Crítica | O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida (2012)

A menos que alguém como você se importe muito com algo, nada irá melhorar.

UNLESS someone like you cares a whole awful lot, nothing is going to get better. It’s not.
Dr. Seuss, The Lorax

Ontem tive a oportunidade de assistir The Lorax, mais um dos contos do Dr. Seuss que foi adaptado para os cinemas (os outros foram Grinch, Gato e Horton). Queria ter conferido a animação nos cinemas no começo do ano, mas infelizmente não consegui tempo e como agora o filme está chegando em DVD/BD tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, o filme já está rolando pela internet em uma resolução de boa qualidade. E pelo visto será mais um filme que irei colocar na minha coleção assim que o ver a venda em blu-ray por um preço justo por aqui (ou seja, quando surgir alguma promoção com o mesmo).

Dr. Seuss e seus livros infantis são extremamente famosos nos Estados Unidos, mas nem tanto aqui no Brasil, o que é uma pena, pois realmente acho o universo dessas histórias muito criativas, então sempre que surge uma animação ou filme baseado em seus contos fico muito curioso para conferir. Com Lorax não é muito diferente, ainda mais sabendo que é uma animação em CGI do mesmo estúdio que produziu o divertido Meu Malvado Favorito.

O filme não chega a ser nada extraordinário, apenas cumpre o seu papel de divertir e entreter. Ele é até bem curtinho, tem oitenta e poucos minutos. E assim como as demais obras adaptadas para o cinema do Dr. Seuss ele tem essa pegada de “história com uma forte moral no fim”, assim como o universo na qual a história é contada é totalmente inventiva e exagerada, o que reforça bastante os estereótipos para que a mensagem funcione. Tem quem não curta essa idéia de filme com moral, ou até da mensagem politicamente correta no fim, mas aqui a pessoa tem que lembrar que se trata de uma adaptação de um conto infantil, então é mais do que esperado que isso ocorra e seja bem descarado. Não é um filme adulto que as crianças estão liberadas pra ver, é o contrário: é um filme infantil, mas que não vai deixar nenhum adulto constrangido ao assistir. O público alvo são os pequeninos, ainda que a moral da história seja um tapa na cara de muito adulto por aí que não se importa com certos valores morais.

A história gira em torno de uma cidade onde tudo é superficial. Não existem plantas, árvores. O meio ambiente natural foi suprimido, extinto, para dar lugar a uma sociedade onde tudo é 100% artificial. Uma cidade de plástico como logo na canção introdutória do filme. A maior corporação da cidade vende ar fresco, isso mesmo: ar fresco! Ninguém nunca sai da cidade, ela é isolada do mundo, o ar não é muito bom, dado as fábricas e tudo serem artificiais. As árvores estão extintas, as pessoas tem medo do que é natural, são ignorantes a esse ponto. Dentro desse cenário, que é tratado com a maior naturalidade do mundo, há um garoto, Ted, que está apaixonada por essa garota, Audrey, que sonha em ganhar uma árvore de verdade. Some 1 + 1 e você já sabe que Ted fará de tudo para descobrir o que aconteceu com as árvores e onde ele pode encontrar uma para dar para a garota e conquistar seu coração.

E aí entra a segunda trama da história e é onde as coisas ficam mais cinzentas. Ted descobre que fora dos domínios da cidade existe um eremita, por assim dizer, chamado Umavez-ildo (Once-Ler no original) que sabe o que acontecer com as árvores. Gostei do choque e impacto que o filme dá quando Ted consegue sair da cidade, pois o que ele encontra é um vale gigantesco totalmente morto, sem vida e sem cor. Até então o que se vê no filme é uma cidade alegre e colorida, mesmo com tudo artificial e com ar fresco sendo engarrafado para ser vendido as pessoas. Ted encontra o Umavez-ildo que começa a contar sua própria história, como esse vale, uma vez recheado de vida, animais e árvores (as chamadas Trúfulas) acabou desse jeito, completamente devastado e morto.

Aí começa o segundo plot da trama, onde entra em cena o Lorax, que surge como o guardião da floresta logo que a primeira árvore é cortada. Por sinal os animais da floresta, peixes, ursos e aves lembram muito o estilo de humor dos minions de Meu Malvado Favorito, sempre fazendo graça quando estão em cena. Lorax se relaciona com o Umavez-ildo que promete jamais cortar outra árvore, mas sabemos que em algum ponto da história essa promessa será quebrada, só não dá para saber como isso vai ocorrer até que ela realmente ocorre. A devastação do vale das Trúfulas mesmo sendo feito através de uma canção é bem triste e chocante. A despedida do Lorax também, você vê uma amizade que foi traída pela ganância e esperança de aprovação familiar por parte do Umavez-ildo. Enquanto isso, na trama presente, Ted também tem seus problemas com o Sr. O’Hare, dono da empresa de ar fresco, que não quer saber de árvores produzindo ar de graça.

The Lorax não tem reviravoltas inesperadas, não tem muita sutileza em algumas mensagens, mas garante diversão descompromissada. O próprio Lorax é uma figuraça, que mesmo sendo o guardião das árvores, é um ser pequeno, sem poderes e que apela para truques singelos para expulsar o Umavez-ildo, como colocar sua cama no rio enquanto ele está dormindo para que o rio leve o cara embora da floresta. Lorax não é um guardião que usa a força bruta, mas são suas palavras e persistência que acabam impactando o rapaz, ainda que não consiga mais fazer isso depois de certo momento da trama, e só volta a dar o que pensar quando tudo acaba indo para o brejo.

O filme tem uma mensagem ecológica no fim, sobre o desmatamento desenfreado, a ganância do mundo corporativo e até mesmo da ignorância de uma sociedade que só se preocupa com seu próprio umbigo, sem se importar com aquilo que apenas parece que não nos diz respeito, mas certamente nos diz. Se você não se importar com algo, nada irá melhorar. Não concorda?

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