Indicação HQ | Pagando por Sexo – Paying for It, de Chester Brown
Nem todo mundo mete a boca (no mundo) assim!
Uma das HQs mais comentadas nos EUA esse ano, é mais um lançamento do “neutro” e “inexpressivo”, Chester Brown. Pagando por Sexo (do original, Paying For It), é uma HQ não aconselhada para menores de idade, que traz reflexões sobre a prostituição, o amor romântico, relacionamentos e sobretudo, a sociedade.
Sendo uma autobiografia, o personagem principal é o próprio Chester Brown, chamado pelos íntimos na história por Chet. O cara sempre manteve-se em relacionamentos, mas percebe que isso não lhe rende bons frutos no final das contas.
Resumindo a história em poucas palavras, “Chet resolve pagar por sexo e, metodicamente, descreve suas experiências”.
Quem realiza a introdução da HQ é Robert Crumb, esse que eu alimento uma certa repulsa ao trabalho e que mais uma vez, consegue tornar massante algo que poderia ser totalmente fluído. Até mesmo a Bruna Surfistinha, quer dizer, Raquel Pacheco, conseguiu algo melhor que o Crumb comentando a obra. Veja aqui)
Existia uma grande vontade de falar bem de Pagando por Sexo, mas isso foi ficando cada vez mais difícil conforme eu ia pensando sobre o assunto. Digo isso, mas continuo indicando a HQ a todos.
Parece estranho falar mal de algo e continuar aconselhando a leitura, pra mim também é bastante controverso, mas acontece.
O caso é que pra explicar isso, tenho que dizer que eu li uma HQ leve, cômica, com liberdade sexual, muito bem trabalhada em traços e bastante dinâmica (ponto) Cheia de bons personagens, que somem e reaparecem e cheia de boas intenções (ponto) Muito bem escrita e muito bem adaptada em falas (ponto)
Mas isso que eu li, não é o que o Chester Brown quis me mostrar.
A obra dele na verdade é algo que te deixa bastante à vontade durante a leitura, tanto que quando percebe-se já esta se colocando no lugar dele ou se opondo as teorias. E é ai que Chester mostra a que veio.
Pagando por Sexo é uma obra que leva a sério demais o discurso de direitos, que quer a todo custo te posicionar quanto a sociedade, a prostituição, ao sexo, ao amor e tantas outras divagações ali dentro. Pode ser que você termine, sinta vontade de rever outras vezes, mas ai você vai parar pra pensar no que é aquilo, no que acabou de ler. Descobre que Pagando por Sexo é um manifesto a favor da liberdade de expressão, seja ela em qualquer forma, do próprio Chester Brown. É uma exposição de uma fase da vida dele, uma explicação para os conhecidos e um carinho no próprio ego.
Não tenho o intuito de trazer más indicações aos leitores do Portallos e essa HQ não é uma má indicação. Existem algumas formas de ler, neste caso conheço duas, a leitura descompromissada, tratando apenas como entretenimento ou a litura crítica.
Vale à pena tentar separar uma da outra neste caso, o aproveitamento pode ser maior.
Resolvi colocar aqui uma entrevista que o Chester cedeu a Gazeta do Povo, onde ele comenta sobre a recepção do material entre homens e mulheres e pra mim confirma uma quedinha pela Denise:
Você poderia ser mais um cliente entre tantos outros. Por que resolveu se engajar?
Eu simpatizei com a situação das garotas, especialmente com a última, Denise. Eu acabei conhecendo mais a perspectiva dela sobre o assunto. Hoje em dia, a prostituição é legalizada no Canadá, mas há muitos políticos que tentam criminalizar a profissão, tornando ilegal pagar por sexo. Achei que explicar o meu ponto de vista era uma forma de não deixar as coisas piores para os clientes e para as prostitutas.
Pagando por Sexo é uma de suas poucas histórias pessoais. Você se sentiu exposto com ela? Como está sendo a repercussão do livro na sua vida pessoal?
Eu não me preocupei muito com isso. Já estou acostumado a expor coisas que parecem muito pessoais para as pessoas. E até o presente momento não tive consequências negativas da publicação do livro. Meus amigos e família ainda me aceitam como eu sou, e estou sendo mais reconhecido por esses dias por pessoas nas ruas ou em lojas. Às vezes me pergunto o quanto o pessoal que mora no meu prédio sabe, porque com esse livro eles podem supor o que se passa no meu apartamento e talvez não gostem. Mas se sabem, também não disseram nada. Então tudo está bem até agora.
Na introdução, Robert Crumb escreveu que a ideia de pagar por sexo é repulsiva às mulheres, por ser uma possível ameaça ao amor romântico. Baseado nisso, você acha que Pagando por Sexo é repulsivo para as mulheres?
Hum… Eu não sei se é mais repulsivo para as mulheres do que para os homens. A maioria das críticas negativas que recebi foram escritas por homens, eu acho que existem muitos homens por aí que acham repulsiva a ideia de pagar por sexo. Mulheres também, obviamente. Mas não sei se é algo específico de um gênero como Crumb acha.
Mas você tem amigas e mostrou seu livro para elas…
As reações das minhas ex-namoradas, descritas no livro, são muito mais fortes com o fato de conhecer alguém próximo que paga por sexo do que sobre minhas ideias a respeito do amor romântico. Mas nenhuma das minhas ex-namoradas ficou perturbada a ponto de deixar de ser minha amiga. Elas ainda me amam, e foram obrigadas a ver a prostituição sob uma outra ótica por minha causa.
Você pensa em fazer outro trabalho pessoal como esse no futuro?
Nada imediato. Acharia interessante se Denise estivesse aberta à ideia de fazer algo em cojunto comigo sob a ótica dela, mas acho que ela não se animou muito com a proposta. Então, acho que não vou fazer outra história em que eu seja o protagonista tão cedo.
Créditos da Entrevista a Gazeta do Povo
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Leandro, obrigado pelo comentário e pelas indicações, acho que você entendeu qual a intenção do Chester Brown com a hq.
Dei uma breve olhada no site e mais breve ainda nos grupos, gosto do debate, mas nesses grupos não me atraem tanto. Parabéns pela iniciativa e novamente, obrigado pelo comentário.