Filmes clássicos | INIMIGO MEU (Impressões)

Um clássico Sci-fi dos anos 80

Num futuro não muito distante a Raça Humana combate uma raça alienígena chamada Drac (do planeta Dracon) pelo domínio e controle do universo. Em meio a essa guerra, durante um confronto espacial as naves de um combatente humano e de um combatente drac caem num planeta hostil e desconhecido.

Essa é a premissa do filme Inimigo Meu, um clássico da Ficção Científica dos anos 80.

Se você viveu sua infância durante os anos 80, certamente já se deparou com esse filme em alguma Sessão da Tarde ou Corujão da vida, porém, se você ainda não assistiu, sugiro que pare aqui, assista e depois volte, não digo isso pelos spoilers que vou liberar daqui pra frente, mas sim porque o filme é bom demais e a viagem vale a pena. Segue o link com o filme completo no youtube (aqui)  ta dublado, mas tudo bem, até porque quando eu assistia na infância era dubladão mesmo, e era massa. Por ser um filme de ficção Científica já bem velhinho, os efeitos especiais podem incomodar um pouco se for comparado com os filmes desse gênero lançados atualmente, mas na verdade, pra mim isso deixa essa viagem ao túnel do tempo ainda mais mágica, pois estamos indo ao passado para ver algo do futuro (ou vice-versa).

O filme é dirigido pelo grande Wolfgang Petersen, o roteiro foi baseado no livro Enemy Mine de Barry Longyear, e tem nos papeis principais Dennis Quaid como o humano Willis Davidge e Louis Gossett Jr como o drac Jeriba Shigan (Jerry), ambos interpretando de forma magistral seus personagens, com destaque para Luis Gossett Jr.

O desenvolvimento da história se dá como memórias do humano Willis Davidge narrando os acontecimentos durante seu convívio com o Drac Jerry.

Desde o primeiro contato entre eles (onde o humano movido pela vingança vai até os destroços da nave Drac pra tentar matá-lo, mas sua tentativa é mal sucedida), já percebe-se que o Inimigo com pele de réptil é mais civilizado (e esperto) do que o representante da nossa espécie.

Esse primeiro contato é bem interessante, pois até esse momento o humano nunca tinha visto um drac, sabia apenas que eram seres parecidos com repteis, que não eram nem machos e nem fêmeas e que eram “inimigos”. Quando Willis consegue se aproximar e ver o inimigo, ele tenta incendiá-lo, porém, além de não conseguir, ainda é rendido pelo drac. Mas o drac não o mata, somente o faz prisioneiro, então quando o humano acorda com fome inicia a tentativa de comunicação entre eles, após compreender que  Willis quer comer, o drac traz algo parecido com um verme gigante nojento, asqueroso e vivo, que mesmo relutante acabou sendo abocanhado pelo humano.

Nessa mesma noite enquanto dormiam a céu aberto, são surpreendidos por uma chuva de meteoros que os faz buscar abrigo, e para isso o drac liberta as pernas do humano para que possa correr, a partir de agora além de lutarem pela sobrevivência, inicia-se a busca pela convivência.

Com o decorrer dessa convivência percebemos que o drac desenvolve com muito mais facilidade a fala dos humanos do que o humano em relação à língua do drac, gerando assim até algumas situações engraçadas entre eles. Isso acontece porque o drac se interessa muito mais pela cultura do nosso planeta, e trata isso com extremo respeito, já o nosso representante vive chamando o drac carinhosamente por Cara de Sapo. Essa falta de respeito é a característica mais evidente da personalidade do humano em relação ao drac, tanto que em determinado momento o próprio drac chega a chamar a atenção dele por isso, porém, o drac deixa evidente que o problema não é a humanidade e sim Willis, que ali a representa.

O planeta, apesar de habitável, possui algumas inospitalidades como a já citada chuva de meteoros, um inverno bem rigoroso e também possui algumas formas de vida bem bizarras, duas delas nos são apresentadas, a primeira é algo parecido com uma tartaruga com casco e tudo, a outra é um monstro subterrâneo que se alimenta dessa tal tartaruga através de uma armadilha, após se alimentar dela o monstro regurgita o casco, e esse casco é usado por nossos heróis como abrigo (contra a chuva de meteoros e o inverno rigoroso). Ambos os heróis também passam por situações complicadas com o tal monstro, onde um acaba salvando a vida outro.

No momento em que o humano tem a idéia de usar os cascos como abrigo, ele fica super empolgado e pergunta com ar de soberania ao drac: “Onde você estaria sem mim?”, a resposta do drac: “Em casa” deixa o humano sem palavras.

No geral o drac possui uma sabedoria bem superior ao humano, quando eles começam debater sobre algumas verdades que são universais, o drac deixa claro que ambas as espécies possuem sabedoria, porém os humanos ainda não aprenderam a utilizá-la. Esses momentos de reflexão são muito bonitos, e os diálogos são bem reflexivos, principalmente sobre o nosso comportamento para com o próximo. A partir daí o humano começa a se interessar mais pelo livro sagrado dos dracs chamado Talman, a ponto de se tornar discípulo do ex-inimigo.

Porém, quando a convivência torna-se difícil, o humano sai pelo mundo para tentar encontrar vida, pois estava ouvindo sons de naves durante a noite. Após um tempo de viagem ele realmente encontra vida humana, mas esses humanos são mineradores  que extraem a riqueza dos planetas utilizando dracs como escravos, bem parecido com o passado glorioso da humanidade. Acho que somente nesse momento é que ele começa a perceber o quanto essa guerra era sem razão, tanto que ele volta para o abrigo e não tem coragem de contar ao Jerry o que ele havia visto.

Nesse reencontro Jerry revela a Willis que está esperando um filho, calma ai, diferente dos humanos os dracs não precisam de fecundação para engravidar, a gravidez é um estágio natural da vida de um drac, porém, novamente o humano ironizou essa condição.

O filme entra num momento mais dramático quando é chegada a hora do nascimento do pequeno drac Zammis (Bumper Robinson), pois, Jerry percebe que há algo de errado e que morrerá para dar a luz ao filho, nesse momento ele faz com que o humano prometa que ele irá apresentar Zammis para o conselho do Planeta Dracon como diz a tradição, e recitará todas as gerações da linhagem que originou Zammis.

O convívio entre o humano e o filhote drac é bem mais agradável, pois, o humano já está mais habituado com a natureza da outra espécie, sua maior dificuldade é fazer com que a criança compreenda que são de espécies diferentes e que ele não deve confiar nos demais humanos, eles são maus para os dracs. Mas como criança é criança não importa a espécie, o pequeno Zammis foge e vai até o local onde os humanos escravizavam os dracs e acaba sendo capturado. Ao perceber a fuga de Zammis, Willis vai em seu resgate, mas acaba sendo baleado e dado como morto, e posteriormente é recolhido por uma nave humana que fazia varredura no planeta e é levado para a nave mãe  onde vivia.

Quando recuperado, o humano (mesmo sem receber aprovação de seus superiores) volta ao tal planeta para resgatar Zammis, após ganhar a confiança dos demais dracs escravos e também receber ajuda de alguns pilotos humanos que perceberam a nobreza de tal ato, ele consegue cumprir sua missão de salvação, e também cumprir a promessa feita ao amigo Jeriba de apresentar Zammis ao conselho do planeta Dracon. Mesmo não deixando claro no final do filme, dá-se a entender que  a amizade de Willis e Jeriba (e Zammis) pôs fim à tal guerra, pois quando Zammis foi apresentar seu descendente ao conselho Drac, o nome de Willis Davidge foi incluído na sua linhagem.

Fazendo uma analogia da guerra vivenciada no filme com as guerras urbanas que vivemos hoje, podemos perceber que a raiz de todo o problema é a falta de compreensão ao “diferente”, quanta gente morre, quanto ódio existe sem nenhum motivo aparente que não seja o “pré-conceito”, ou seja, um conceito pré-definido baseado muitas vezes em hábitos, em estereótipos, em tradições, em medos, em crenças, e tantas outras desculpas que não são motivos, e isso nos leva a refletir em como estamos aplicando nossa tal ”sabedoria”, se é que a temos.

Inimigo Meu é um filme que marcou minha infância e ainda hoje me encanta cada vez que assisto, espero que esse encanto que o filme tem sobre mim, exista também em vocês.

“Se alguém lhe causar algum mal, não retorne o mal a essa pessoa. Em vez disso leve o seu amor ao seu inimigo. Porque o amor tem o poder de unir as pessoas” – Shizumaat

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