Hey Ho, Let’s Go!
(Por Gustavo Grangeiro)
Quando comecei a crescer (e perceber que as músicas do Balão Mágico e do Carrossel já não faziam mais tanto sentido), iniciou-se em minha vida uma fase meio difícil (musicalmente falando), pois as músicas dançantes dominavam as rádios e as pessoas da minha idade estavam começando a sair para dançar e se divertir, mas eu não conseguia ver graça nisso, preferia ficar jogando meu Super Nintendo, e as musicas do Top Gear e do Super Mário já eram suficientes pra mim. Até que um dia um primo mais velho me emprestou o icônico álbum “Rocket to Russia” dos Ramones, e minha vida pós-infância começou a fazer sentido.
Tudo naquele álbum era perfeito pra mim, desde a capa em branco e preto, num beco sujo qualquer, a indumentária surrada e os olhares nada simpáticos de cada um dos 4 elementos era a composição de imagem perfeita para as músicas que estava prestes a ouvir, a parte de trás continha um desenho um tanto quanto criativo (e anárquico) mostrando o mascote da banda (Pinhead) montado num foguete lançado em direção a Rússia (Rocket to Russia né Zé), com destaque para parte do Mapa Mundi na visão sócio econômica americana da época (considerando que o álbum é de 1977).
Porém, o melhor ainda estava por vir: as músicas, nada mais puro, nada mais simples, nada mais genuíno, nada mais agressivo, nada mais sujo, nada mais apaixonante, 14 faixas da mais pura essência do rock’n’roll, e isso me deu rumo musical e me mostrou que eu estava certo ao não sucumbir às musicas dançantes, assunto que é abordado na música “Cretin Hop” (Dança Cretina) que abre o álbum.
Só que não estou aqui pra falar só de um álbum, estou aqui pra falar de uma banda, apesar de que existiam várias outras bandas que me agradavam na época, foram os Ramones que moldaram a minha ideologia musical e estão presentes em grande parte da minha história de vida.
A começar pelo interesse em aprender um instrumento, lembro que ao comprar minha primeira bateria passava o dia todo incomodando a vizinhança “tentando” tocar Ramones.
Mesmo sem aprender direito, montei com alguns amigos minha primeira banda, chamada “Infecção”, e era uma banda que só tocava Ramones, por dois motivos: musicas simples e fodásticas.
Algumas informações extras sobre os integrantes da banda:
- O guitarrista tinha uma guitarra verde (Tonante), impossível de afinar, com 5 cordas, pintada à mão;
- O baixista comprou o baixo (usado) uma semana antes do primeiro ensaio, aprendeu 3 notas e pronto;
- O vocalista berrava tão alto, que parecia que teria um colapso cerebral a qualquer momento, tamanha era a quantidade de veias que saltavam em sua testa;
Eu nem imaginava o que era técnica ou estilo musical, só queria tocar rápido o suficiente para tocar Ramones.
E assim, iniciamos os ensaios num lugar que era conhecido como “o quartinho do fundo”, que era na verdade um quartinho no fundo da casa de um amigo, quartinho esse que posteriormente ao ensaiar com outra banda, visualizei pela primeira vez a garota conhecida hoje como minha esposa.
A primeira apresentação dessa banda (fora do quartinho) foi numa festa do dia das crianças num bairro próximo, arranjada pelos nossos amigos de uma outra banda chamada “Vírus”. Interessante que após a apresentação de dois palhacinhos muito simpáticos e engraçados, foi anunciado que as duas próximas apresentações seriam as bandas Vírus e Infecção, informação recebida com um ensurdecedor silêncio pelas crianças que ali estavam.
Ao fim da primeira canção que tocamos, já ouvíamos gritos histéricos de algumas mães que ali estavam: “TOCA LEONARDOOO” era ouvido em coro a quilômetros de distância, coisa que não nos agradou muito. Porém, tirando esse pequeno imprevisto de gosto duvidoso, pra nós, o primeiro “show” foi sensacional, inesquecível, nos sentimos ótimos, éramos uma banda.
Algum tempo depois (ou antes, não me lembro) fui com dois amigos assistir a um show da Banda “Ira” numa cidade vizinha, e lá haviam alguns caras mal encarados, doidos pra arranjar uma briga com a gente, e se há uma coisa que eu não gosto no mundo é apanhar, porém, tudo indicava que isso aconteceria nesse dia, até que um dos brigões veio na minha direção e ficou parado na minha frente me encarando, e grande foi minha frustração (e alívio) quando ao aguardar um soco na fuça, fui surpreendido com um caloroso abraço, simplesmente porque eu estava vestindo uma camiseta dos Ramones, assim como ele. Além disso, (se não bastasse “um” abraço) ele fez todos os demais integrantes da “gangue” abraçarem a mim e os meus amigos também, cena difícil de ser compreendida por quem estava por perto.
Lição aprendida: sempre usar uma camiseta dos Ramones em cidades vizinhas.
Uma das coisas legais é o ato de converter muitas pessoas ao decorrer dos tempos, e sou muito orgulhoso em dizer que participei da conversão de algumas pessoas, meu irmão, por exemplo.
A primeira manifestação dessa conversão foi numa festa de fim de ano em casa, onde todas as crianças estavam correndo e brincando, porém, meu irmão (na época com 7 anos) não estava com as demais, após percebermos sua ausência iniciamos uma gigantesca busca por ele na nossa casa de 4 cômodos. Trinta segundos depois as buscas foram suspensas, ele foi encontrado em meu quarto, feliz da vida, delirando ao som de “Surfin’ Bird”. A manifestação mais recente é uma tatuagem do Joe Ramone Zumbi que ele fez panturrilha, porém, é frequentemente confundida com o Edie (Iron Maiden), gerando um cerco descontentamento nele.
Outros momentos e situações poderiam ser inseridos, mas creio que prolongaria muito o texto e não agregaria muita informação sobre a importância da banda.
Então, esse foi um pequeno resumo em forma de homenagem a essa banda que tanto admiro. Não vou dizer que Ramones é minha banda favorita, mas também não vou dizer que não é, até porque isso é irrelevante e muito transitório, mas digo com toda certeza que é banda mais importante da minha vida, a divisora de águas que me fez ver a música de forma diferente e me proporcionou diversas situações que dificilmente esquecerei.
E você tem alguma historia com alguma banda?