O melhor episódio já exibido de OUAT!
Pais, filhos, abandono, medo e magia.
Quem não se lembra de 2010 quando os roteiristas Edward Kitisis e Adam Horowitz, junto com o elenco e outros envolvidos na produção de Lost, disseram em várias entrevistas que aquela era uma série sobre pessoas? Muitos não aceitaram a justificativa, que foi entendida como uma desculpa por não terem sido explicados os mistérios da série. Outros entenderam que, de fato, o coração de uma estória é seus personagens, independentemente do quanto o universo seja interessante. Se em Lost a mitologia acabou por ofuscar Jack e os outros, os roteiristas parecem ter aprendido a lição e a aplicado em sua nova série. Por mais que Once Upon a Time tenha um universo intricado, ele está lá com a função de auxiliar na composição dos personagens. Suas intrigas, dores, vinganças, amores e medos são a base da estória. Os mistérios principais não dizem respeito a números amaldiçoados ou estátuas antigas, mas sim às justificativas por trás das ações dos personagens, que os levaram a ser o que são. E é justamente essa característica que torna Manhattan um episódio magnífico, ao mergulhar no passado de Rumplestiltskin.
Já não existem dúvidas de que Robert Carlyle é o melhor ator de Once Upon a Time. Sua expressividade e a composição que ele dá a seu personagem Rumplestiltskin não somente impressionam como também despertam no espectador uma forte simpatia, apesar de todas as atrocidades que o homem fez durante a estória. Sim, ele é o Senhor das Trevas que viveu por séculos, manipulou, matou e destruiu direta e indiretamente muitas vidas, mas no início Rumple era só um humano. E quando um episódio tem como foco a transformação do tecelão bondoso no monstro, não se pode esperar menos do que algo esplêndido.
Infelizmente a cena em que Rumple criança vê seu pai fugindo de cobradores e sendo morto foi cortada na edição, mas nós o podemos ver já adulto mostrando para sua esposa Millah, com orgulho e empolgação, o papel que atestava que ele havia se voluntariado para lutar na guerra contra os ogros. Ele finalmente tinha a chance de se livrar do estigma de ser filho de um covarde. No acampamento, no entanto, ele conhece a vidente que lhe faz a fatídica previsão. Ao contemplar a carnificina do campo de batalha e sabendo que somente os feridos podiam retornar a suas casas, Rumplestiltskin tomou a decisão que lhe renderia o título de covarde da aldeia, faria com que sua esposa o abandonasse, o levaria a se tornar o Senhor das Trevas e se separar de Bae: ele aleijou a própria perna para ser mandado de volta para casa. Tal qual Desmond, que só queria vencer uma corrida de barco e fez um avião cair em uma ilha, Rumple só queria ver seu filho crescer e condenou mais pessoas do que podia contar.
Falando propriamente do tempo presente da estória e explicando o título “Manhattan”, Rumplestiltskin, Emma e o menino Henry haviam ido para Nova York para procurarpor Baelfire e o acham logo no início do episódio. E para o choque de Emma (mas não dos fãs), o filho de Rumple era ninguém menos do que Neal: o responsável pela ida da moça para a cadeia e pai de Henry. Naturalmente, Emma se sentiu traída e abandonada pelo homem, e o deixou a par de sua mágoa, sem lhe falar sobre o filho (que havia ficado com Rumple enquanto ela perseguia Bae). Neal lhe disse que a havia deixado depois de August lhe contar quem ela era e o que estava destinada a fazer. Ele realmente a amara e a conhecera por pura sina, e não por uma das armações de seu pai. Emma, ao retornar para Gold e Henry, disse ao Senhor das Trevas que havia perdido Baelfire. Rumple invade o apartamento dele a procura de pistas e logo percebe que a salvadora estava escondendo algo e a confronta, mas Neal aparece no exato momento.
O reencontro de pai e filho é tenso. Baelfire o acusa de tê-lo abandonado, de ser um covarde, de ter preferido o poder a ele, enquanto Rumplestiltskin, cheio de remorso, lhe diz que fez de tudo para encontrá-lo e que podia apagar suas memórias ou fazê-lo ter catorze anos novamente para que eles ganhassem outra chance, o que foi veementemente rejeitado pelo filho. Um pouco antes do confronto com o pai, Neal, ao saber que Henry era filho de Emma, pergunta se ele era seu filho também, o que deixou a mulher sem outra opção a não ser confessar. Henry se revolta com ela por ter-lhe dito que seu pai havia sido um bombeiro morto em ação e foge pela janela. Ela o segue e ouve que ele quer conhecer o pai. Emma entendia os sentimentos de Henry; afinal, a dita salvadora havia acreditado a vida inteira que tinha sido abandonada pelos pais e crescera em orfanatos. Depois de Neal ter terminado a conversa com o pai, Emma lhe diz que Henry quer conhecê-lo. A conversa dos dois demonstra ternura, apesar da surpresa envolvendo seu encontro. Eles queriam se conhecer e se aproximar, e mesmo ainda precisando conversar sobre muitas coisas e apesar de todos os percalços, aquele era um momento feliz para os dois.
A cena que encerra Manhattan é a mais fantástica do episódio e se dá depois desse último flashback. Rumplestiltskin observa Baelfire e Henry pela janela, depois se volta para a direção da câmera e a expressão angustiada de seu rosto transmite o dilema em que ele se encontrava com perfeição. Ele havia perdido seu filho porque não queria perder seu poder (alguém mais se lembrou do Benjamin Linus?), depois fez tudo o que estava ao seu alcance para reencontrá-lo. Provavelmente, ele levou Henry para Storybrooke já sabendo que aquele era o garoto da profecia que o levaria a Baelfire (e como Rumple tinha adquirido o dom da premonição, ele arquitetou por séculos o plano para reencontrar o filho). O homem já sabia que teria de matar o menino e, ao agradecer Henry por tudo o que tinha feito, já sabia que logo teria de se desfazer dele. Rumplestiltskin havia matado muita gente, o que seria matar mais um? Mas o garoto era o filho de Baelfire! Se ele matasse o neto, todo o sacrifício que fizera para achar o filho seria inútil! O que seria a ruína que a vidente previra? Morrer? Perder os poderes? Perder a liberdade? Nenhuma das hipóteses é aceitável para o homem que ao ganhar magia a utilizou para subjugar a todos. A questão que fica é se Rumplestiltskin terá uma redenção, reconhecerá e se arrependerá dos erros que cometera, ou se ele se aferraria a sua muleta (o poder) até o fim, assustado demais com a possibilidade de ficar vulnerável novamente. Once Upon a Time investe em seus personagens e em seu enredo, ficando mais complicada e interessante nesta reta final da segunda temporada. Que venha logo o episódio de domingo!