Em 15 de Abril de 1912 mais de 1500 pessoas afundaram no Atlântico Norte.
Lamentável não ter percebido que hoje é a data do aniversário de óbito de todos aqueles que nunca desembarcaram do navio “inafundável”. Ao menos, fui ao cinema. Não tinha notado até ler, nas notícias passadas antes do início do filme, dentro da sala de cinema, que foi exatamente no dia 15 de Abril que o desastre aconteceu, é como se tivesse sido hoje…
É simples, claro, assistir um filme sobre um grande e terrível acontecimento, não custa mais do que um ingresso, porém torna-se bem mais complexo processar o que deve ter sido de fato estar naquele navio naquela noite fria, no meio de um oceano gélido, ouvindo o vento cortante soprando gritos choros pânico medo desespero.
Não houve consolo para a maioria, não houve paz, foi um suplício, um desespero que comeu todos por dentro, um sofrimento sem proporções exatas, uma dor naufragada e infindável. Afundou. Imagina a noite escura, tudo sendo engolido pelo mar, os corpos congelados alimentando os peixes… Não há catarse contemporânea que possa reconstruir o terror daquela noite abandonada e ancorada. Não há este imaginar estar lá.
Estou escrevendo um tanto rápido essa análise porque, sejamos diretos, Titanic de James Cameron não é novidade. É um clássico, um filme feito para o sucesso e merece ser comentado mesmo agora, em 2012. Se há quem não goste do filme, não serei eu a desrespeitar essas pessoas – até consigo entendê-las. Entre tantos motivos, alguns não gostam do drama e da agonia transmitida, conheço gente assim.
Enfim, foi descendo os destroços do Titanic há 100 anos naquele oceano esquecido e apagado. Pensa nisso, visualiza. Não estou falando do romance entre Rose e Jack, não estou falando da parte fictícia, estou falando de todo o real passado. A primeira vez que assisti Titanic devia ter uns 7 anos e usei muito aquele VHS. Diria que era novo para um filme que apresenta nudez e morte e tragédia, mas todos os traumas e problemas que tenho hoje não têm origem nisso. Titanic estava sempre ao lado de VHS’s da Disney como Hercules, curtia muito a história mesmo que não entendesse o seu significado por completo.
Então, comprei ontem o ingresso para ir no domingo, hoje, e emergir o Titanic, algumas lembranças da infância e revisitar a história. Lembrei de tudo, perfeito como há 12 anos mas vi os fatos através de outra perspectiva. É incrível a direção, os efeitos especiais e a forma como o filme não envelheceu. Absorvi melhor a tristeza e o significado do naufrágio e fiquei satisfeito por ter escolhido a data certa para me dirigir ao cinema.
Quanto ao 3D e a qualidade da imagem, foi feito um ótimo trabalho embora não tenha sido tão forte o efeito do 3D como esperei que fosse ser. Todavia, sempre esperamos mais da realidade do que ela tem para nos oferecer. Normalmente, transformamos as surpresas em frustrações criando algumas expectativas, esperando chegar em New York no navio “inafundável” por exemplo, e o pior que o futuro nos reserva torna-se um tormento ainda maior à chegada do presente.
Portanto, o que espera que comente sobre a reestreia? Quer que escreva da produção foda do filme de 1997 ou do emocionante roteiro ou da indescritível cena dos corpos boiando, congelados e mortos? Quer que escreva como há um exagero romântico? Todos já sabem disso tudo. Esse titanic 3D é o mesmo de 1997, é algo que mantém-se à superfície ligando-nos ao RMS Titanic de 1912. Caso tenha gostado desse filme no passado, dê uma oportunidade para ele agora, mas não espere nada novo. Verdade seja escrita, Titanic não precisaria do 3D para continuar conquistando as pessoas, contudo ele deu uma aprimorada na eperiência.
Sempre sinto-me algo pesado após o filme, quando observo as imagens dos restos do navio, dominados pelos seres do oceano. Que grande azar ter embarcado no navio dos sonhos. Pergunto-me, como teria escolhido morrer se estivesse lá? Não sei responder. Se fosse um sobrevivente, talvez tivesse sobrevivido mas nem isso iria garantir que o navio tomasse a minha vida. Aliás, fato irrefutável: as pessoas choram tanto na sala de cinema que você julga que está ouvindo o choro dos passageiros, um efeito natural constante.
A análise terá só esses poucos parágrafos porque não há mais a ser escrito sobre um filme bem conhecido, popular e já aclamado pela maioria. Já não assistia Titanic há muito tempo e, também por isso, valeu passar a tarde de domingo, o dia mais deprimente e inútil, lembrando do sofrimento causado pela ambição humana e pela fatalidade.
Daqui a 100 anos, haverá algum destroço do Titanic que ainda seja mais parte do navio do que do oceano?
Produtor: 20th Century Fox/Paramount Pictures/Lightstorm Entertainment
Realizador: James Cameron
Com: Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Frances Fisher, Bill Paxton
Género: Drama
Classificação: M/12
Origem: EUA
Duração: 194 min.