Reboot da DC agita mercado brasileiro mas esbarra em velhos conceitos.
Logo quando a DC anunciou todos os detalhes do reboot, imediatamente certas dúvidas começaram a pipocar na minha mente. A nova line-up básica de títulos DC seria composta por 52 (o número “mágico” da DC) títulos diferentes. Uma das dúvidas era formulada por mim em tom de brincadeira, pensando ” já pensou se a Panini resolvesse fazer o mesmo aqui?”. Imediatamente eu dava risada, achando pouco provável um cenário como esse.
Alguns meses repletos de expectativas e boatos depois, a Panini enfim revela sua intenção de publicar no Brasil OS NOVOS 52. Todos os títulos. Incrédulo, esfreguei os olhos e tornei a olhar para a tela do notebook. Eu tinha lido corretamente, e a Panini iria mesmo publicar toda a série básica da DC. Aí sim eu fui surpreendido. A Panini publicava o material da DC em sete títulos básicos mensais, mais alguns títulos especiais durante o ano. Só para efeitos de comparação, a linha da Marvel é composta de 12 títulos básicos mais os especiais. A DC sempre teve menos publicações do que a Marvel por aqui (por diversas razões), mas com a chega do reboot por aqui, a situação se nivelou, e gerou muitas perguntas…
Qual a razão para esse incremento na quantidade de títulos? Internet afora, o que não falta é supostos motivos. Uns dizem que é imposição da DC, outros dizem que é só para justificar o nome da nova fase, e tem quem diga que é simplesmente uma aposta da Panini de que o mercado brasileiro vai dar suporte ao reboot. Seja qual for o motivo, acho uma iniciativa válida, porém nem tudo são flores nos jardins da mansão Wayne. Se tradicionalmente o público da DC aqui é menor e somente os personagens mais clássicos possuem apelo que sustente uma publicação, não é arriscar demais lançar tantos títulos novos? Afinal, mesmo lá fora várias revistas não deram certo, foram canceladas e substituídas por outras. Aqui, seria diferente?
Creio que não, e aí entra em cena uma tradição brasileira: os mixes. Nas últimas décadas as revistas Marvel e DC são editadas usando esse polêmico formato, com as revistas abrigando três ou quatro títulos diferentes. Há exceções à regra, mais a maioria é assim. Se por um lado há a vantagem de baratear custos e preço final, muitas vezes o leitor é prejudicado por ter que comprar uma revista com histórias que ele nem quer ler.
O formato de mixes acabou tornando o padrão no Brasil por diversos outros motivos. Afinal, uma revista cheia de títulos e editada em um formato menor do que o original (carinhosamente chamado de “formatinho”) ocupa menos espaço na banca. Outro motivo dar sustentabilidade para uma revista tendo nela um título forte e as outras de personagens menos populares/importantes. Esse último motivo parece ser exatamente o meio pelo qual a Panini viabilizou a publicação de Os Novos 52 no Brasil.
Tomemos como exemplo o título Universo DC. Seu carro-chefe é Aquaman, tendo a Mulher-Maravilha como atração secundária. O restante dos títulos são pouco atrativos ao público em geral. E isso se repete na maioria dos títulos. Essa estratégia visa vender ao leitor o maior número de revistas possíveis. Mas para o leitor, seria muito mais interessante, por exemplo, se a revista da Liga da Justiça trouxesse os títulos da Liga, Aquaman, Mulher-Maravilha, Flash e Arqueiro Verde (não coloco Lanterna pois ele possui títulos relacionados, assim como Batman e Superman).
No mundo ideal, nosso mercado seria como o americano, cada personagem com seu próprio título próprio. Mas aqui não há uma vasta quantidade de comic shops como lá fora, e seria muito difícil encontrar espaço em uma banca para abrigar tantos títulos diferentes, e por mais ultrapassado que seja, as vendas em banca ainda são importantes para as editoras. Também existem outros fatores, como a oferta de títulos dedicados exclusivamente para algumas comic shops brasileiras, mas abordá-los aqui não é tão essencial, a ideia é dar só uma passada no panorama geral.
No fim, entendo que o formato de mix não é o ideal, mas é o que mais permite uma variedade de títulos pois em nosso país a maneira como as revistas são distribuídas desfavorece a publicação de muitos títulos. Basta ir numa banca e perceber como tudo está “socado” nas prateleiras. Isso acontece pois o tamanho-padrão das bancas são pequenas para o volume de títulos editados, e isso não se aplica só as comics, vale para todos os tipos de publicações. Fora que muitas bancas hoje mais se parecem como mini-mercados, vendendo de tudo um pouco. Nos anos 70/80 não era assim, mas o tamanho das bancas continua a seguir o mesmo padrão daquela época.
No fim, faço o meu apelo para que se nosso leitor estiver mesmo afim de colecionar essa nova fase da DC, não deixe que esses obstáculos impeçam que essas novas aventuras sejam conhecidas. Mesmo que nem tudo que será publicado seja realmente legal, vale a pena fazer um esforço e acompanhar as revistas do Batman, Superman, Universo DC, Lanterna Verde, bem como os futuros títulos Dark e Edge (que para muitos, vai abrigar o que de melhor o reboot oferece).
Para finalizar, convidei o Rackor a também dar seus pitacos sobre a publicação de Os Novos 52 aqui no Brasil:
Rackor:
Eu estava cogitando seriamente comprar uma boa parcela de revistas dos Novos 52, mesmo já tendo lido grande parte delas, lá quando foram lançadas ainda em setembro/outubro do ano passado nos EUA. Porém, esqueci do pequeno detalhe dos mixes. Eu não estou muito acostumado a comprar quadrinhos em bancas, geralmente importo ou procuro os encadernados nas livrarias.
Eu sou contra o sistema de mix que é feito aqui no Brasil. Muitas vezes fica parecendo algo como “Olha todo mundo vai comprar o Batman, mas ninguém quer comprar a Detective Comics, então vamos colocar os dois juntos pra vender às custas do Batman original”. Usei o exemplo do Batman, mas o mix dele é provavelmente o mais bem coerente que temos por aí, já que todos os títulos são realmente do Batman, e ele aparece em proporções de protagonista em todas. Mas então, eu já li Batman TDK e não curti nem um pouco, em comparação com Batman que achei uma das mais sensacionais do reboot. Se quiser ler o Batman terei que todo mês gastar meu dinheiro em 20 páginas que não curto.
Eu cheguei a pensar que talvez a Panini colocasse nas bancas uma revista Batman com 3 edições do Batman e pronto. Nada de outras revistas do morcego, mas faz tempo que o formato mix é feito né, então era bobeira minha. O que mais me deixa intrigado são os mixes que nem tem muito a ver. Flash é uma das minhas revistas favoritas também, e em seu mix temos Green Arrow (que achei pífia) e Deathstroke. Eu não curto nem dos outros dois, e nem acho que o Deathstroke tenha muito a ver com o Flash.
Um dos casos mais bizarros com certeza é o Nuclear Man na revista da Liga. Ok que a DC talvez o inclua no alinhamento JLA (assim como temos os alinhamentos Dark, Edge, Batman, Superman entre outros), mas o personagem em si nas 3 edições que li não cita bulhufas de Liga da Justiça.
Tem umas séries também que vejo cm muito mais potencial para um lançamento de livraria (até por ser um material mais adulto), e não digo livraria pensando naqueles encadernados Deluxe Special Super Mega Edition que a Panini vem fazendo. Algo mais parecido com A Era do Apocalipse, ou até o recente Era X. Animal Man & Swamp Thing eu aceito numa boa virem num mix, sabe porque? As revistas se entrelaçam, se esbarram a todo momento, e bebem de uma mesma mitologia.
Não sei se foi decisão da Panini publicar tudo, até as revistas canceladas. Na minha opinião, poderia haver um filtro de revistas. Pra que trocentas revistas do Batman? Eu ficaria só com Batman , Batman & Robin e talvez Nightwing que são as mais relevantes em termos de Bruce Wayne. Eu preferia muito mais revistinhas no esquema Grandes Heróis Marvel para as séries do que esse mix gigantesco. Aliás as revistas “Universo [Marvel/DC]” são o pior caso. Você compra uma revista cara com mais de 120 páginas para talvez ler uma só edição que goste.
Eu pensei que a Panini poderia usar esse reboot para tentar mudar o sistema de quadrinhos no Brasil, imprimindo algo mais parecido com que se tem nos EUA (sei que o mercado é diferente, mas acho que o sistema podia ser bem mais conciso no que diz respeito as séries que aparecem numa única revista). Ledo engano de um jovem leitor de quadrinhos.
Mas acho que essa birra é antiga já, não? Lembro de alguns posts do blog falando sobre isso… Mixes até quando?