O que significa que talvez muitos não cheguem ao fim dessa reflexão?
Pois é, a Internet vem se tornando um lugar esquisito nos últimos anos. Com a invenção de coisas como Twitter e seus 140 caracteres pra se expressar ou o Facebook onde uma foto ou imagem engraçada diz mais do que qualquer texto que venha anexado a ela percebo que a cada dia as pessoas querem ler menos e menos pela internet. Não é algo unânime é claro, ainda existe quem curte um bom e longo texto por aí, mas é um grupo de internautas que vem ficando cada dia mais raro de se encontrar.
No último mês vi sites como o Oene e afiliados discutirem com grande seriedade sobre o sistema de comentários na internet. Comentários podem se tornar um verdadeiro tormento para um site seja ele grande ou pequeno. Isso porque as pessoas que comentam nem sempre discutem o tema de forma saudável. É briga de egos, gente que falta com respeito, os trolls ou até mesmo aqueles que não dizem coisa com coisa. Geralmente se consegue contar no dedo das mãos os comentários pertinentes e que agregam valor a texto principal. Será que essa falta do “bom debate” em comentários não se dá por conta de muitos nem lêem o conteúdo do post antes de sair metralhando outro comentário dentro do post?
Afinal é mais fácil ler um comentário de duas ou três linhas, discordar do que a pessoa diz, e já sair metendo o pau nessa opinião em particular. Ler o texto maior, para depois ver as opiniões e só depois argumentar contra aqueles na qual discorda é algo bem mais demorado. Por isso é comum muitas vezes encontrar nos comentários discussões paralelas sobre assuntos que nada tem a ver com o texto principal. O que a galera quer ler mesmo é baixaria que se dá pelos arranca rabos via sistema de comentários?
Às vezes sinto como se a internet estivesse perdendo qualidade, como se ela fosse a TV Aberta dessa geração. Muito conteúdo besteirol e pouca gente interessada em um papo legal através da escrita (porque a internet tem outros formatos de debates, como vídeos e áudios e aí o debate muda de forma – ou não). Um sinal disso é a morte dos fóruns de discussão. Em tempos de internet discada, onde não dava para ficar baixando dezenas de podcasts ou quando nem You Tube ainda existiam, os fóruns eram um dos melhores lugares para se discutir sobre qualquer assunto com múltiplas pessoas. Era comum, por exemplo, encontrar tópicos no Fórum da Uol Jogos com dezenas de páginas de discussão e debates embasados e com muitos argumentos válidos sobre aquele game que você queria conhecer melhor.
Hoje em dia, só pra exemplificar a mudança, você entra na parte do Xbox 360 lá e vai encontrar 6 a 7 tópicos sobre Gears of War: Judgment que foi lançado esta semana, mas vai suar pra achar uma opinião mais concreta sobre o jogo. Boa parte dos comentários se resumem a mimimis de pessoas que não possuem informação suficiente para criticar o game (pessoas que não jogaram ou não possuem informações corretas sobre o mesmo), mas ainda assim o fazem, usando meia dúzia de palavras e sem qualquer argumentação em cima da própria opinião. E quando alguém com mais base (e melhor informado) surge para falar sobre o assunto e posta num tópico assim, se ele usar palavras demais ou for sério demais (sem trollar, flamear ou dar uma de engraçaralho) ninguém lê ou dá bola para o que o cara está dizendo. E a informação se perde e o que se tem são tópicos inúteis, sem qualquer tipo de conteúdo válido.
Fóruns foram mais legais no passado. Hoje em dia as pessoas que utilizam esse ecossistema da web não querem grandes debates ou textos reflexivos. São tópicos com meia dúzia de palavras ou dicas para conseguir descontos ou preguiçosos que não querem usar o Google para encontrar uma informação óbvia de se obter. CLARO que existem exceções. Pessoas que ainda sabem conversar e debater em fóruns, mas aqui não estou falando de exceções e sim da grande massa que invadiu a internet para torná-la o que ela é hoje.
Aí entram os blogs. Estes sofrem do mesmo mal dos fóruns. É comum encontrar blogs ou pequenos sites que são especializados em imagens, tirinhas ou vídeos engraçados e que são extremamente bem sucedidos em termos de acessos, leitores e comentários. Veja bem, não que eu esteja condenando esse tipo de diversão na internet. Não estou. Eu adoro alguns blogs de humor, como o Capinaremos, onde lá eles traduzem tirinhas de tudo quanto é lugar na internet. Se for esse o tipo de conteúdo que as pessoas querem na internet, não há que se condenar quem produz o mesmo. Até porque internet não é só para coisas sérias, mas tanto para descontrair.
Mas fica claro que a ascensão desse tipo de conteúdo na web nos últimos anos em detrimento de toda essa discussão sobre trollagem e sistema de comentários em sites mais sérios demonstra como a internet perdeu um pouco de suas qualidades originais, quando as pessoas levavam mais a sério conversas, reflexões e debates. Tome como exemplo muitos sites de noticiais onde se tem um cuidado enorme para que a notícia saia da forma mais sucinta possível, caso contrário, o leitor não vai ler e vai buscar no site que melhor a resumiu. Ninguém quer mega detalhes ou uma opinião embasada sobre tal assunto, exceto aqueles que são fãs de verdade do que o texto está falando e possuem aquela curiosidade natural de saber mais sobre aquilo que gostam. Quem acompanha por acompanhar, quer o texto o mais mastigadinho possível.
Ainda existem sites que se dispõem a puxar debates e discussões. Mas nem sempre o resultado é algo que agrada o autor. Pessoas que não conseguem ter a paciência de ler todo o texto, daqueles que só querem flamear os comentários, dos que buscam comentários curtos para criarem picuinhas dentro da discussão, e até mesmo aqueles que só de lerem o título da matéria acho que já sabem tudo aquilo que o texto irá dizer e por isso já saem metralhando uma opinião (que muitas vezes nada tem a ver com o texto ou que repete aquilo que está escrito no texto principal sem agregar nada). O resultado disso é que a cada ano, mais e mais pessoas se sentem desestimuladas a iniciarem debates ou a escreveram grandes textos na internet para um público mais casual. É como editoriais em jornais impressos. Alguém ainda se importa com eles?
Aqui no Portallos a gente sempre teve essa coisa de querer escrever demais, seja de qualquer assunto redundante ou talvez não. Um filme merece uma reflexão enorme? Um game? Uma HQ? Talvez sim. Os problemas do mundo não podem se resumir apenas aqueles realmente trágicos ou sérios, como violência, corrupção ou fome. Da diversão também dá para criar debates e discussões ideológicas ou críticas a mercado ou na forma como o mundo pensa hoje em dia. Mas alguém realmente ainda se importa com estas reflexões, ainda mais se estiverem expressas no formato de textos com mais de 4 parágrafos?
Venho de uma outra geração que conheceu uma outra internet. Tempos onde escrever opiniões extensas era algo legal. Tive um fórum de games por 5 anos e lá existiram debates épicos sobre tudo que seja possível imaginar dentro dessa área, com dezenas de pessoas, de vários lugares do Brasil, com idades que iam dos 15 aos 50 anos. O fórum morreu justamente porque o tempo passou, a internet ficou mais dinâmica e essa coisa de passar dias e dias debatendo um assunto não era mais a mesma coisa. Aí depois veio o Portallos (após 4 anos de fórum), que era uma ferramenta por me permitir abrir o leque de assuntos para além do mundo dos games e mais para o mundo nerd e aqui estamos, 5 anos depois.
Mas é difícil competir com uma internet onde as pessoas se expressam em 140 caracteres (é sério, como eu passo ódio no twitter quando não consigo dizer tudo que quero num único tweet) ou numa rede social onde imagens falam mais do que qualquer texto (o Facebook até clareia o texto para um cinza quase branco quando você compartilha uma imagem, já percebeu isso?) ou de blogs que conseguem trazer conteúdos curtos e de humor (a gente tenta as vezes usar isso aqui no blog, mas a vontade de ser “das antigas” e escrever até o dedo começar a doer falar mais alto). Não que os criadores desse tipo de conteúdo estejam fazendo algo de errado. O triste é ver o desinteresse dos internautas por conteúdos maiores, que nos fazem refletir, sem que tenham a necessidade de serem rápidos ou curtos para que o leitor não perca o interesse.
E pra encerrar, pergunto: você leu todo o texto? Ou veio saltando parte dele? Será que você tem algo a agregar ao assunto? Fuja da regra e faça um belo – enorme – comentário! (ou não)