O Artista | Uma noite de cinema mudo! (Opinião)

Tirando o atraso com o Netflix!

Um tempão atrás eu havia decidido cortar animes inúteis da minha lista de coisas a se acompanhar lembram? Não né? Mas foi bem aqui nesse post onde eu inclusive prometi a mim mesmo que iria me dedicar mais aos Tokusatsus, algo que eu havia largado de mão faz tempo, mas que queria muito retomar. O problema é que eu sou péssimo em cumprir promessas e as que eu faço a mim mesmo são as mais difíceis de serem cumpridas.

Logo, ao invés de diminuir a presença de animes na minha vida, eu acabei varrendo todos eles da minha rotina. Fora os tokus novos que eu nem cheguei a começar a ver. E a única razão pra isso é uma só: o trabalho de procurar e baixar. Parece bobagem, eu sei, mas pra mim não dá mais. Sinto que devo aproveitar melhor o pouco tempo que tenho para os meu hobbies, porém cada vez mais eu preciso das coisas de forma imediata na minha mão, sem demora. Algo parecido com o que falei aqui na semana passada.

Não digo que bani pra sempre animes e afins da minha lista de interesses na internet, mas a minha empolgação talvez nunca mais seja a mesma. Isso já acontecia comigo toda vez que cogitava baixar um filme na rede e agora a coisa só aumentou de tamanho. Não sei se é porque o Moranguinho não está mais na TV ou se é porque estou ficando exigente demais e ranzinza antes da hora. Só sei que o fato é que não me empolga mais. E isso é um tanto engraçado.

Porque anos atrás quando eu só podia contar com uma conexão de 1 mega pra baixar toneladas de episódios eu me sentia mesmo feliz em esperar mais de uma, duas horas pra ter todo aquele conteúdo na mão. Já hoje baixar não é problema, o problema é fazer algum uso da tonelada de gigas que ficariam aqui, esperando alguma atenção da minha parte. Ficar mais de 10 minutos tentando manter o meu cérebro preso aos desenhos da cultura japonesa ultimamente parece tortura, como assistir Faustão amarrado no sofá da sala num domingo. E eu não encontro explicação melhor pra isso se não dizer que o tempo encurtou e consequentemente as minhas prioridades mudaram.

E enfim, como não tenho mais paciência para downloads desse tipo resolvi mudar a promessa e vamos ver se daqui a mais uns 5 meses eu volto aqui pra dizer se estou ou não cumprindo o novo acordo. Com a ajuda do meu querido Netflix (o qual pago e não aproveito quase nada) vou tentar o feito de ver ao menos um BOM filme por semana. E o primeiro filme com o qual dei esse ponta pé certeiro nessa última noite de sábado que passou foi… O Artista.

Texto levemente spoilado. Entre por sua conta e risco.

Gostei muito do filme, não é todo dia que eu consigo ver um longa metragem onde 90% das falas inexistem e que experiência bacana essa. Sério mesmo, tem tanto filme por aí onde a sonoridade de fundo acaba sendo apenas um detalhe que chega ser difícil, ao menos pra mim, lembrar de alguma música que não sejam aquelas que tocam durante os créditos.

O Artista já começa com o pé direito por causa disso. Ainda que aquelas legendas que cortam para um telão preto sejam extremamente raras, tudo no filme é bem intuitivo. Você não tem que se esforçar fazendo leitura labial pra saber o que está rolando ali e se a cena exige que você sinta mais o clima do momento as músicas de fundo dão o tom perfeito.

Suspense, ação, drama, é incrível como o cinema tem mais cara de arte quando você presta atenção nos sons que dão vida a esses momentos. São detalhes que aqui acabam por deixar de serem meros… detalhes. Na verdade eles ficam mega evidenciados e até fazem você viajar um pouco, tanto que após um certo ponto do filme eu não conseguia mais deixar o meu cérebro quieto. Era como se eu estivesse conversando com alguém dentro da minha cabeça, quando na realidade eu estava discutindo constantemente tudo o que acontecia no filme com os meus botões.

Já o enredo eu achei mediano, a gente tem um ator bem sucedido e uma atriz em começo de carreira que inclusive é ajudada por ele. Mas quando o cinema falado começa a crescer e ganhar espaço, o cinema mudo cai em desuso e aí ocorre uma inversão de papeis que faz o protagonista entrar em depressão e tal. Um aspecto do longa que na minha opinião não é nada muito profundo, são momentos bem rápidos.

Gosto mais de pensar que o filme ainda é mais puxado por lado da descontração, da comédia mesmo. Dá pra ver que ficar sentindo pena de si mesmo enquanto cai mais e mais no abismo de uma sarjeta não é algo da natureza do George. Ao menos aquele sorriso dele sempre me entregou essa sensação.

Já da Peppy eu não tenho muito o que falar, ela é a menina sonhadora que vai perseguir o sonho com a ajuda do George e anos depois vai receber a missão de retribuir o favor. Só que pra conseguir isso antes ela tem que driblar o orgulho dele e o modo como isso acontece não foi tão significativo assim na minha visão. Mas uma coisa que eu acho digna de elogio é essa relação de impasse entre os dois, o diretor do filme não fez do George um cara desesperado que depois de terminar o casamento se envolve com a primeira mulher que pinta na vida dele.

É nítido que existe um clima a mais sempre que os dois estão juntos, mas o ritmo mais descontraído de se contar uma história deixa claro que isso não quer dizer que cenas loucas de amor mescladas aos encontros e desencontros dos dois até a inevitável união sejam necessárias. Tudo começa e termina bem em aberto. E que fim levaram os dois? Ah, use a sua imaginação que tá bom demais, ora.

E se tem alguém que roubou mesmo todas as cenas das quais participou, acho que foi o cachorrinho (e o coitado nem tá na box do filme né, poxa…). De todos ali eu achei ele o mais carismático, ele conseguiu ser engraçado a ponto de me arrancar boas risadas toda vez que se finjia de morto e verdadeiramente dramático por toda as vezes em que se mostrou mais preocupado com o dono do que qualquer outra pessoa. E tudo isso na mesma medida. Particularmente acho impossível alguém não se emocionar só um pouquinho com o esforço daquele pequeno pra ver o dono feliz.

Aliás, a atuação dele faz jus ao famoso ditado de que o cachorro é um dos amigos mais fieis ao homem. Também aproveito pra destacar o final do filme, que na verdade não tem nada demais, exceto pelo fato de que só quando chegamos aos finalmentes é que o som é liberado. A minha sensação de surpresa foi inevitável, porque você passa tanto tempo vendo aquelas bocas se mexendo e nenhuma palavra saindo, que quando você percebe que ambos estão 0fegantes no palco e em alto e bom som, você enfim se dá conta do quanto o clima do filme te envolveu.

Isso foi mesmo a cereja que faltava pra entregar o bolo.

Pra quem nunca perdeu mais de uma hora na frente da TV interpretando atuações mudas onde o verdadeiro show é dado por uma infinidade de músicas instrumentais, eu só posso dizer que não você sabe o que perde. Achei uma experiência muita bacana, muito rica na verdade e se pudesse até veria mais obras como essa. Mesmo ”O Artista” não sendo um filme inovador de cabo a rabo ele se torna um longa gostoso demais de se assistir exatamente por trazer o cinema das antigas de volta aos tempos de hoje.

Para que todos aqueles que curtem um bom filme, seja ele com efeitos 3D ou a tão indispensável alta definição, possam testemunhar ao menos uma vez como isso tudo começou. E acredito que é exatamente essa a graça do filme, ao menos para todos aqueles que deixaram a curiosidade pelo mesmo falar mais alto.

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