Adeus, Shingo Araki!

Sayonara, Athena No Sainto…

Não consigo me lembrar de mais nenhum caso onde o criador cedeu espaço a alguém de fora para tornar a sua obra um sucesso mundial. É uma grande ironia da vida eu acho, não tenho certeza alguma porque me falta pesquisa, mas conhecendo um pouco do gênio problemático de Masami Kurumada, imagino que nem mesmo ele pensou que ao entregar o seu primeiro grande trabalho no mundo dos mangás ao character design Shigo Araki, Saint Seiya iria ganhar o mundo da forma como ganhou. Para quem já pegou um mangá dos Cavaleiros do Zodíaco e ficou se perguntando porque diabos o traçado daquilo era tão feio (ou simplesmente diferente demais do anime), saiba que a explicação para isso é a diferença do trabalho do criador do mangá para o trabalho do diretor de animação do desenho. Geralmente não existe uma diferença tão gritante quando um mangá começa a ser adaptado para o anime, mas quando a TOEI Animation abraçou a idéia de trazer a obra para a TV, Shingo Araki foi contratado para remodelar todo o visual do mangá afim de popularizar mais rapidamente o que estava indo para a televisão.

Decisão mais do que acertada? Não sei, eu não duvido que a série faria sucesso do mesmo jeito, mas muito provavelmente eu não seria assim tão apaixonado por ela se não fosse a mão santa do Araki deixando tudo mais bonito da vida do Kurumada. Acho uma pena o criador continuar desenhando do mesmo jeito após tanto tempo de carreira. Quando um manga se adianta e ganha uma animação para a TV é comum o traço sofrer uma mutação e ficar mais parecido com o anime, mas esse não é o caso do Kurumada. Ele não evoluiu nada, continua criando múltiplos Seiyas como protagonista, desenha os personagens sempre com os mesmos ângulos, sem falar que depois de 13 anos de hiato por conta de desentendimentos com a TOEI, ele conseguiu a façanha de estragar a animação das fases Inferno e Elíseos da saga de Hades, mas enfim, isso já é outro assunto.

Além de tornar tudo mais magico no melhor anime que já ousei assistir, Shingo Araki também fez outros trabalhos. Alguns exemplos nem precisam de apresentação para você descobrir que são fruto do trabalho dele, como The Rose of Versailles de 79, Fuuma No Kojiro de 89, Babel II de 92 ou Ring Ni Kakero de 2004. Um toque delicado que agrega beleza por onde quer que passe, essa foi a receita do sucesso de Saint Seiya, o traço é tão inconfundível que não há como deixar de ver um pouquinho de Cavaleiros do Zodíaco em cada um desses animes acima citados. Claro que nem tudo o que ele fez ficou assim tão parecido com Saint Seiya, outras animações em que ele esteve envolvido como diretor e que não lembram tanto assim o seu toque pessoal foram Devilman de 72, Lupin III de 84, Gegege no Kitaro (versão de 96), entre outras animações que eu gostaria muito de ver sendo traduzidas para o nosso português nos dias de hoje, mas fico só na vontade.

Infelizmente nenhuma estrela brilha para todo o sempre e assim, no dia 1 de dezembro deste ano, Shingo Araki, que já havia se aposentado devido a saúde já debilitada, faleceu vítima de uma insuficiência circulatória aguda em Tóquio, às vésperas de completar seus 73 anos. Fechando essa singela homenagem eu digo muito obrigado por esse legado maravilhoso deixado por você. Acredito que a sua obra merece sem sombra de dúvida estar ao lado dos grandes feitos do mestre Osamu Tezuka e Shotaro Ishinomori. Se eu tiver a chance ou a sorte, não sei, conhecerei cada uma dessas obras maravilhosas perfeitamente adaptadas para a TV japonesa em algum momento da minha vida. Num tempo onde garotinhas sapecas ou desproporcionalmente avantajadas demais invadem a programação japonesa (dadas as devidas excessões), dou preferência por explorar esse baú cheio de riquezas que é o passado. Mais uma vez, obrigado.