia, mas enfim, o fato é que depois de uma noite agitada ao som de um rapper bem boca suja e com muita gente feia rebolando ao mesmo tempo, sem mais nem menos a ilha paradisíaca, lar do luxuoso hotel Royal Palms Resort, se transforma no lar dos recém chegados comedores de carne fresca. De onde eles vieram? Quem comeu o cogumelo errado e começou a praga? Porque esses moribundos correm mais que os vivos? E porque ninguém além do seu personagem tem saco roxo suficiente para sair do abrigo e cair na pancada com monstrinhos?
Enfim, nada do que você queira saber será respondido, tudo o que você tem de manter em mente é que atrás da porta tem um remo em bom estado e lá fora tem alguns zumbis para rachar o coco. Por isso desde já lhe desejamos boa sorte, principalmente se você não tiver um amigo para te acompanhar nessa aventura.
Inovação nem sempre salva um game da mesmice
Quando os primeiros detalhes do game saíram e ainda não tínhamos nenhum vídeo do gameplay era realmente interessante pensar no quanto uma barra de stamina iria interferir na ação contra os zumbis. Eu mesmo já fiquei pensando no quão angustiante seria ter de me controlar a cada golpe para escapar dos inimigos sem me cansar rápido demais. Porém com o game em mãos, ao vivo e a cores, tudo o que vi foi uma perfumaria inútil. Se você corre longas distâncias, basta parar que em menos de 30 segundos sua energia está restaurada. O mesmo vale para os golpes durante os frequentes e sonolentos combates com os zumbis.
No começo você pode até levar um susto ou dois quando está andando calmamente e ouve um grito estranho ao longe ou mesmo o grunhido de algum coitado tentando se levantar, mas a medida que você avança pela ilha a temida repetitividade se apresenta e nada mais é surpresa no game. Os combates são a primeira coisa a perder o pouco da graça que ainda tem quando você percebe que um grupinho de 4 ou 5 zumbis pode ser facilmente derrubado por apenas uma pessoa com pontapés bem encaixados na hora certa. Porém o fim mesmo é quando você descobre que pode detectar o tipo de zumbi que está vindo só de ouvir o grito dele antes mesmo de visualizá-lo, provando que variedade aqui e consequentemente surpresa passam longe de ser uma prioridade em Dead Island.
O jogo até tenta levantar o ânimo das coisas com tipos de zumbis variados. Na maioria das vezes o que você vai encontrar são andarilhos e mulheres de biquíni (uma mais feia que a outra) sem muita força, mas como o game tem alguns aspectos de RPG, a medida em que o seu nível aumenta, missões mais difíceis aparecem e zumbis de nível mais elevado vão surgindo, mas no fim as coisas não saem muito do lugar e você apenas perde um tempo a mais pra derrubar o sujeito. Um bom exemplo disso é que se você tiver a paciência de coletar cada item pelo caminho vai poder vencer os embates mais longos só lançando remos e pedaços de cano em cima do bicho. Pode demorar, mas dá para fazer até com uma mão nas costas.
Tentando dar imersão inutilmente ao jogo, todas as armas usadas acabam se desgastando com o tempo, mas com a facilidade que é encontrar novos itens e com a possibilidade de repará-los em certos pontos da ilha, a inovação vira mais um detalhe do que algo que faça realmente diferença ou te coloque em situações realmente difíceis.
Requisitos mínimos para Dead Island? Comece com uma conexão de internet…
Quando você joga em campanha solo fica aquele sentimento de que todos estão se aproveitando de você, isso porque após as primeiras missões você tem de procurar cada um que tenha algum problema e tentar ajudá-lo. Tarefas como recolher 4 peças de um carro para alguém consertar, buscar álcool para cremar alguns defuntos ou transportar uma pessoa em segurança de um lado a outro na ilha são alguns dos passatempos que entre um zumbi velocista ou uma lesma tamanho família fazem você se aventurar sozinho fora dos abrigos.
Quando o assunto é estabelecer alguma comunicação com o mundo exterior a coisa não muda muito de figura e lá vai você sozinho novamente se arriscar contra os zumbis enquanto todo o resto fica escondido esperando você voltar com alguma boa notícia. Sei que isso pode parecer puro mimimi e tudo mais, mas é exatamente aí que Dead Island peca na hora de desenvolver sua história na minha opinião, pois parece que o único ser realmente vivo e pulsando emoção naquele momento é você enquanto todo o resto é apenas um bando de pessoas vazias que não querem fazer nada por si mesmas para se verem livres dessa situação. Você não adquire motivo algum para criar alguma espécie de vínculo com os personagens secundários, mesmo aqueles que você acaba vendo com mais frequência, eles estão ali apenas para pedir algo e só. Em outras palavras, sozinho ou acompanhado, dá tudo na mesma.
Acredito que no modo online Dead Island não transpareça tanto isso, porém isso só denuncia o fato de que o jogo foi criado pensando mais na ação cooperativa e nem tanto no modo single player, e não é só pela sensação de estar sozinho o tempo todo. O envolvimento dos personagens secundários se limita até mesmo nas poucas cutcenes que deveriam contar detalhes sobre a história e apresentar não só quem você está controlando, mas também os aliados que dividem os momentos de tensão, tornando o modo single player mais cru do que já é. O número às vezes absurdo de zumbis que te cerca de uma hora para outra também é mais um indício de que a diversão online meio que tapou os olhos dos desenvolvedores para todo o resto.
Uma pitadinha de RPG salva qualquer título, certo? Err… não!
Em Dead Island é assim, cada lugar tem uma dúzia de itens que você deve coletar, já que mais para frente eles podem servir não só para reparar os seus bastões, ferros, inchadas ou o que mais você achar como também podem render criações mais poderosas ou simplesmente ridículas como a machete elétrica. O péssimo costume de pegar qualquer coisa do chão é nítidamente obrigatório visto que armas de fogo são extremamente escassas, então nem se engane com aquela mira de FPS que você viu nos trailers, ela apenas serve para que você mire bem na cabeça do zumbi se quiser matá-lo com mais rapidez.
E por falar em matar, uma coisa que chega a ser digna de elogios é a física do jogo na hora de atingir alguém. Se você por um momento esquecer dos grunhidos repetitivos dos zumbis dá até para prestar atenção no movimento dos corpos quando você os atinge. Mesmo um zumbi já abatido em cima de um carro pode ser derrubado e sair rolando como se fosse alguém de verdade. Cabeças de zumbis também podem ser decepadas no porrete sem dó e as entranhas expostas de fato estão lá como os produtores prometeram. Infelizmente eles não deixaram as coisas tão abertas assim e ainda não é possível esquartejar um zumbi em tempo real.
Mas voltando ao RPG, bem… nada muito a declarar, temos pontos de experiência a ser ganhos a cada missão concluída e zumbis que vão variando de nível. No quadro do mapa, itens e afins também temos algumas habilidades novas que podemos adquirir com quando um nível superior é conquistado, e como cada personagem tem uma origem e costumes diferentes elas podem variar bastante de um para outro. Pena que a essa altura do campeonato a jogatina já saturou e nada mais além de um modo cooperativo para animar a salva, até Resident Evil: Operation Racoon City chega a parecer mais interessante na hora de colocar tudo na balança.
Finalizando
Dead Island parece ter sido criado com foco na ação cooperativa, onde ao menos você pode sair em equipe para destroçar os zumbis sem muita dificuldade e ainda dar muitas gargalhadas com certos bugs durante o processo. Pena que se focaram tanto nesse aspecto que acabaram esquecendo de todo o resto. Clima de survivor horror passa longe, não tem tensão, mal tem história, personagens secundários que não apresentam vida, as tais inovações não fazem diferença alguma para jogatina. Enfim, Dead Island é um jogo para você se divertir com os amigos e depois vendê-lo para algum desavidado antes que os produtores resolvam colocar online-pass nessa verdadeira pérola que foi superestimada demais e ainda gerou o hype mais rápido a cair por terra que já vi. O single player é uma negação total aqui e eu tenho certeza de que o seu rico dinheiro vale bem mais que uma experiência que lhe é entregue pela metade.
E para finalizar mesmo o assunto, aqui vai um vídeo demonstrando perfeitamente que o modo cooperativo não tem nada de aterrorizante, mas é extremamente hilário quando você consegue juntar alguns camaradas para dividir bobagens pelo headset. Cheguei até a ficar com pena dessa raça de zumbis, acho que eles nunca foram tão massacrados antes. Aliás… não deveria ser o contrário?