Graphic Novel | O Pinóquio que a Disney não pode mostrar (Winshluss)
♪♪ Não há cordões em mim ♪♪
O Pinóquio do Winshluss é uma adaptação do conto do Carlo Colloti, onde o Pinóquio foi criado na verdade para ser uma arma de guerra e após vários eventos que prejudicam sua venda como material bélico e uma pane causada por uma barata que entra pra viver em seus circuitos, inicia uma andança, quase que existencialista, conhecendo o lado sórdido do mundo.
“Essa é uma adaptação bastante livre do conto de Carlo Colloti” é mais ou menos com essas palavras que inicia-se a Graphic de Winshluss.
E podemos dizer que é bastante livre e crítica, pois pode estar ali demonstrando de supetão e sem dissimular nada uma realidade de época (ou atemporal) que trata de assuntos bastante complexos e problemáticos, como a poluição, monotonia, ganância, guerra, religião, desigualdade social, exploração infantil, política. Winshluss que participou de Persepolis, já tem como marca essa crítica mundial, portanto é de se esperar algo com tais temáticas.
Podem até achar que são assuntos recorrentes, que tudo já esta ficando desgastado e que não perderiam tempo e dinheiro comprando algo assim (ainda mais pelo preço +/-R$70). Aliás, esse era meu pensamento até entrar em uma livraria na véspera de Natal e encontrar o exemplar dessa belezinha.
Não conhecia Winshluss, mas já ouvi falar do seu envolvimento em Persépolis e da dessa adaptação do Pinóquio, e ouvi coisas muito boas de ambos, entretanto nunca foi do meu interesse. Mas um dia, como eu disse, em véspera de natal, entrei em uma livraria pra comprar um exemplar de qualquer Batman pra uma amiga (só pra não chegar de mãos abanando, comer o pavê e sair), acabei não achando nada de bom e levei um Vampiro Americano, mas isso não vem ao caso.
A coisa toda é que peguei o Pinóquio do Winshluss na mão, dei uma folheada, achei interessante e então a atendente se aproximou e comentou sobre o livro (ela tatuou uma imagem que aparece na Graphic), acabei trazendo pra casa. ~Aaah os encantos femininos hahaha~
Vamos ao que interessa e ao tom de fanatismo:
Começando pelo primoroso trabalho da Globo Livros Graphics feito para a distribuição, acredito eu que tenha ficado com a mesma qualidade do lançamento na França. Capa dura com a arte original e alguns detalhes, no que eu acredito ser, Hot Stamping.
Papel de gramatura altíssima, o que encarece mais, entretanto deixa muito mais bonito pra se colocar na prateleira.
A tradução é da Carol Bensimon, aquela do Sinuca Embaixo D’água e Pó de Parede (e se não me engano o conto Boca de Palhaço é dela também), me pareceu uma excelente escolha pra tratar dos assuntos que envolvem a Graphic.
E passando para o lado do criador, Winshluss traz aqui uma adaptação bastante “suja” do Pinóquio, tanto na história, quanto no traço, e isso de forma alguma é ruim. Várias vezes tenho a impressão de que tudo foi feito realmente à mão, sem aquele acerto no computador, sem aquela ajeitadinha na diagramação. Dá pra imaginar o cara traçando com régua e caneta os quadros que dividem as cenas. É um bonito trabalho que pouco se vê por aqui.
Existiu uma preocupação com a tipografia no momento das falas, cada personagem tem seu modo de falar, cada plot da história tem uma arte diferente e o uso das cores é sensacional.
Para exemplificar existem momentos em que um religioso descreve o inferno e os pecados e a cena precisa de duas páginas na horizontal, toda em vermelho e preto. Um outro momento pertence ao personagem que no Pinóquio da Disney seria a consciência do personagem principal, o grilo. Aqui suas cenas são todas em preto e branco, sujas e sem uma arte final como as outras.
E como tudo acontece rapidamente, uma página limpa em aquarela surge e o tempo de contemplação, te deixa mais leve para voltar a leitura dos quadros.
A história envolve personagens de outros contos como a Branca de Neve, faz referências a detalhes históricos e apresenta um roteiro que trabalha em loop, iniciando com um detetive que deveria solucionar problemas e que na verdade vive seu próprio caso. Como cada personagem segue seu próprio caminho, ao chegar nas partes finais do livro, vários plots vão sendo finalizados e todos com ligações a eventos passados, por esse motivo é interessante ler e reler.
Infelizmente, alguns detalhes tenho certeza que deixei passar ou alguns símbolos não compreendi, por isso terei novas leituras com essa Graphic.
Essa é uma das minhas recomendações, e pela primeira vez dei um tiro no escuro e consegui acertar um carinha de lata. Felizmente, foi um belo tiro.
Vi uma recomendação desse Pinóquio no Omelete uma vez. Parece muito interessante e gostei de como você o descreveu. 🙂
Obrigado Keila.
Eu tenho algumas coisas aqui que com toda certeza vão pra uma prateleira no alto pra manter longe de catastrofes rs. Meu box do Lost, Senhor do Anéis, Asilo Akham (…) e esse Pinóquio é um dos que merecem um lugarzinho ali. É realmente uma das coisas mais bonitas que comprei (a história não é bonita, mas é muito boa)
Vi uma recomendação desse Pinóquio no Omelete uma vez. Parece muito interessante e gostei de como você o descreveu. 🙂
Bom texto, Thiago De Souza Farias. Já tenho a criança, mas ainda não li. Com certeza ainda dará as caras no QnS. No final, seu tiro foi preciso.
Obrigado @[100001910302065:2048:Alexandre]. Estou a procura de Persépolis agora (mas na verdade não procurei ainda).
Vou aguardar pelo bate papo de Pinóquio no QnS =D