Opinião | Bleach: repeat and reboot! (Repetir e Reiniciar)

Fui conversar com os meus botões e bem… concebi  esta criança!

Como eu já vi muito leitor dizer aqui no Portallos entre um CDM e outro, eu deixei de me importar com o enredo de Bleach, muito embora lá no fundo ainda gostaria de ver tudo se ajeitando de novo. Por hora nada mudou, o mangá ficou massante e assim segue, não pelas lutas super arrastadas, mas sim pelos mega quadros em branco, constante falta de respostas, personagens abduzidos sumidos misteriosamente e nenhuma surpresa que te faça arregalar os olhos. A última vez que me animei de verdade com o mangá deve ter sido naquele capitulo com o Ichigo chorando de joelhos prestes a receber o golpe final pelas mãos do Ginjou. Mas a alegria só durou por uma semana, já que na outra a Rukia apareceu para devolver os poderes dele.

Ao contrário de muitos que já começaram a broxar com a obra logo na luta de inverno em Karakura, eu comecei exatamente nessa parte. Eu engoli seco a repentina traição do Gin e relevei com todas as forças o fato do Ichigo usar o Mugetsu contra o Aizen numa luta que estava claramente sendo dominada por ele. Mas nessa saga dos fullbringers, mais precisamente naquele momento, eu esperava tudo, menos ver ele sair do fundo do poço do nada, como se toda aquela pressão psicológica nunca tivesse acontecido. O Ichigo viajou mais uma vez até o fundo do poço e parece não ter aprendido nada com isso porque uma força maior mais uma vez o salvou no último minuto. Eu detesto quando Kubo repete esse erro, mas mesmo assim isso ainda não é o bastante para que eu desista do substituto de shinigami.

Eu aprendi a gostar do personagem por duas coisas: primeiramente pela roupa estilosa (sim, eu acho aqueles farrapos estilosos demais) toda tingida de negro com detalhes em branco e carmesin naquela capa toda esfarrapada. Eu gosto muito do visual do Ruffy e do Naruto, mas eles nunca me provocaram nada demais, provavelmente porque a minha cor preferida é o preto. Se você me perguntas por exemplo qual o segundo visual dos animes mais bonitos que já vi, diria que é o do Allen de D. Gray Man porque… é preto… e branco. Sei lá, sempre detestei heróis coloridos, não é a toa que eu nunca fui com a cara do Superman mesmo tendo um punhado de HQ’s velhas implorando por uma oportunidade de me fazer gostar do personagem desde que eu era moleque. Sei que dito isso era só correr para Gotham City e me aprofundar nas histórias do Batman, até confesso que tenho um leve apreço pelo personagem, mas não dá, acho HQ’s méh demais e não, não vou usar aquela velha desculpa sobre ficar perdido pegando o bonde andando, eu apenas não consigo me empolgar pra ler uma tanto quanto um mangá. Embora isso não queira dizer que um dia eu não possa me interessar por uma, atualmente prefiro continuar um noob que vai todo ano religiosamente ao cinema ver os filmes da Marvel e DC que já está bom demais.

Fato é que se medissem os meus batimentos cardíacos com 3 cenas épicas diferentes de animes da atual trindade Shonen Jump, tipo o primeiro grito do Ruffy declarando o Gear Second pra cima do Blueno ou o Naruto preparando aquele Rasengan cheio de lágrimas no vale do fim, ambos perderiam feio no marcador assim que o Ichigo bradasse aos quatro ventos: BANKAI.

Mas deixando de lado o meu gosto por preto, a segunda coisa que despertou o meu interesse no personagem foi uma enorme curiosidade repentina em saber como ele iria amadurecer com o tempo. O Ichigo fazia bem o típico protagonista de um shonen de porradaria, um cara disposto a atropelar qualquer um na sua frente, ninguém aí se esqueceu dos vagabundos levando porrada na rua logo nos primeiros momentos de vida do mangá né? Quando a rapaziada entrou na Sociedade Espiritual pela porta dos fundos isso não mudou muito e me dava cada vez mais a sensação de uma história sendo contada às pressas, mas eu enxerguei algo mais nele assim que a sua luta contra o seu hollow interior começou. Quando o Byakuya lançou as pétalas da Senbonzakura para reclamar o julgamento adiado da Rukia, ver o personagem ali tremendo na base depois de tanta queda de braço em Sereitei foi um detalhe legal que o humanizou mais e de certo modo colocou um freio naquele ritmo acelerado de acontecimentos que não me agradava muito. Quando Ulquiorra e Yami visitaram a Terra para dar as boas vindas, mais uma vez as dúvidas do personagem entraram em cena e eu não me senti num deja vu porque sabia que o confronto com o seu demônio interior estava longe de acabar.

De certo modo eu achei interessante ver o personagem sofrer com tantos questionamentos: eu vou  ser mesmo tomado por ele? Não há nada que possa fazer? Acredito que todo bom herói deveria passar por algo do gênero. Mesmo o Ruffy, um personagem que é a personificação do non sense quase que 100% dos momentos em One Piece teve o seu momento de parar e refletir tudo o que estava acontecendo com ele depois de Marineford e eu amei ver o personagem se contorcendo de raiva e chorando de dor, porque sabia que depois dali sim ele iria amadurecer de verdade. Mas esse processo todo teve início ainda lá atrás quando o Dragon salvou todo mundo de ser preso pelo Smoke em Loguetown ou quando o Aokiji decidiu não matar o Ruffy e levar a Robin pouco antes de entrarmos no arco de Ennnies Lobby. Quando ver o Ruffy recebendo suporte de terceiros que não pertenciam ao bando e só o fizeram porque acharam o garoto promissor o bastante para fazer história no novo mundo começou a dar nos nervos, o autor mexeu os pauzinhos e trouxe o bom e velho chapéu de palha de volta e era exatamente isso o que eu esperava ver em Bleach também.

Só que chegou uma hora em que essa situação cansou e cansou porque nunca mudou, ficou nítido que o Ichigo simplesmente não está mais evoluindo, afinal de que adianta readquirir suas forças se a sua mentalidade ainda é a da época em que toda essa confusão começou? Ele ganhou a primeira máscara de hollow e o domínio de si mesmo derrotando o seu pesadelo interior, ganhou a segunda máscara derrotando o Ulquiorra que estava anos luz à sua frente no que diz respeito à força, mas não foi páreo para as lágrimas da Inoue e ainda aprendeu o último Getsuga Tenshou, executando o golpe mais poderoso já visto na trama até aquele momento. Só que mesmo depois de tantas experiências e aquele papo todo de enfim ter encontrado a sua resolução de luta tão bem explorada na batalha contra o Ichigo hollow e até mesmo na saga filler dos Bounts, mesmo depois de tudo isso o personagem não deixou de ser um medroso, não largou as suas incertezas, não deixou de lado nem mesmo aquela expressão de boboca como o Mr. T chegou a mencionar num CDM no antigo blog. É como se quase nada feito até aqui fosse mérito dele, como se ele não tivesse motivos, não tivesse chances para amadurecer porque sempre há alguém para salvar a pele dele e fazê-lo voltar mais confiante, mas isso só até que um dia ele seja arrebatado novamente por uma força desconhecida e se feche mais uma vez no seu casulo de dúvidas.

Ver o Kubo repetir a dose pela zilionésima vez nesse último arco foi a gota que faltava para transbordar o meu balde. As lutas quase intermináveis no mangá com dúzias de quadros em branco, o esconde esconde que rolou em Karakura assim que o Azien pôs os pés lá, a inexplicável ausência de mortes nessa guerra e porque não dizer no mangá inteiro, ah… tudo isso eu varreria para debaixo do tapete se ao menos o autor se decidisse no que exatamente ele quer transformar o Ichigo. Se ele repetir a fórmula na tão falada próxima saga vou começar a achar que o personagem tem bipolaridade e das mais agudas, porque num momento ele faz cara de mal e no outro já está mais assustado que qualquer outro personagem do elenco.

Pior do que isso só mesmo tentar se lembrar dos furos dados com certos personagens que foram totalmente jogados para escanteio. A rotatividade deles é algo que todos os  mangás da atual trindade da Jump tem, mas na minha opinião somente One Piece consegue trabalhar esse aspecto de forma esplêndida. Na obra do Oda o vilão que fez você odiá-lo com todas as suas forças temporadas atrás volta tempos depois como um amigo ou só um aliado de momento. Se com a maioria dos shonens da década de 90 eu aprendi que todo o vilão que se preze devia morrer agonizando no chão, nos tempos atuais aprendi a gostar deles tanto quanto os mocinhos. O Buggy por exemplo não me deixa mentir.

Naruto também faz bem a sua parte nesse aspecto, na verdade fazia bem melhor lá nos tempos mais áureos do mangá, mas continua competente nisso, não me empolgo mais com a história desde que essa transição da criançada de Konoha entrando na puberdade começou, mas o Kishimoto nunca escorregou na banana a olhos tão vistos para me desagradar com 100% de certeza no enredo, já o Kubo beirou o ridículo e consegui cair de lá de cima com louvor. Afinal quantos personagens foram criados e não muito depois colocados de lado desde que o mangá desandou? O Kon (oi?) que era um grande barato lá no início da história ninguém sabe por onde anda e se não fossem os fillers no anime acho que até o Kubo já teria esquecido o mascote. Também sinto falta dos escândalos do Kanonji, achava ele o maior barato. Sei que esse e mais algumas figuras não fariam muita diferença ou conseguiriam no máximo algumas pontas relâmpago no meio dos atuais acontecimentos, mas se os outro mangás fazem isso com tanta naturalidade, porque Bleach não pode fazer?

Cadê o Grimjow que sumiu logo depois do Noitora frustrar a luta dele com o Ichigo? O cara pra mim foi uma das melhores criações do autor. Acho que a maioria gosta mais do UIquiorra até hoje, mas eu sinceramente acho o personagem sem sal demais, exatamente do jeito que ele sempre fez questão de ser. Tinha aquele ar de prepotente, vilão overpower e tal e foi assim até o final, talvez ele tenha se mostrado até mais durão que o Aizen que ficou doidão da cuca nos seus últimos momentos, mas eu nunca enxerguei emoção nas palavras dele, era um ser oco por dentro, parecia o Wonderwice só que totalmente sério ao invés de abobado. Já o Grimjow sempre foi mais interessante na minha visão porque ele era o total oposto do Ichigo: ousado, inconsequente, um ser insandecido por natureza. Aquela dose de loucura extra estampada no rosto dele sempre tirou o melhor do Ichigo nas lutas que os dois travaram e o ápice delas foi sem dúvida no Hueco Mundo. Até o episódio em que decidi parar de ver o anime nenhum outro foi mais épico que o 166.

E o que falar da Nell? Ainda admiro muito o Kubo quando penso nela, é nessas horas que eu vejo o quanto o autor não deixa a desejar tanto se comparado à outros quando o assunto é criar personagens carismáticos. Pra mim o segundo grande problema do Kubo atualmente é esquecê-los de uma hora pra outra, sem nem uma consideração final sobre que fim levou tal sujeito. A guerra em Karakura acabou e poucos foram aqueles que ficaram no Hueco Mundo e receberam algum tipo de menção, nem um ”e eles sumiram no horizonte sem deixar rastro” eu vi. O mesmo vale para os Vaizards que parecem ter perdido o seu propósito depois que o Aizen foi preso. Alguns até foram tapar buraco nas 13 divisões como o último capítulo antes da pausa mostrou, mas e o resto da galera? Eles ainda tem espaço para o que vem vindo aí?

Sei não, também não foi muito difícil ficar preocupado quando vi mais uma leva de personagens nessa saga dos fullbringers. A patroa do Ichigo por exemplo ainda está nos planos? Aliás alguém pode refrescar a minha memória e me dizer que relevância ela teve nessa história toda? Báh… pouco importa, esse arco significou tão pouco para mim que talvez eu nem ligasse caso o Kubo deixasse mais pontas soltas e personagens órfãos.

O substituto de shinigami desaparecido que voltou para persuadir o atual? Tá, o plot era bem manjado, vi isso anos atrás acontecer em YuYu Hakusho com Yusuke e Sensui, mas tudo bem, nem por isso a execução precisava ser tão ruim. Gostava muito de tentar imaginar o que o Kubo estaria guardando para uma luta final entre o Tsukishima e o Ichigo, mas quando o personagem se deparou com o Byakuya ficou claro que o autor já estava fechando as portas para qualquer coisa verdadeiramente interessante ali. Ele criou um personagem com uma habilidade tão incomum e o jogou fora assim que ouviu o menor soar do gongo para uma conclusão que me pareceu um tanto forçada (editores da Jump por trás disso? Eu não duvidaria). Ao contrário do Ginjou eu realmente achei que ele tinha potêncial para mais do que aquilo.

Me enganei, ele escolheu o Ginjou para o último ato e eu ainda muito ingênuo fiquei desejando que ele ou mesmo o Tsukishima fugisse dali para recobrar as forças e de algum modo virar o jogo ao seu favor, mas nem isso. Ainda não me conformo de ter visto o Aizen passando pelos principais estágios de gestação de uma borboleta, mas pior que isso foi ver aquela apelação toda em cima do Ginjou para dar algum gosto ao fim tão sem sal que foi o desfecho da saga. De que diabos valeu se apoderar do fullbring do Ichigo, declarar que detinha as mesmas habilidades do protagonista e a pior apelação de todas: mostrar que também era metade hollow e metade shinigami? Sério, essa última pesou demais, isso sempre foi uma característica única do Ichigo, mas de uma hora para outra o Kubo abriu mão disso na tentativa de esquentar uma história meia boca que já estava com os capítulos contados para acabar.

Melhor seria ele deixar o vilão overpower logo depois da absorção do fullbring e forçasse o Ishida a lutar junto com o Moranguinho, ao menos ficar mais interessante do que ver mais uma vez uma cruzada de espadas resolvendo tudo outra vez, sem falar que o Quincy merecia um destaque ali, mas como o esperado, ousadia e surpresa ficaram de fora.

Não vou comentar a maioria das outras caras novas que estavam só de passagem ali porque quando o ”coro comeu” nenhum deles se mostrou verdadeiramente interessante também, se tivessem ficado só naquela fase escolar talvez eu não os desprezasse tanto quando tudo terminou. Quando o Zaraki e o Hitsugaya chegaram ownando geral a galera eu meio que me senti trollado porque eu realmente acreditei que essas novas adições que mais pareciam personagens saídos de um filler feito para o anime fariam a diferença mais cedo ou mais tarde. No fim, essa história com os fullbringers foi que nem uma gripe que dá e passa, nada mais.

E cá estamos agora a espera (ou nem tanto) da nova saga que pediu 3 semanas do autor fora do ar para preparar o pontapé inicial. Não sei o que esperar do que vem por aí, o anúncio de que o próximo arco será o derradeiro me deixou contente e triste ao mesmo tempo. Contente porque os sinais de desgaste são claros e como tenho um apreço enorme pelos velhos tempos gostaria de ver o mangá voltar a figurar entre os grandes do topo antes de se despedir de quem aprendeu a gostar desse universo dos shinigamis. Triste porque essa notícia vem de encontro com a visível baixa na popularidade da obra no Japão e coloca uma pá de cal nas palavras do autor proferidas na Jump Festa (de que ano mesmo?) em levar a obra por mais 10 anos na revista semanal. Eu sempre soube que um dia iria acabar, mas eu nunca quis pensar a respeito.

Bleach Special Stage 1, 2 e 3, como foram chamadas as pequenas notas sobre a nova saga nestas últimas semanas, já deram a entender que ao menos o Grimjow e a Nell de algum jeito vão voltar. Fico até alegre em saber, mas não menos revoltado, ainda não engulo como 2 personagens tão emblemáticos tiveram que esperar tanta enrolação para enfim serem lembrados novamente. Quanto ao resto dos segredos, haja fôlego e destreza para encaixar tudo isso, não? O espírito rei, o segredo por trás da morte da mãe do Ichigo, o segredo de Ishin e Urahara, a divisão zero, sem falar de fatos que o Kubo  plantou aqui e ali e que eu sinceramente já achava que ele havia esquecido tudo, como que segredo se esconde por trás do nascimento do Ichigo, porque ele e Kaien são tão parecidos, o que significava o termo puro sangue para os Arrancars, a possível volta do Aizen (quem não está surpreso levanta a mãozinha) e o que diabos o Mayuri conseguiu quando foi até o Hueco Mundo. Com o mediano retrospecto do autor fica difícil acreditar que toda essa carga de informação fará mesmo diferença no decorrer desse arco. Mas…

As declarações do Kubo nessas notas deixam claro a confusão que se instaurou na mente dele nos últimos tempos. Ele fala que antes da saga contra o Aizen terminar ele já começou a ter idéias sobre o que faria para essa saga nova (isso explica tanto buraco  no roteiro?) ao mesmo tempo em que tinha vislumbres sobre uma história que contasse um pouco do substituto de shinigami que veio antes do Ichigo. Não que isso mude muito as coisas, o enredo se tornou algo meia boca mesmo e ficou pior ainda com os quadros gigantescos que exaltaram o traçado idêntico ao anime, mas desperdiçaram páginas e mais páginas com uma história que não saía do lugar. Isso é fato, mas fiquei imaginando como cada autor organiza as suas idéias quando um turbilhão de possibilidades assim se aglomera na sua mente. Seria o peso do sucesso atrapalhando o autor? Acho que não, se fosse assim o Oda ou Kishimoto estariam fazendo barbeiragem com as suas obras. Se bem que quando penso em Naruto atualmente pouco consiggo me lembrar do que restou dos velhos tempos, mas isso é outro papo.

O que o futuro reserva para Bleach daqui pra frente é uma grande e imensa incógnita, mas a Shonen Jump estampou em letras bem garrafais que a nova saga levou 5 anos para ficar pronta. Se isso vai fazer a diferença, se ao menos 90% das lacunas serão preenchidas satisfatoriamente, se o Kubo vai contar mais história e deixar menos quadros vazios e se o mangá vai ter fôlego para voltar ao topo da lista antes de acabar, só dando tempo ao tempo para descobrir. Como fã incondicional do Moranguinho preto deixo aqui os meus mais sinceros votos para que a obra volte a entrar nos eixos e feche tudo com chave de ouro quando essa hora chegar. Não ficaria feliz com menos que isso.

A segunda imagem colorida nessa postagem, aquela ali com o Ichigo pronto para lamber o pescoço do Aizen na guerra em Karakura, é de autoria da usuária GermanLS7 lá do deviantART.

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