Um garoto jornalista, um capitão bêbado, um cachorrinho genial, e um grande tesouro…
Tintin supriu minhas expectativas, muito positivamente. Falo isso por várias características, e ainda mais pelo fator “comum” e talvez até “mesmice” que esperava do filme.
Ok, um filme que carrega nomes de Steven Spielberg e Peter Jackson, por si só já se pressupõe algo no mínimo que te entreterá pelas horas que vem a seguir, mas mesmo assim fui ao cinema esperando isto, e com apenas isto sairia satisfeito aquela tarde.
O que aconteceu foi que Tintin foi um filme completo, longo, divertido, e que dosou momentos de comédia de heroísmo dos desenhos antigos com maestria. Cenas propositais que a mão do protagonista fica próxima ao máximo da câmera, enfoques de rostos e expressões, texturas. Tudo é muito real, e faz parecer mesmo que atores tiveram algum envolvimento. Acontece que toda a realidade proporcionada por essa animação perfeita não tira, em nenhum momento, o status “comic” ou “cartoon” da coisa. Um colega que foi ao cinema chegou a se questionar várias vezes se não houve captura de imagens reais que depois foram computadorizadas, e pelo que li na internet, foi tudo animação mesmo. Nos Comments acabaram falando que houve capturas de movimentos mesmo, então foi um equívoco meu, o filme utilizou captura de movimentos sim.
O filme combina 3 diferentes histórias do icônico Hergé, que seriam The Crab with the Golden Claws (1941), The Secret of the Unicorn (1943), e Red Rackham’s Treasure (1944), algo que não sabia quando fui ao cinema, pelo contrário, tirando o trailer de lançamento, acho que não vi mais nada relacionado. Acontece que misturar as histórias (e transformá-las em uma linha de tempo única, fazendo-as parecer totalmente interligadas, na verdade, uma só) faz com que o filme não caia quase nunca na mesmice e tenha um ritmo agradabilíssimo, mesclando as muitas faces da obra de Hergé, como ação, aventura, espionagem, comédia, mistério.
Tintin e o Capitão Haddock, vão da França ao Saara, atravessam os mares, voam em aviões, são atacados por bandidos de alta estirpe, e tem a origem de Haddock contada de forma maestral. A conexão dos fatos com a história, o plot, principal é demais. O filme carrega pontas paralelas, que ao fim se unem (ou não) a história principal, o mistério de Unicorn. O interessante que o filme fecha todas as suas pontas, sem deixar aquela deixa cara-de-pau na história para ter uma continuação. A história se finaliza, mas nada impede que no final tenha um belo “Ei, você gostou dessa aventura? Saiba que muitas outras nos esperam!”, já que uma trilogia foi meio que confirmada por esses tempos.
Uma sequência de cenas específica, que me surpreendi foi da chegada a Baghar, com as tomadas panorâmicas. A cidade é viva, é linda, e após no filme temos cenas de ação que deixam isso bem claro, e nos dão outra visão em lente de aumento sobre o visto na chega do trio à cidade.
A transição mais impressionante sem dúvidas é o conto do antepassado de Haddock, misturando suas loucuras no mundo real que misturam-se com sua imaginação que conta livremente a história que lhe foi passada. Talvez tenha até um toque de Don Quixote aí, nesse mix de realidade e fantasia do personagem. Aa cenas de suas bebedeiras são impagáveis, e mantém todo um clima de humor inocente no filme.
Esse é outro acerto do filme: o carisma e a inocência. Eles regem o filme (como há de ser), e cada cena de ação traz consigo pitadas de comédia, cada descoberta traz o carisma de Tintin, cada trapalhada vem com a inocência de Dupond e Dupont. A animação, principalmente as expressões, trazem esse clima para o filme e o dão um toque muito bom das próprias histórias originais.
O filme, falando mais um pouco sobre sua história, é bem consistente. Das pontas que citei, o filme deliberadamente inclui algumas para confundir o caminho para se desvendar o enigma principal, uma coisa que gostei muito aliás, pois tenta tirar a previsibilidade da coisa. O filme também tem algumas cenas fortes até para animação, com sangue e uma morte. Apesar que a inclusão de alguns personagens icônicos como Dupont e Dupond foram meias fan-service, elas ainda assim cumprem o papel de enriquecer e contrastar momentos de mais ação no filme.
Eu vi na versão IMAX, meu primeiro aliás. Se eu recomendo nesta versão? Sim. Talvez não totalmente pelos efeitos (que sim existem, e foram bem utilizados na minha opinião, e me proporcionaram, de fato, uma imersão maior ao filme, como deveria ser em toda produção neste formato), mas principalmente pelo som. Gostei muito do som da sala, e digo o mesmo que disse para o 3D mas com mais ênfase neste quesito. O tamanho descomunal da tela ajuda, também, a apreciar melhor o detalhas desta produção belíssima. Porém não acho que em 2D, o filme perca seus principais pontos fortes como carisma, e detalhes, só que o segundo é (por óbvias razões) posto mais em foco na versão IMAX (e sim, nela pelo conjunto, não só pelo 3D).
Sobre a dublagem nada a reclamar, gostei muito da mesma, e não incomodou em momento algum, só somou. Aliás até gostei pois em inglês alguns nomes são alterados como o simpático cachorrinho Milou que vira Snow, Dumond e Dupont que viram Thomson e Thompson.
Spielberg chegou a dizer que o plano para filmar Tintin estava meio que pairando em sua mente faz décadas, mas que não o teria feito pois a tecnologia não permitiria dar a vida que as criações de Hergé demandariam. E ainda bem que ele esperou. Tintin é um dos melhores filmes de animação que eu já vi, falo isso sem pestanejar, e até agora o melhor filme que vi nos cinemas neste ano de 2012. Recomendo com gosto, e respondendo ao final do filme, o meu apetite por novas aventuras está insaciável! Que venham os outros!