As peças vão se encaixando
O fim está cada vez mais próximo (?).
Eu adoro os plottwists da Amano. Quem iria prever que havia algo tão obscuro por trás da batalha dos representantes ou que a temível Vindice, na realidade, fosse uma vítima das circunstâncias? Faltou uma exploração maior dos carcereiros da máfia, no entanto, gostaria de ter sabido mais a respeito deles além do fato de que eram arcobalenos que foram enganados e traídos pelo homem de máscara e juraram vingança, submetendo-se a Bermuda para conseguí-la. O ódio deles deve ser colossal para aguentarem viver com o corpo se deteriorando e dependendo daquele bebê para poderem se movimentar, algo inaceitável para Verde e os demais. Espero que isso seja ao menos um pouco abordado antes do fim, com a explicação da origem do Bermuda. Essa explicação tem que existir, afinal essa figura assombra a estória desde a saga Shimon e a Vindice o faz desde Kokuyo Land. E os carcereiros não são os únicos que estão tendo seu lugar ao sol no enredo, que parece estar cuidando das arestas.Acho que todos devem conhecer a sensação de ver uma estória fechando um círculo. Sentimos aquele golpe de nostalgia quando vemos elementos do começo de uma jornada sendo resgatados, explicados, reconstruídos e ganhando significados mais amplos; então ficamos animados, rimos para nós mesmos, discutimos em fóruns, lemos o capítulo de novo e rimos mais uma vez. Daí a ficha cai e nos damos conta de que se todas as questões forem respondidas – e estão sendo respondidas – devemos começar a nos preparar para a conclusão da estória.
Desde o começo da saga da batalha dos representantes do arco-íris houve desconfiança de que essa seria a saga final de REBORN. Na verdade, desde aquele capítulo do concurso de imitações eu fiquei com esse feeling. Tivemos a elucidação do mistério dos arcobalenos e do Trinisette e o desenvolvimento decisivo de personagens como Chrome, Iemitsu (em sua relação com o filho) e, acima de tudo, Tsuna e Reborn.
Não há como negar que esse foi o arco em que Tsuna mais cresceu. O garoto que em um passado distante considerava o tutor uma fonte de dor de cabeça e começou depois a vê-lo como uma figura paterna, enfim passou a caminhar com as próprias pernas e a tomar as próprias decisões. Contrariando sua natureza derrotista e a própria falta de fé de seu professor nele (uma coisa inédita, nunca antes o hitman foi tão sombrio e desesperançoso, deu até um pouquinho de medo), ele buscou uma solução para salvar a vida de Reborn e dos demais. Se os arcobalenos iriam perder suas chamas e morrer, bastaria dar novas chamas a eles, certo? Foi a conclusão a que o Décimo chegou com a ajuda de Lambo. Pois é, no quesito de surpresas, quem esperaria que o menino-vaca salvaria indiretamente o Reborn, o “arquiinimigo” dele?
Foi muito interessante ver Tsuna convocando e pedindo a ajuda de pessoas que ele já havia combatido no passado; e ele o fez sem o mínimo receio, like a boss. Comparem Tsuna reencontrando a Varia no começo do arco, apavorado, com esse chefe chegando com o Xanxus e dizendo “preciso de sua ajuda”. Chega a ser um pouco divertido, e denota até onde o rapaz iria para salvar seu tutor. E então tivemos o momento mais emblemático e emocionante da saga: Tsuna confrontando Reborn, afirmando que não o deixaria morrer e que o mafioso era um fracasso como professor particular. Daquele ponto em diante, o aluno o educaria. Tal inversão de papéis marcou o desenvolvimento e amadurecimento da relação mais bonita desse mangá. Não é que o título tenha mudado para Katekyo Hitman Tsuna, mas a relação estudante/professor foi definitivamente quebrada para dar lugar a um laço muito mais forte que foi sendo construído paulatinamente. Sem a intenção, o hitman se tornou membro importantíssimo da família que tanto quis que Tsuna formasse.
Vimos então Reborn e os outros arcobalenos confiando em Tsuna e uma grande aliança sendo formada. Então veio o retorno não muito entusiasmante de Ginger Bread (cuja única função aparente foi dizer que a Vindice causava o caos na máfia na surdina, vai ver muita gente queria saber quem o Ginger realmente era e a autora resolveu dar essa explicação para satisfazer os fãs), o hyper trio, a Vongola ( + Fran) lutando e vencendo unida – que passou a sensação de ser a forma da Amano dizer “viram, a Vongola não virou coadjuvante” – , o presente não lá muito útil de Verde e um massacre sofrido pelo suposto grupo mais forte. Vencido Jagger, Bermuda finalmente revelou sua verdadeira e chocante forma. O que ele era antes de ser amaldiçoado, aliás? Uma pessoa? Um robô? Tsuna de um universo alternativo? Primo do camaleão do Reborn? Por enquanto isso segue um mistério.
Reborn usa o presente mais uma vez, luta contra Bermuda e dispara um tiro… em seu aluno. E se todos já estavam cansados de Tsuna não ser capaz de reconhecer seu tutor adulto – o que eu sempre vi como uma brincadeira com o fato de só ele ser capaz de ver através dos disfarces do Reborn no Daily Life arc – tudo é perdoado quando Tsuna o reconhece por uma das primeiras falas do personagem no primeiríssimo capítulo do mangá! O que veio a seguir foi sublime.
Gritando REBORN, saindo de dentro da própria pele, com os olhos brancos e berrando que derrotaria o inimigo com seu último desejo enquanto deixava suas armas caírem ao chão, Tsuna volta ao combate! Nostalgia pura! Ok, faltou ele ficar só de cueca, mas ainda assim foi nostálgico. O último Power-up e a vontade mais poderosa se traduziram no que o próprio Tsuna tinha dentro de si no começo da série, mas demorou a aceitar: o potencial de alguém destemido que podia alcançar qualquer objetivo com sua determinação. Um Tsuna agora psicologicamente mais forte cujo poder vem da esperança resgata e ultrapassa o pilar fundador da estória. A luta já havia sido decidida pelo simbolismo naquele momento.
E finalmente chegamos ao capítulo 404 em si (acabei me deixando levar e fazendo um resumo dos últimos acontecimentos). A batalha não foi longa e Bermuda é logo derrotado. Melhor assim do que enrolar muito, eu acho. E eis que surge o capanga de Checkerface anunciando alegremente que o time Reborn havia vencido a batalha, em contraste total com as expressões dos vencedores. Eles já conheciam a verdade. Aquela não era uma vitória real; além das vidas dos futuros arcobalenos, o próprio futuro dos personagens principais estava ameaçado pela maldição. Meio estranho ninguém parecer preocupado em virar arcobaleno. Por mais que a situação de Reborn e cia fosse crítica, Tsuna e os demais poderiam ter pensado no que fazer para evitar a maldição. Se bem que o Sawada talvez só tivesse a vida encurtada em vez de virar bebê, mas isso ainda seria muito trágico. Então, diante deles, aparece o vilão final (ou inicial, já que ele é mencionado desde o Daily Life arc) de Katekyo Hitman REBORN: Checkerface, que retira a máscara (e o rosto!) e revela uma face conhecida de todos. Ele não é ninguém mais do que Kawahira, o enigmático fã de lámem que ajudou a todos no futuro. Se ele consegue arrancar o rosto facilmente, talvez o Kawahira nem seja a real aparência dele. Quem sabe o Checkerface não assumiu outras identidades durante a estória, como o Longchamp, o Mochida ou o Talbot para medir o potencial do Tsuna? XD
Estamos agora com várias possibilidades abertas! Kawahira pode ser uma entidade onisciente ou existir fora do tempo e do espaço. Ele pode ter interferido em todos os rumos possíveis em todos os universos para atingir seus objetivos, de um jeito que nem Byakuran seria capaz. Se ele criou todos os aneis, incluindo os Hell e os Shimon, o que ele pretendia? Uma medida para conter/fortalecer o Trinissette em caso de extrema necessidade? E se o tio do lámem estiver por trás da Cervello, então ele foi o responsável direto pela ascensão do Byakuran no futuro, mudando de lado no último instante. Mas por que ele não evitou a morte dos arcobalenos? Será que o sistema da maldição só é interessante em um contexto no qual não exista alguém que controle sozinho o Trinisette? E sendo que Checkerface já tinha a função de controlador/criador do Trinissette, por que ele a teria delegado ao Byakuran? Ele queria se libertar desse fardo? Agora, talvez, a questão mais interessante: se ele ajudou a Vongola no futuro, poderia isso significar que ele deseja que a família de Tsuna (ou o próprio rapaz) controle o Trinissette isoladamente? É preciso haver uma solução para o sistema dos arcobalenos. Ainda que todos os antigos se salvem (aliás, há alguém em condições de doar chamas agora?), alguém terá que se responsabilizar pelos pacifiers para garantir o equilíbrio do mundo. E talvez, se for para evitar mortes e maldições, Tsuna pode acabar aceitando a tarefa de guardião do Trinissette e, por segurança, terminar como chefe oficial da Vongola. Ou ele pode se tornar uma entidade que exista fora do tempo e do espaço e desaparecer do mundo, não sei. Esse mangá está trilhando rumos muito interessantes.