A realidade como conhecemos? Já era!
Um dos inúmeros motivos pelos quais gosto tanto de Marvel, DC, Dark Horse, Image e similares ocidentais é a diversidade de conceitos que são aplicadas nas histórias. É algo diferente da maioria dos mangás, onde geralmente as histórias são conduzidas por um único autor. Eu gosto de ser surpreendido, de testemunhar coisas que eram impensáveis, de ver o personagem e o mundo dele virar do avesso, etc. Assim como nossa vida muda conforme o contato com novas pessoas, cada autor novo que entra para o time de produção de uma HQ procura imprimir sua marca, mostrar algo novo. Claro que esse modelo não é perfeito e muitas vezes o método não funciona, mas se isso acontece não demora muito para que se vira a página e uma nova tentativa é feita.
É algo que me atrai desde criança, quando eu reunia os meus transformers pelo chão da casa e inventava histórias diferentes daquelas que eu via pela televisão. E quando algum amigo se juntava à brincadeira, ele contribuía com suas próprias idéias para contar histórias que eu não teria pensado sozinho. Isso de certa maneira se repete quando um novo roteirista começa um novo arco em uma HQ. Esse post é sobre um arco de histórias dos X-Men onde tudo o que conhecemos sobre eles é alterado: A Era do X. É tudo novo de novo.
[SPOILER] A Era do X conta uma história onde a humanidade declarou guerra aos mutantes. Os humanos comuns passaram a exterminar todo aquele que portava o Gene X, e os poucos mutantes que restaram foram reunidos na Fortaleza X, uma espécie de bunker erguido por Magneto. Todo dia os humanos concentram suas forças e tentam invadir a fortaleza, mas ela é protegida por uma espécie de campo de força criado pelos Guerreiros da Força, que são liderados pelo Legião. Os mutantes conseguem sempre rechaçar a invasão, mas por vezes ocorrem baixas, e nessa hora Legado (Vampira) surge para absorver as memórias dos mortos para que as memórias deles permaneça “viva” nela. Até que um dia Kitty Pryde avança para além da barreira, e quando ela volta está transtornada dizendo que não há nada lá fora e é posta fora fora de combate pelos mutantes, intrigados pelo comportamento dela. Segundo a regra, ela teria de morrer, mas Magneto acha prudente a trancafiar e tentar descobrir o motivo dessa atitude. Legado toma a câmera usada por Kitty e ao tocar nela, tanto ela quanto os demais são tomados por sensações de que algo está errado com a realidade, e ela começa a investigar até descobrir toda a terrível verdade… E assim prossegue toda a história até o seu fim, quando descobrimos que tudo não passou de um evento criado pela psiqué de Legião, que vinha sofrendo intervenções do Dr. Nêmesis afim de acabar com as múltiplas personalidades do filho de Xavier para que apenas uma restasse no fim e ele pudesse viver de uma maneira normal entre os seus.
Muitos comparam A Era do X com A Era do Apocalipse, o que é um erro. Embora as duas tratem de uma realidade alternativa, a forma como se conta a história é bem diferente. A Era do X é muito menos ambiciosa e auto-contida, sendo contada apenas em 9 edições. Mas as duas proporcionam algo que eu gosto muito, que é uma nova visão para personagens, e nesse quesito até que o roteirista Mike Carey mandou bem. Aliás, essa foi a sua despedida do título dos mutantes.
Ciclope como Basilisco é um dos grandes atrativos, muito interessante e bem diferente daquilo que estamos acostumados, um homem atormentado pelo seu passado. Ilustra bem como podemos ser alterados pelas experiências de vida que passamos. Wolverine sendo obrigado a ser um pacato barman é outro que gostei, levou o conveito de “conter a fera” ao extremo. Vampira como Legado e se mostrando muito confiante no uso dos seus poderes é uma grata surpresa que espero um dia ver também no universo tradicional.
Magneto aqui age sem nenhuma interferência causada pela amizade por Xavier, já que nessa realidade é como se Xavier nunca tivesse existido, pois é mantido preso e escondido junto com outros mutantes telepatas. Ao contrário do que acontece em AEdA, aqui Magneto vive sua vida totalmente de acordo com seus próprios ideais. Alguns personagens como Gambit não parecem terem sofrido tantas alterações assim, mas outros tiveram mudanças curiosas, como a Psylocke, que aqui manteve seu corpo e habilidades naturais.
Por ser um arco de história bastante curto fica aquela gostinho de quero mais, pois vimos muito pouco de um período de quase 2 séculos de histórias. AEdX pode render ainda muitas histórias bacanas, explorando os acontecimentos anteriores, como a criação da X-Force pelo Míssil ou as ações da Frente de Liberação Mutante, quem sabe pode render um título como o que temos atualmente na recém-lançada revista A Era do Apocalipse. Assim como AEdA voltou à tona depois de algumas incursões dos Exilados e principalmente, da X-Force naquela realidade, quem sabe no futuro acontecça o mesmo com AEdX?
O tempero em AEdX é o clima de suspense e mistério que permeia os diàlogos e a trama principal. Mesmo após chegar ao final da história, ainda há coisas que ficam em aberto e é divertido tentar conjecturar sobre elas. E os mais atentos perceberão que apesar de tudo no fim voltar ao normal, algumas mudanças ocorram em nossa realidade, inclusive com pessoas que não deveriam realmente estar onde estão.
O saldo final é até positivo. Embora não tão marcante quanto AEdA ou Dinastia M, A Era do X durou pouco mas rendeu um delicioso aperitivo para os fãs de X-Men. Eu quero mais.