Domingo (29/11/11) era dia de ficar em casa e torcer para o Vasco acabar com a festa dos Corinthianos, mas (como o esperado eles foram incompetentes) eu sou mais teimoso que média nacional e decidi ir ao cinema ver o Palhaço, filme de autoria do ator Selton Mello que me cativou logo de cara com o trailer. A sessão foi ótima e só não ficou melhor porque descobri que o preço para se assistir um filme por aqui onde moro está cada vez mais feio (nada de menções), se o preço por uma sessão numa sala normal já está desse jeito nem quero saber quanto fica passar 02 horas vendo Happy Feet em 3D. Aliás, passei longe dessa experiência e pelo jeito não vou provar dela tão cedo na minha vida. Mas o pior da história não é isso e sim ficar mais de meia hora na fila esperando para comprar pipoca e não ter êxito na empreitada. Parece o transporte público da cidade, ele continua uma verdadeira bagunça, uma porcaria total, mas ainda assim sempre que possível arranjam uma desculpa para aumentar o valor da passagem sem investir no conforto de quem utiliza o serviço, qualquer dia desses nem o pobre trabalhador vai ter mais o direito de pegar um ônibus e ir trabalhar, o transporte público vai perder a razão desse nome e ser acessível apenas a quem é rico, mas isso não é assunto para debatermos aqui. Tá certo que desgraça que se preze nunca vem sozinha, mas realmente não sei ao certo o que houve, talvez eu apenas tenha escolhido um péssimo dia para ir. Afinal as telas de trailers do Cinemark só tinham olhos e 3 salas diferentes para o Amanhecer, ou seja, era noite de casais se aglomerarem para ver o besteirol e não de um pobre solitário ter direito ao combo mais simples pelo qual ele podia pagar: pipoca + cinema. Mas tudo bem, para mim antes de uma boa comédia americana não há nada melhor do que poder ver alguns atores brasileiros brilhantes que não precisam estar todo dia às 08 da noite na sua novela para você saber que eles existem. Logo, O Palhaço, eu e alguns salgadinhos e balas improvisadas valeram cada minuto.
Quem nunca ouviu aquela história do palhaço que alegra multidões por um país inteiro, mas se sente só a cada final de um dia de trabalho? O palhaço em questão se chama Benjamim, mas ele assim como eu é teimoso e totalmente diferente da média nacional de palhaços que estão na ativa por aí, porque em vez de se sentir vazio, deprimido, talvez às voltas com a loucura, Benjamim apenas quer perseguir dois sonhos que acabam caindo de paraquedas na sua vida: um ventilador e uma moça simpática de sorriso cativante que um dia topou com ele assim, sem mais nem menos. Ah… quase me esqueço também da documentação do rapaz. Crescido, de barba na cara e tocando um circo adiante com seu pai e amigos, Benjamim passa os dias esperando pela oportunidade de solicitar a sua primeira carteira de identidade, uma dor de cabeça a mais na sua vida. Nem parece muito, mas sonhos são assim, o que parece uma insignificância na realidade de uma pessoa pode ser a alegria eterna na vida de outra. E com todas essas coisas somadas o palhaço tenta tomar uma difícil decisão, não só para realizar os seus sonhos, mas também para descobrir se é mesmo essa a vida que ele tanto sonha ter.
Engraçado como às vezes você vai ao cinema e acaba se identificando mais do que devia com a coisa toda, acredito que muita gente que compareceu, ao assistir o filme deve ter se visto nem que por um breve momento ali também. É a famosa busca pelo que te satisfaz de verdade, inteiramente. É a eterna redescoberta que todo o ser humano tem que sofrer às vezes para se encontrar nessa Terra. Às vezes achamos que tudo está encaminhado e de repente certas experiências mudam a nossa mente de uma forma tão radical que nem mesmo conseguimos acreditar que aquilo está de fato acontecendo com a gente. Foi assim comigo por exemplo quando descobri por uma simples confecção de um texto pessoal que eu queria de verdade entrar para o Portallos e escrever regularmente. Nos tempos de escola eu nunca fui fã de pegar um lápis e perder horas escrevendo os meus pensamentos, muito pelo contrário, eu achava tudo isso um saco, um tédio indescritível, na minha mente de fantasia interminável de crianças, eu poderia dizer que preferia a morte a ter de me sentar e escrever um texto. Mas por alguma razão, talvez uma dose bem pequena de juízo, quando o assunto era me salvar de uma nota vermelha no boletim ou das tristes aulas de recuperação no fim do ano (eu era um aluno assíduo nestas aulas) todo o esforço não empenhado antes era descarregado com o máximo de inspiração possível. Eu não tinha vontade, mas tinha aptidão, eu acho. Atualmente estou vivendo isso novamente, meses atrás se você me perguntasse o que eu estaria fazendo hoje, eu lhe diria: cursando minha faculdade de redes de computadores. Mas o simples fato de subir ao palco de um auditório com cerca de 30 pessoas assistindo a apresentação final de um projeto meu de conclusão do curso já encorajada por outras apresentações menores feitas em sala de aula ao longo de uma ano e meio, 3 luzes focando o meu rosto e a merecida vitória momentânea contra a timidez, acabaram por me despertar outra vontade. A de atuar. Nem todos que subiram ao palco naquela noite inesquecível junto comigo sabem dessa revolução que rolou na minha mente e talvez eles nem mesmo entendam caso eu tente explicar, mas isso não importa. Tudo o que eu sei é que eu preciso ir em frente e provar dessa experiência para descobrir se eu realmente me vejo feliz na arte de enganar o público ou se o meu caminho é mesmo passar o resto da minha vida atrás de uma mesa, por assim dizer.
Certo, certo, você vai dizer que eu fugi do tema que é falar do filme ou que eu também sou um palhaço sem saber o quer da vida, mas essa última opinião não me importa muito. Se você assistiu tudo bem acordado e não ficou rindo esporadicamente entre uma piada e outra você com certeza entendeu tudo o que eu disse. O caminho da redescoberta do Banjamim é mais curto, é mais rápido, afinal estamos falando de um filme de 02 horas, fica mais simples de ser encarado sem muita profundidade, ainda mais com o final nem tão surpreendente mostrando o que afinal ele decidiu fazer da vida dele, mas se encaixa perfeitamente na minha realidade e na de muita gente desde que se preste bastante atenção.
No mais, só poso destacar as atuações de classe e toda a beleza de um cinema que ainda tem muita lenha para queimar e alegria para dar a quem se atrever a largar o convencional e prestigiar o nosso cinema brasileiro. Selton Mello e Paulo José dão um show de interpretação como o esperado, mas a surpresa mesmo vem com cenas aqui e ali mostrando certas caras que não costumamos ver no cinema, como Moacyr Franco interpretando um delegado de algum fim de mundo que prefere falar dos seus problemas com o seu amado gatinho de estimação ao ter que prender uns encrenqueiros. Jorge Loredo (o Zé Bonitinho) então nem se fala, percebe-se que além de trazer o humor inconfundível de sempre, ele não larga certos trejeitos perfeitos para denunciar o ator caso ninguém o reconheça logo de cara. Achei demais também a atuação do Tonico Pereira, sempre engraçadíssimo, caiu como uma luva no papel dos irmãos gêmeos, foram poucos minutos, mas deixou sua marca. Também gostei de ver o Ferrugem e fiquei me perguntando por onde anda esse rapaz, nem sabia que ele era ator na verdade, provavelmente esteja no teatro longe dos holofotes da TV, e em vista do atual momento dela, só posso dizer que ele faz muito bem. estaque também para a triz Larissa Manoela, que não parece, mas meio que divide o posto de protagonista com Selton Mello durante o filme. O resto do elenco é menos conhecido, mas nem por isso menos brilhante, todos apresentam aquele humor simples e direto, sem rodeios, alterando também com a beleza que a simplicidade de um circo pequeno como o deles pode apresentar. Ao vivo não seria a mesma coisa, mas no cinema tudo isso se torna algo mágico com uma cenografia incrível, de encher os olhos realmente, tanto que cheguei a soltar o famoso “nem parece brasileiro”. Essa foi a segunda vez aliás, a primeira foi em Tropa de Elite 2, pra vocês verem o quanto eu tenho ido cinema, vergonha mesmo.
Outra coisa que eu queria elogiar antes de terminar são os cenários, não do circo porque depois das primeiras cenas já não há muita surpresa nele nesse aspecto pra mim, mas sim das estradas, montanhas ao longe, planícies, aquela grama dividindo espaço com a poeira no caminho, aquele brasil tão bonito quanto essa selva de pedra que está ali, para quem quiser ver . Eu acho tudo isso muito lindo, tive a oportunidade de viajar apenas duas vezes na minha vida, sendo que em uma delas eu era pivete demais para me lembrar de muita coisa, acho que a segunda foi mais marcante. Fui ver meus avós no interior extremamente escondido das profundezas quase intermináveis de Minas Gerais na cidade de Almenara durante a virada de 2009 para 2010 e mais do que enfim chegar ao nosso destino fiquei por alguns momentos desejando que a viajem não terminasse tão cedo, tamanha vontade era de descer um pouquinho do ônibus e andar por aquela paisagem, tentar alcançar uma daquelas montanhas enormes mesmo sabendo que o calor escaldante a vida de sedentário na cidade não me deixariam, só para tirar uma foto ou olhar o tamanho descomunal e se imaginar lá em cima. Olhar os pássaros e invejá-los pela liberdade de subir aos céus e olhar o mundo de um jeito que é impossível para nós. Bom… chega né? Já divaguei demais e isso está virando uma reflexão pessoal e nem tanto um “Eu Fui” convencional, mas é isso, quem puder curta o filme. Ele é simples em todas as suas propostas, mas acima de tudo cativante em todas elas também. Recomendo.
Ficha Técnica
Título Original: O Palhaço
Diretor: Selton Mello
Roteiro: Selton Mello e Marcelo Vindicatto
Gênero: Drama/ Comédia
Elenco: Selton Mello, Paulo José, Larissa Manoela.
Estréia nacional: 28/10/2011
Duração: 88 minutos