Mas se sobressai muito bem rompendo os limites da ação num FPS!
Eu não queria admitir à mim mesmo, mas descobri o quanto me torno mais promíscuo quando eu jogo RPG’s. 24 horas passam tão rápido que eu já me acostumei a levar de uma à duas semanas pra fechar um game que eu normalmente terminaria em poucos dias caso não tivesse obrigações. Então quando eu me deparo com campanhas que vão muito além disso é comum o meu cérebro sentir uma sensação de estar perdendo tempo com determinado jogo, o que é uma grande bobagem, eu sei, mas acho que isso não vai sair da minha cabeça tão cedo, ao menos não até eu mudar de rotina.
Como eu não quero atropelar brutalmente o belíssimo RPG do Wii jogando que nem os malucos chineses em Diablo III, eu decidi deixar The Last Story para os sábados (e/ou eventualmente domingos), enquanto jogo outras coisas durante a semana. Syndicate foi a bola da vez entre essa e a passada e olha… até que o título me surpreendeu. É aquele tipo de jogo que você pega pra dar uns tiros quando chega do trabalho e acaba relaxando no meio do processo.
Segundo informações internet afora esse jogo faz parte de uma franquia, um clássico de estratégia com visão isométrica lançado há muito tempo nos PC’s. Mas como a onda é fazer shooter, o novo Syndicate não lembra em nada o anterior, a não ser talvez o plot. Ad… any problem? Not for me, odeiei (QUASE) todos títulos que joguei com visão aérea, muito disso alimentado pelo fato de eu não dar bola para RPG’s na época do SNES. Logo, se Syndicate seguisse suas origens eu muito provavelmente não estaria falando dele aqui.
Apesar de continuar achando que essa bolha de shooters ainda vai estragar os bolsos de muita produtora por aí (a Codemasters por exemplo já pulou do barco), tenho que admitir que a ação misturada com tiros ficou muito boa. Isso aí deve ter deturpado uns 70% ou 80% do que a idéia original representava para os fãs mais xiitas, mas para quem caiu de pára-quedas no conto dos seres superiores à serviço dos poderosos sindicatos, a história deve ter ficado entre boa e mediana enquanto a ação bem planejada virou a muleta certa para o jogo não cair na chatice.
No mundo de Syndicate os países e suas leis já não interessam mais, as grandes corporações avançaram tanto no quesito tecnologia que se tornaram as verdadeiras grandes nações, impondo um regime que exige da população total submissão através de chips, desde os mais simplórios até os mais elaborados e que de certa forma chupam um pouco da fórmula que Deus Ex: Human Revolution mostrou com a onda das Augmentations (nota mental: chorando até hoje por ter perdido os saves desse jogo numa restauração de sistema do console, preciso jogar isso de novo).
Eu só não sei bem se perdi alguns diálogos rápidos explicando o quanto de cada região as corporações dominam, já que o game mostra uma guerrinha entre elas numa Nova York futurística situada no ano de 2069. Mas o fato é que no melhor estilo Adam Jensen, você é o super soldado que vai espionar e trazer a tecnologia do concorrente de volta pra casa no fim de mais um dia árduo de trabalho.
As primeiras tarefas se resumem a isso e já mostram logo de cara que o enredo não tem muitas pretensões. Só lá pro meio da história é que fica legal ver o personagem principal se questionando sobre o que ele é e o por que de estar fazendo tudo aquilo, o que na minha concepção separa o jogo em duas partes: a do inicio morno com muita apresentação e a do meio ao término que ficou bem mais interessante.
Mas interessante apenas no sentido de que eu não sabia ao certo o que iria acontecer, como o protagonista iria terminar depois de inesperadamente adquirir uma consciência e deixar ser uma máquina controlada. Carisma pelo agente Killo é algo bem difícil de se sentir. Talvez se o jogo fosse mais do que apenas um shooter e estivesse mais bem recheado de elementos como foi Deus Ex: Human Revolution, quem sabe eu não me sentisse mais a vontade pra me envolver mesmo com plot.
Porque Syndicate nem bem chega e já vai embora (como a maioria dos jogos dessa geração), fazendo tudo ser rápido demais para que uma relação entre jogador e personagens aconteça. Acho que é mais fácil você se sentir no dever de terminar o que começou do que sentir o prazer de acompanhar a história até o final. Aliás, a maioria dos jogos atualmente me provoca isso e mesmo assim, quando eu encontro um que é diferente do restante, não consigo me prender. Acho que entrei num ciclo vicioso auxiliado por essa pressão que é fazer valer o tempo que está passando.
Hum… mas voltando ao que interessa, eu ainda comparo o jogo com o último Deus Ex porque muito do gameplay dele lembra o jogo da Square Enix, só que beeeem minimizado quando pensamos nos detalhes.
Por exemplo, como cada agente é essencialmente uma máquina, a visão em primeira pessoa imita isso com muito HUD na sua cara (as informações como energia, quantidade de balas e por ai vai), então assim como um computador, tudo o que você pode usar além do seu armamento é representado como um ícone na tela. As habilidades de hackear outros sistemas são uma delas e entre elas está a sobreposição (ou era superposição? i don’t remember…) que é responsável não só por deixar o tempo mais lento e escanear inimigos escondidos como também deixa todos os objetos interativos do cenário em detalhes dourados. Preciso explicar mais?
E a coisa não pára por aí, isso porque você anda por ambientes onde não deveria estar, dá de cara com cenários que lembram muito um mundo aberto, tem o direito de interagir com a população digamos… mais baixa no conceito de sociedade existente no jogo (se bem que o único meio de fazer isso é descendo o braço ou puxando o gatilho), maaaaassss… no fim das contas tudo é estritamente linear.
Coletar dados sigilosos, uma montanha deles (ainda que você possa jogar do início ao fim sem ler porcaria nenhuma) é algo constante, mas é feito com o simples apertar de um botão e pronto, sem nem um minigamezinho só para dar uma cara diferente pro momento. E ainda tem as habilidades extras pra destravar, assim como as Augmentations. Só que achei uma pena esse último item não diversificar tanto assim o jogo. Boa parte do que você vê são upgrades para defesa e pouca coisa para o ataque. Ou seja, chupado intencionalmente ou não (e isso pouco importa, afinal estamos num tempo onde tudo se copia e nada se cria), as idéias adicionadas ao jogo poderiam render algo maior se o jogo tivesse essa mesma pretensão. Mas não tem.
Em contrapartida, hackear os outros como eu estava comentando mais acima é uma adição legal e na minha opinião é exatamente a parte do jogo que não deixa Syndicate cair num loopin maldito.
Dá pra provocar o suicídio dos soldados ou mesmo fazer eles trocarem de lado por você e isso alivia muito quando se está morrendo demais em determinado ponto. A inteligência artificial não é uma completa negação, mas também não é nenhuma Brastemp. Grande parte dos NPC’s ficam do outro lado da mureta atirando, lançando granadas e fingindo que estão se escondendo para logo depois morrer com um tiro na cabeça.
Mas é engraçado perceber que nem todos fazem isso, como se os produtores quisessem destacar bem cada nível de soldado e tivessem passado além da conta. Isso porque há outros tipos de soldado que além de interferir no seu sistema, tem proteção extra, como armadura reforçada ou invisibilidade. Só que eles agem de forma tão destacada dos NPC’s de inteligência medíocre que o elemento surpresa se resume porque você os reconhece de longe e tem tempo suficiente pra mudar de postura.
Gritar mentalmente: ”m*rda, bando de FDP!!!” só mesmo com as aparições surpresa de hordas e mais hordas de soldados em lugares inesperados. Coisa que você resolve correndo para uma cobertura mais próxima e pronto, assunto resolvido. Sem falar que chegando pro final do jogo as situações ficam tao manjadas que dá até para prever onde e quando eles vão fazer repetir a dose.
Se bem que isso não quer dizer que tática aqui é algo dispensável em Syndicate. Se não existe muito tempo pra mirar e atirar com precisão como num Battlefield 3 da vida, o mesmo eu não posso dizer sobre o modo como se deve agir frente a cada chefão. O primeiro por exemplo tem o poder de criar clones e desviar de balas com mais rapidez que o Neo em Matrix, então além de usar a habilidade de tornar o tempo mais lento, você tem que pegar o ritmo e descobrir o momento certo (na verdade dois, aquele quando você vê que o chefe está relaxadão demais e aquele em que o infeliz percebe que a coisa ficou feia pro lado dele) de atirar e pegar cobertura.
Daí você coloca uns 06 minutos fazendo isso sendo que dependendo do que você tenha feito lá atrás a sua munição pode estar escassa.
Não acho que a média nacional tenha demorado mais do que eu pra descobrir que o par de robôzinhos voadores quase escondidos no cenário, se hackeados, cuspiam munição pra dar e vender. Sem contar que eu fui mais além, sendo capaz de perder mais tempo ainda sem saber que quando o maldito do chefe faiscava e trombava no chão é que era a hora certa de arrancar o chip na cabeça dele. Meu fim de semana passado foi azedo por causa disso, mas eu superei. Tive que me render a mira automática porque eu não sou nenhum fã de shooters hardcore, mas superei.
Apesar de amargar um pouco, esses e outros detalhes bobos ao menos ao meu ver deram um toque legal pro jogo. É como um game plataforma que você joga por diversas vezes uma fase ou chefe até a decoreba toda se formar na sua cabeça e você enfim passar daquela parte. E não sei se é porque eu ando jogando poucos games desse gênero, mas são mínimas as vezes em que vejo isso num shooter. Nos Call Of Duty por exemplo eu não sinto isso, é algo mais direto, se você for surpreendido e morrer uma vez já está vacinado para a próxima (falando do single player, é claro). Não tem segredo, não tem dor, raiva, vontade de quebrar a coisa mais próxima de você.
Se bem que dificuldade mesmo eu só vi no primeiro chefe e porque eu ainda não estava por dentro de toda malandragem no jogo. O restante foi bem mais fácil de atropelar e por incrível que pareça todos foram muito divertidos do mesmo jeito.
Você corre que nem um desesperado, pega cover, fica atento com cinco granadas vindo na sua direção, carrega o trabuco antes de se esconder em outro lugar e assim vai. Não tem essa de ficar parado, mirar com mais calma, nada disso. Tanto que chefão que te obriga a fazer tudo isso e ainda hackear constantemente o sistema dele e do lugar para atirar e se proteger. E isso tudo numa adrenalina louca. Enfim, o jogo mostra dinamismo e isso na minha opinião é extremamente louvável, se eu tivesse mais tempo acho que pegaria ele de novo só pra jogar tudo no modo mais difícil.
E fora essa ação toda que às vezes até te faz esquecer que está jogando um shooter, ainda posso elogiar Syndicate por um leve flerte com puzzles (ou seriam sub-puzzles?) e também pela trilha sonora que mesmo nas horas mais estressantes fez com o que eu me sentisse numa balada só de música eletrônica. Também gostei da variedade de armas, é impossível passar o jogo com uma só, eu estava sempre correndo atrás da metralhadora que o fulano deixou cair e geralmente fazia isso enquanto alguém tentava me cobrir de bala. Aliás fazendo um balanço sobre o pouco que joguei de shooters futuristas, o armamento mais avançado no caso não me decepcionou, é tudo mais pé no chão, sem escrotices como as que eu já vi em Vanquish por exemplo.
E acho que é isso, o jogo me entreteu e muito, mais até do que eu esperava. Eu não recomendo a compra, não é um jogo que vai te fazer jogá-lo de novo depois de fechado, mas acho que alugar pra dar uma olhada ainda é válido.
E dito tudo, agora me encontro indeciso sobre qual será a minha próxima missão: partir para The Darkness II e descobrir o que Jack Estacado anda fazendo da vida depois de tudo que rolou no primeiro jogo ou encarar aquele Dead Space 1 que eu cofrei outro dia na PSN.
Se bem que… hoje é dia de The Last Story, né? Hum… como eu odeio fazer promessas (até pra mim mesmo).