De Brian K. Vaughan, o autor de Y: O Último Homem, um universo rico e caótico!
Vaughan não é um autor desconhecido pra mim. Y The Last Man foi possivelmente um dos primeiros quadrinhos da Vertigo, e mais voltados ao público adulto, que li neste meio tempo. Foi coisa de poucas semanas entre começar a primeira edição e acabar a 60, com um misto de tristeza (pelo fim da série), e refletindo o seu final meio em aberto.
O que mais me intrigou era a meneira e a disposição deste tipo de quadrinho, que se assemelha muito ao velho “começo, meio e fim” no qual me acostumei lendo mangás. A coisa foi tão bem escrita e fluida que me fez devorar as edições.
Então eis que surge no anúncio de aniversário de 20 anos da Image Comics, que Vaughan ia escrever uma nova HQ original, desta vez do lado de Fiona Staples, que vinha sendo celebrada pela mídia recentemente, e mesmo sem conhecer os trabalhos anteriores adianto que é com razão que é celebrada.
O leitor é jogado no meio disso, totalmente desnorteado, com conversas paralelas diversas sobre os assuntos que assolam a galáxia, e o leitor é levado de uma ponta a outra nesta edição.
Começamos com um casal, de raças diferentes, tendo um filho. E conforme a sequência de quadros se desenvolve, com os diálogos, em paralelo (e isso pela revista toda), são narrados os acontecimentos e reflexões em primeira pessoas, que pressupõe-se serem de autoria do recém-nascido falando de um futuro distante.
É tanta confusão que você se sente os próprios personagens, que são pegos no meio de um conflito que gira em torno do seu relacionamento um tanto quanto “proibido” e seu filho. Batalhas entre as duas raças (que se desprezam mutuamente) acontecem poucos segundos após o nascimento do primogênito do casal, e a subsequente narrativa conta mais sobre as suas tentativas de ir para um lugar mais distante, no qual a organização, que parece querer destruir o filho, não possa achá-los.
Ainda há a aparição de um caçador de recompensas que enfrenta um bichano gigante, com o mínimo esforço, e que possui um felino detector de mentirar (uma das partes mais legais desta primeira edição).
Pelas conversas soltas, aliás, dos comandantes da organização que está perseguindo o casal, dá pra perceber que um dos principais estopins para o conflito é o racismo, preconceito, intolerância com raças diferentes. E Brian se aproveita muito bem disso, e faz o que se tornou uma das suas marcas na outra série que li: em poucas páginas desenvolve a característica emocional, dando um tom realístico as personalidades, de maneira muito forte e convincente, fazendo que você realmente se envolva na história ali contada, e possa discernir quem você acha de boa índole e quem não.
Isso traz a Saga um tom muito bom , que com o seu vasto universo, combina-se para dar a chance deste novo título ser algo épico. Eu falei da caracterização das personalidades que o autor dá a seus personagens, mas parte disso também se deve aos traços belíssimos da Staples. Cada expressão facial, raça nova, design de personagem, dá um quê único à obra, já que o traço além de belo e diferente, é colorido com maestria.
E nesta primeira edição já citei os vários pontos de vista que temos, além dos protagonistas da capa. Isso também proporciona ao leitor diferentes rumos a tomar quanto ao entendimento da história. Por exemplo a narração do futuro que o filho do casal faz durante quase todo primeiro volume. Se lido sozinho você entende aspectos deste futuro que ainda virá. Se lido em conjunto com os diálogos, nota-se uma conexão com as palavras mais poéticas e o que está ocorrendo.
Apesar de te jogar no olho no furacão – e eu não ter gostado tanto assim disto, até porque me deixou com um gosto de “quero ler o resto” absurdo – isso teve lá as suas utilizações, como a de não gastar sua primeira edição com explicações monótonas sobre origens e status quo do universo. Isso cabe a nós um pouco também nesta primeira edição, mas que provavelmente o autor explicará no por vir do resto da história.
Brian K. Vaughan tem em suas mãos o seu possível maior trabalho, pois além de diverso, ele conta com Fiona Staples ao seu lado, trazendo vida e estilo para cada palavra sua (e isso literalmente, no caso da fonte que foi utilizada para narrativa em primeira pessoa). Recomendado pra quem gosta de quadrinhos, ou pra quem nunca leu um!