Novos videogames pra que? Essa geração já deu tudo o que tinha que dar?
É uma questão até simples: precisa que se produza novos aparelhos para se produzir novos e fantásticos games? E quem paga (muito mais) por isso não somos nós? Então por melhores games temos que gastar mais?
Ao longo deste ano vem se discutindo muito a necessidade de uma nova geração de consoles. Geralmente se deseja uma nova geração de videogames quando os jogos produzidos na geração atual já não empolgam mais e quando não se conseguem apresentar novas idéias para novas propriedades intelectuais ou simplesmente quando os blockbusters deixam de vender tanto quanto geralmente vendem num começo de geração.
Aí o mercado cria uma nova perspectiva por uma nova geração, com melhores gráficos, com novos games, com seqüências de franquias que superem seus antecessores, além de se aproveitar no hype para testar novas e diferentes franquias. Mas precisa mesmo de novos aparelhos para que estes fatores ocorram? Em minha opinião o mercado de games mundial está um pouco confuso quanto à necessidade de uma nova geração de aparelhos. Precisamos de aparelhos mais potentes para fazer jogos melhores ou apresentar concepções de novas propriedades intelectuais originais e inovadoras?
Posso responder essa indagação com um game que foi apresentado na E3 deste ano: Watch Dogs. A Ubisoft soube vender esse peixe no evento e todo mundo praticamente ficou muito animado com o jogo, seu conceito e sua jogabilidade. Esse é um tipo de situação onde não precisa de uma nova geração para que o consumidor do mercado fique animado a gastar. Tomb Raider é outro exemplo que expressa bem à necessidade ilusória que pede por uma nova geração. O novo game de Lara Croft é uma reinvenção da série, um reboot e não está sendo produzido para novos aparelhos. Vai sair para os consoles desta geração. E você não está animado para jogá-lo?
(Watch Dogs: algo novo, uma proposta diferente e não precisou de uma nova geração)
Não tenho problema com a indústria querer aposentar seus aparelhos atuais e jogar novos e melhores no mercado. Mas estamos numa situação onde o lançamento de novos consoles parece mais uma desculpa esfarrapada de um mercado que enfrenta um branco criativo, que possui dificuldades para fazer com os gamers continuem comprando e gastando tanto quanto estes gastam sempre que um aparelho novo é lançado no mercado. E os gamers também tem sua parcela de culpa nessa história, pois pressionam e criam um hype enorme por novos videogames, dizendo que estão cansado dos mesmos games lançados num mesmo sistema ano após ano.
Não acho que a geração PS3/X360/Wii tenha apresentado tudo que poderia apresentar. É óbvio que cada console talvez mereça ser analisado de forma individual, como o Wii. Fica claro que o Wii U surgiu pela necessidade da Nintendo de avançar graficamente seu console para que jogos multiplataformas do Xbox 360 e PlayStation 3 pudessem também serem lançados no lado mushroom da força. Claro que se aproveitou dessa oportunidade para melhorar outros aspectos do console, como a interface que agora parece que poderá competir com a Xbox Live e PlayStation Network. A idéia do controle tablet não é ruim e tem uma pegada que vai atiçar a curiosidade, mas ainda sou da opinião que é o tipo de controle que servirá mais de perfumaria do que algo que mudará a forma de jogar, tal qual o wiimote conseguiu. Mas são coisas que só saberemos ao certo no futuro. O caso é que independente do anúncio do Wii U ainda acho que o Wii ainda poderia ter apresentado excelentes games e franquias de peso, como F-Zero, Star Fox e afins. Não precisava de uma nova geração para ficar esperando por certos games. Também me preocupa o fato de quando os novos consoles da Microsoft e Sony forem lançados qual será a defasagem gráfica do Wii U em relação a eles e se os multiplataformas não acabarão novamente não saindo na plataforma da Nintendo por incompatibilidade gráfica, porém isso é conversa para o futuro também.
No caso do Xbox 360 e do PlayStation 3 a necessidade de uma nova geração é ainda menor a meu ver. Os games nestes sistemas já são bonitos. Tudo bem que podem ficar ainda mais, mas essa prerrogativa é perigosa, pois sempre iremos querer games mais e mais bonitos. A busca pela perfeição é um exagero desnecessário. Tudo bem que gráficos e melhoria no processamento são coisas diferentes. Um console mais potente pode processar melhor certos aspectos do game, como quantidade de objetos que se podem interagir, mais inimigos, melhora na inteligência artificial, melhor velocidade de resposta etc. Todos estes aspectos são importantes, mas jogando hoje em dia não sinto extrema falta de algo melhor, como se estivesse jogando algo ultrapassado ou falho. Outra coisa que poderia mencionar são as franquias relacionadas a estes videogames. Quando se começa a vislumbrar a sombra de uma nova geração, os estúdios param de desenvolver para os consoles atuais e focam boa parte de seus esforços e criar novos e mirabolantes games para a próxima geração, fazendo com que o mercado passe por essa fase de vacas magras, que só faz aumentar ainda mais a ansiedade pelo fim da geração e a chegada de novos e inéditos títulos. Admira-me até que Halo 4 esteja saindo nessa geração, pra citar como exemplo. Sem mencionar que o PlayStation 3 é, sem dúvida, o console com o melhor hardware desta geração, fico bobo de ver pessoas que já estão loucas querendo aposentar esse console para a chegada do PlayStation 4. Claro que sem ver o processamento de games e dos gráficos da próxima geração fica difícil dizer se o PS3 poderia competir ou não com eles, mas mesmo assim, é um puta console que deveria ter durado muito mais, ainda mais agora que nos últimos anos começou a alavancar franquias e grandes blockbusters, depois de ter começado de forma bem devagar a atual geração.
Uma coisa que me preocupa por essa euforia por uma nova geração são os valores monetários que serão exigidos para entrar nesse clube. Já acho os games hoje em dia extremamente caros, e estou me referindo aos preços norte-americanos. Sessenta dólares por um game não é pouca coisa. Quando a atual geração chegou, o custo talvez fosse meio alto para se desenvolver para ela. Mas anos se passaram e os games continuam sendo lançados nessa faixa de preço, isso quando não inventam edições de colecionadores que dobram o preço do produto ou aquelas edições de colecionadores mais simplex, onde tascam conteúdos baixáveis dentro de uma caixinha de lata e jogam o preço para setenta ou oitenta dólares. Pergunto-me se a próxima geração continuará vendendo games a sessenta dólares ou se veremos lançamentos saindo por setenta dólares. Será que não seria mais legal se a geração continuasse por mais uns 3 ou 4 anos e os lançamentos baixassem de preço? Os custos de desenvolvimento não devem ser iguais de quando essa geração começou. Já se sabe como desenvolver, os kits de desenvolvimentos, as engines, tudo já foram desenvolvidos nos primeiros anos de cada console. Se os recursos no começo de geração eram altos para se produzir um jogo, agora já não devem ser tanto assim, pois a tecnologia acaba sendo barateada a cada ano em virtude de novas que vão chegando ao mercado.
Digo isso porque vejo o absurdo que é a nova geração de portáteis. Não gosto da idéia de games de 3DS e Vita sendo vendidos entre trinta a quarenta dólares. Acho que os preços já estão exorbitantes e até meio que incompatíveis com o mercado atual, onde temos games sendo desenvolvidos para celulares e tablets que vão de 0,99 cents a vinte dólares. Claro que os games destes portáteis são melhores, mais caprichados, mais completos, mas independente disso, qual é a razão do preço tabelado? Por que não criar algo mais flexível? Vejo os games via download na XBLA e PSN que custam menos que os jogos para o 3DS e Vita e dependente do título são muito melhores do que se produz para estes portáteis. Há certo desnivelamento de preço no mercado atual, entre lançamentos de consoles de mesa, por download, por portáteis e dispositivos móveis.
Enfim, acho uma ilusão essa coisa de que precisamos de uma nova geração de consoles para jogarmos melhores games. Não precisamos. Algumas promessas de jogos para o próximo ano, que ainda devem sair nos consoles atuais, provam isso. Não precisamos de novos aparelhos para testar novas idéias ou para reinventar franquias. O mercado não precisa de uma nova geração de aparelhos ainda mais caros do que os atuais ou os games podem custar ainda mais ao desenvolvedor para produzi-los e que podem (ou não) refletir em maiores preços na hora de vender. Claro que vai chegar uma hora que a tecnologia por si só vai pedir que novos aparelhos sejam feitos para incluir certas novidades e melhorias, mas isso deveria vir de forma mais natural e não da forma como vejo que está acontecendo atualmente, onde novos aparelhos parecem que estão sendo apressados por uma pressão de mercado, pela euforia errônea de que novos games só funcionam em novos consoles. Não é bem assim.
(Tomb Raider: expectativas altas pelo reboot de um clássico e que acontece nesta geração)
Xbox 360, PlayStation 3 e Wii ainda poderiam durar por mais alguns anos, mas os estúdios já estão redirecionando seus projetos e esforços para a futura geração, fazendo com que os aparelhos morram ainda mais rápidos. Para que toda essa pressa?