HQ – Desvendando Arkham Asylum (Opinião)
O Bátima é convidado pra uma tal de suruba!
Uma das HQs mais fantásticas e detalhadas que eu já tive o prazer de ler, reler e pesquisar e em breve colocar na minha estante. Arkham Asylum.
Arkham Asylum, possivelmente, ao menos na minha fraca memória, o local com maior número de loucos no mundo, não perdendo nem para Alcatraz (se rebaixarmos pessoas como Al Capone, a simples loucos). Esse é o local onde passei alguns minutos imerso e perdido, observando a beleza da obra escrita de Grant Morrison e a complexa arte de desenhos e colagens de Dave McKean.
Parafraseando o Coringa: “Tive minha mente tocada por dedos pegajosos.”
Aconselho que leiam a hq, antes de ler este texto, pois os spoillers aqui podem atrapalhar uma primeira leitura e após lerem esse texto, deem uma nova olhada na hq.
Para situar alguns, Arkham Asylum é um manicômio situado em Gotham, mantém alguns dos mais perigosos insanos da cidade. Como a DC possui ligações entre as histórias, muitas vezes podemos ver personagens de outras tramas dentro do asilo de Gotham, o que faz o Batman voltar inúmeras vezes ao local.
Desta vez uma Graphic Novel foi criada (Arkham Asylum), a ela foi dedicado um cuidado especial, pois não se trata de uma simples hq.
Conta a história, buscando o intimo irracional dos personagens, de como Amadeus Arkham construiu o Asilo, suas perdas, medos e segredos. Conta novamente, mesmo que em curtos flashs, a história da morte dos pais do Batman. Porém, o que temos aqui não é uma história do morcegão, nem uma história do Coringa (como em A Piada Mortal), nem sequer é uma história. Pra mim, é um passeio pelos quartos, salões e corredores do Asilo. Passamos pelas mentes perturbadas de Duas-Caras, Coringa, Espantalho, Crocodilo, Doutor Destino e alguns outros.
E então entre as páginas percebemos o simbolismo, que pode beirar o incompreensível de Alan Moore, mas com um pouco de filosofia, astrologia, psicologia e um pouquinho de Lewis Carrol podemos entender ao menos a ideia geral da história.
O importante aqui é que nada é posto ao acaso, pois trata-se de uma obra que já passou nas mãos de Neil Gaiman (Sandman) e pulou para McKean e Morrisson, dois grandes gênios que conseguiram transferir para as páginas da Graphic Novel o que esta enxotado no metafísico dos personagens, que com camisa de força ou não, são incompreendidos na maioria das vezes.
Tudo começa com Batman se encontrando com Comissário Gordon, como sempre é, e neste mesmo local ao telefone ele ouve as exigências do Coringa, que esta participando da rebelião no Asilo. Precisa comparecer pessoalmente e participar dos jogos insanos e depravados.
Nesta história Batman esta sem aquela confiança habitual, demonstra mais medo do que qualquer outro personagem, parece até que Morrisson caçoa do morcegão, mas isso tudo é explicado com a simbologia que McKean acrescenta nas páginas.
Muita gente reclamou dessa personalidade dada ao Homem Morcego, porém gostaria de explicar alguns trechos da hq, e digo de antemão que essa explicação vem do meu entender, ou seja nada é verdade absoluta.
- A história se passa no dia primeiro de abril. Pra nós Dia da Mentira. Pros gringos April Fool Day, ou seja Dia da Mentira/Brincadeira/Enganação/dos Tolos/dos Loucos. Neste caso é o Dia dos Loucos e Tolos, onde quem esta no Asilo domina.
- Passando pelas instalações o Coringa mostra ao Batman o que aconteceu no lugar e o que é o April Fool Day, começando pelo salão principal onde existe um símbolo que pode ter chamado a atenção de quase todos. Um candelabro pendurado com um homem de ponta cabeça e braços abertos, como uma cruz inversa. Essa é a imagem do Décimo Segundo Arcano Maior do Tarô de Marselha (O Enforcado) que representa a submissão, a troca de valores e segundo a história da carta quando o enforcado aparece em uma consulta significa culpa e arrependimento. É exatamente isso que o Coringa mostra na Abertura da Farra dos Loucos. Batman esta ali pra deixar de lado sua certeza absoluta, e ceder-se aos medos. Nada do mundo la fora se aplica ali dentro.
O Coringa ainda cita que aqui fora é o asilo, o mundo dos loucos, lá dentro é um mundo de verdades. Desafiando Bruce Wayne e não seu auter ego.
Existe uma cena na hq que me decepciona, sinto vergonha alheia pelo Batman, pois o Coringa bate em sua bunda.
~Foi convidado pra uma tal de suruba~
Neste caso, o Batman esta passando por situações que não esta acostumado, dizem até que seria um pouco mais que apenas uma passada de mão, porém a DC não permitiu que caracterizassem o Coringa como era na ideia inicial, com ele vestido de mulher e ainda mais depravado como esta aqui.
Alguns detalhes são importantes para explicar esse pequeno e incomodo momento e tantos outros que ocorrem.
Os criadores mostram grande relação com símbolos, jogos e em especial o Tarô. Este último que apresenta três cartas importantes para explicar a história:
- O Tolo, que na carta é representado por um Palhaço, o que nos remete visualmente ao Coringa, porém nesta história temos uma inversão, o Batman é o Tolo.
- O Coringa toma o lugar em significado de outra carta, O Mago Invertido, que representa controle, domínio, impulso, espontaneidade.
- E outra peça importante na história é o Duas-Caras que é representado pelo Primeiro Arcano Maior (O Mago), que era indeciso. Assim como o Duas-Caras precisava de algum objeto para decidir o que fazer.
No final temos o Dia dos Loucos, onde o Batman é o Tolo, o Coringa é Dominador e o Duas-Caras é o objeto de Decisão.
Isso já define muito da história.
O personagem mais importante, resolvi deixar para o final. Amadeus Arkham, que é a verdadeira forma da insanidade, pois perto do final ficamos sabendo que ele assassinou a própria mãe.
- Acrescentando mais uma simbologia temos os escaravelhos que a mãe come no leito de morte, ao qual Amadeus acrescenta o significado de Renascimento. Ou seja, naquele momento Arkham Asylum nascia, e já tinha seu primeiro louco nele instalado, Amadeus.
Existem outras simbologias como a moeda, o dado e o Tarô do Harvey Dent, e outros que não tive a capacidade de identificar, porém deixo isso as conversas e a novos estudos.
A Graphic Novel foi publica pela Abril em Dezembro de 1990 e em Setembro de 2003 a Panini lançou uma edição especial.
Infelizmente os únicos lugares que consegui encontrar pra comprar foram Mercado Livre e Mercado de Pulgas, mas nenhum ainda novo.
Podem voltar para o loucura que é lá fora.
Muito boa análise man, justamente o que o Portallos precisava e merece!