Quando tudo ganha sentido após outro final polêmico…
(por João Schellerg)
Assim que ganhei meu Xbox, ele veio acompanhado de 10 jogos. Até o momento em que eu pude realmente jogá-lo desde seu lançamento, eu havia feito uma lista com todos os jogos lançados para a plataforma da Microsoft e que haviam me interessado. E um deles que mais me chamou a atenção foi o Mass Effect 1. Sempre gostei da maioria dos RPG’s que cruzaram meu caminho como gamer, mas esse tinha algo diferente. Depois de ter completado o primeiro jogo não tinha jeito, eu já estava “indocrinado” pela série Mass Effect.O Segundo jogo eu devorei em um feriado próximo ao fim de semana e o terceiro eu tive de intercalar com os afazeres da faculdade.
Mass Effect sempre me surpreendeu com seu vasto mundo de possibilidades e ricos personagens, cheio de detalhes e problemas reais. Seus diálogos sempre bem estruturados conduziam sempre a conversa em questão a rumos que eu pensava que não seria possível haver, como em uma conversa com Joker a respeito das condições da nave e de suas habilidades dele e logo depois acabaram levando a verdadeira razão de sua doença. Ou qualquer outro dialogo com os membros da equipe, fosse Jacob e a sua procura incessante por seu pai, Garrus e Miranda em busca de vingança, Tali em sua viagem a procura de algo que realmente torne possível o retorno de seu povo à seu planeta, entre os diversos outros.
Porém, ME não é apenas isso, a série traz ainda muita ação que no primeiro jogo era dosada, no segundo foi aumentada e no terceiro teve sua margem praticamente duplicada. E isso não fez a série ficar ruim, porque era natural que isso acontecesse, afinal, o primeiro jogo era a introdução a um novo mundo, a novos detalhes e segredos, então seria necessário haver mais conversas e menos ação. Já o segundo, com o surgimento de uma nova ameaça se tornou necessário atirar primeiro e perguntar depois e no terceiro não é nem preciso dizer que nem era necessário perguntar nada, somente mandar bala em quisesse acabar com seu planeta.
E então John Shepard, um dos meus personagens favoritos acaba se deparando com uma imensa decisão a se fazer no final da série. E não importa qual fosse a sua escolha, ela provavelmente não agradaria quem tem tanto carinho como eu tenho em relação à série. Nessa hora muitas coisas são deixadas de lado, e são coisas que deveriam ser levadas em conta porque elas moldam a qualidade do fim de uma obra.
Após alguns meses do término da saga Shepard em ME, estava conversando com uma amiga a respeito disso e ela me recomendou a assistir a última temporada de Lost. Eu atendi a sugestão dela, afinal eu mesmo havia acompanhado o seriado até sua 5 temporada mas todo o meu encanto e paixão pelos personagens foram deixados incubados logo depois que eu descobri Game of Thrones.
Então começou minha dedicação a Lost. Na primeira meia hora do primeiro episódio da sexta e última temporada minha curiosidade já havia sido capturada e eu já estava preso novamente naquele universo. Assim como os jogos de ME eu devorei a última temporada em uma semana. E ai chegou um ponto delicado de Lost que é exatamente após seu final. Assim como em ME, minha cabeça ficou cheia de teorias, querendo respostas, nomes, culpados por tudo o que aconteceu.
Numa dessas pesquisas a respeito dos significados do fim de Lost, me deparei com um texto em um blog que dizia a seguinte frase não com essas exatas palavras “não interessa como uma história termina ou as razões que a levaram a terminar e sim a maneira como sua história foi contada. A evolução dos personagens desde o início até sua redenção no fim”. Essa frase fez uma bomba soar dentro da minha cabeça. Eu estava olhando para o ângulo errado em Mass Effect e Lost. Então eu assisti novamente tanto o final de ME quanto de Lost e o resultado me surpreendeu.
Sob essa perspectiva, ambas as series tem muitos elementos em comum, a começar pelos universos aonde não se sabe onde mora o perigo. No caso de Lost com sua ilha cheia de mistérios que levam a mais mistérios e Mass Effect com seu espaço sideral cheio de planetas e povos aonde a amizade com um pode significar a guerra com outro. Os personagens variados e carismáticos como os líderes Jack e John Shepard, os de bom coração e bem humorados Joker e Hurley, as belíssimas e rebeldes Miranda e Kate, as mais reservadas Sun e Liara, os mais quietos e dedicados Jin e Garrus e os mais loucos e desbocados como Sawyer e James entre tantos outros.
Eles passam por diversas situações, perdem diversos amigos e conhecidos, arriscam muitas coisas das quais eles não tem certeza, não medem esforços quando tentam salvar alguém, sem contar a luta constante com suas emoções.
O resultado quando nós passamos a analisar a forma como a história foi contada, como os personagens foram construídos e apresentados, a maneira como cada personagem se comporta, faz toda obra consumida ser muito mais saborosa.
Porque nós como consumidores de material cultural acabamos nos acostumando a ter todas as respostas para tudo àquilo que vimos e não apenas nos deixamos levar pelas propostas e acontecimentos que nos são oferecidos. Assim como o principal ensinamento de Lost é que na vida nós não temos e nem vamos ter a resposta para tudo, então porque deveríamos ter também para aquilo que consumimos? Vamos sentar e aproveitar a viagem oferecida nesses universos onde tudo acontece por uma razão e se existe uma chance, vale a pena por lutar não importa quanto.