Do que sua vida é construída?
(Por Lucas Tillwitz)
Meu interesse por coisas from Japão deve-se a duas séries: Naruto e Ichi Rittoru no Namida. O primeiro conheci pelo SBT. Aquela sequência do Naruto com o Sasuke no colo, invocando a Kiuuby na marra me fez pirar, mesmo não sabendo do que se tratava. O segundo eu descobri. O interesse em saber quem era o país por detrás da série do ninja loiro, me levou aos seriados da Grande Nação Japonesa. E os comentários que eu pescava nos fóruns era um só: Assistam Ichi Rittoru no Namida!
Li a sinopse da série e já me interessei: “Ichi rittoru no namida é um drama japonês sobre uma garota diagnosticada com uma doença degenerativa incurável aos 15 anos. Sua família ao saber do gravíssimo quadro de Aya, esforça-se para encontrar alguma esperança de cura.”. Dramático que sou, baixei a palhaçada toda.
Ichi Rittoru no Namida ou Um litro de lágrimas (sente!) é uma história baseada em fatos reais (!!!) sobre como a doença degenerativa de uma garota modifica a natureza de todos ao seu redor. Essa deveria ser a sinopse, até porque a história não se centra somente em Aya. O desenrolar da série de apenas 14 episódios e um especial se dá através dela, mas os personagens secundários também possuem seu merecido desenvolvimento e, ainda mais importante, seu amadurecimento.
Degeneração Espinocerebelar, a doença da protagonista, é uma rara e progressiva moléstia que acomete o cerebelo, tronco cerebral e medula espinhal. Todavia, o cérebro continua intacto. No começo, você simplesmente cai. Percebe que não controla certos movimentos. Isso acontece porque as células nervosas são destruídas, fazendo com que haja uma má interpretação dos impulsos elétricos. Depois disso, você percebe que não consegue mais manter uma postura ereta. Não consegue mais medir distâncias. Não consegue mais manter o ritmo de sua caminhada. Reconhece que sua fala está ficando afeta, a formação das palavras não é mais eficiente como antes. O garfo que você pegava para servir-se não lhe serve mais. Precisa de uma colher para não perder a trilha que leva a comida à boca. Reconhece que a visão está ficando bamba, que objetos não se fixam mais como antigamente. O que há com você?
É a partir deste impulso que toda a história se desenrola. Vemos a mãe da protagonista sendo uma leoa que só quer dar a chance da vida para a filha. Presenciamos um pai que tenta ser durão e mantenedor da casa, mas que sofre a cada progresso da doença da filha. Enxergamos ali no canto a irmã, o irmão e a princesinha da família. Todos os três com seus conflitos internos, tendo de amadurecer conforme vão vendo a irmã se deteriorar. Além disso, outros personagens que valem ser lembrados são o médico da garota, o seu amigo (e amor), o pai deste amigo e a sua turma. Todos possuem contribuição para a história de Aya. E certamente, Aya foi determinante na vida de todos. Conforme a doença vai progredindo somos imersos no mundo interior daquela menina. Seus medos, seus receios, suas preocupações. Todo o seu amor.
E é isto que a série retrata. A doença de Aya é apenas o pano de fundo de uma história de amor. E não só isso. Mas uma história de garra, determinação, vontade e sonhos. Tentem se colocar no lugar da japonesinha. Você possui 15 anos, o começo de sua vida, e descobre que possui uma doença fatal. Todos os sonhos tornam-se quereres que dão lugar para um futuro em que só há uma perspectiva: você vai morrer. Mas antes disso, vai ver todo o seu mundo desmoronar.
A diferença da história de Aya é que ela resolveu lutar contra isso. Resolveu ver o que podia fazer de sua vida mesmo estando naquela situação. Aya me mudou. Mudou a forma com que via a vida. Mostrou-me que ela é muito mais bela do que pensamos. De que precisamos correr atrás de nossos sonhos. Que não há mal algum em fracassar. Sinceramente? Se eu fosse contar todos os detalhes que circundam a série e como ela me transformou, falharia. Pois Ichi Rittoru no Namida é uma experiência extremamente individual. Há falhas? Claro que há! Alguns atores não estão tão afiados quanto a intérprete da mãe e da protagonista. Mas que eu me lembre, é só! As atuações, a fotografia, a trilha sonora, o roteiro, o texto… É tudo incrível! Recomendo seriamente que você veja a série e também adentre no mundo da Aya real, aquela que a gente sabe que andou por aqui.
Falando nela, a inspiração para a série, Aya Kito (na série é Aya Ikeuchi), morreu no dia 23 de maio de 1988. Porém seu legado continua até hoje. Seja nas linhas deste autor improvisado, seja nas linhas de seu próprio diário, que já vendeu em todo Mundo mais de um milhão e oitocentas mil cópias. Aliás, este último foi uma recomendação de seu médico. Ao passar do tempo, a letra de Aya acabou ficando irreconhecível, pois já não controlava seus dedos. Sua última frase foi esta: “O fato de eu estar viva é uma coisa tão encantadora e maravilhosa que me faz querer viver mais e mais.”.