Doctor Who | Um homem louco com uma caixa (Indicação)

E a pergunta mais importante, escondida à plena vista.

Era uma vez um homem louco que tinha dois corações. Um dia, ele encontrou uma nave destrancada e a roubou, ou ele foi roubado pela nave, a estória varia dependendo de quem a conta. Todo o tempo e todas as dimensões relativas no espaço em uma caixa azul. A explicação por trás da aparência de uma cabine telefônica da polícia londrina era o fato de seu dono ter emperrado o dispositivo de camuflagem. Em sua TARDIS, o homem viajou, fugiu, se aventurou, sorriu, amou e chorou. A solidão não lhe fazia bem, o peso de uma vida fora do tempo e do espaço, dentro de uma perspectiva em que todos que conhece são fantasmas, era desesperador. Por isso ele precisava sempre de companheiros de viagem. Ele impressionava a todos com sua inteligência e loucura, mas era essencialmente um homem triste dentro de uma caixa azul. Maior por dentro do que por fora.

Doctor Who é uma série de ficção científica britânica que teve sua estreia em 1963. Em seus cinquenta anos de existência, onze atores já encarnaram oficialmente o Senhor do Tempo conhecido apenas como o Doutor. Seu público alvo principal era o familiar, sendo inclusive um programa educativo em sua estreia, mas logo o tom mudaria. O show ficou conhecido mundialmente por sua criatividade, sensibilidade e inteligência, e conquistou uma legião de fãs fiéis: os whovians. A chamada fase clássica da série contou com vinte e seis temporadas entre 1963 e 1989 e sete doutores. Foram criados livros, quadrinhos, audiobooks e inclusive um filme com o Oitavo Doutor antes do retorno do programa em 2005. A série nova tem sete temporadas até o momento e já apresentou o Nono, o Décimo e o Décimo Primeiro Doutores.

A série clássica foi se inventando à medida que ia sendo produzida. A regeneração, processo em que um Senhor do Tempo ganha um corpo novo quando está prestes a morrer, foi pensada quando o primeiro ator a viver o Doutor já não tinha mais condições de continuar no papel. E desde então dez pessoas viveram o icônico personagem. Cada intérprete, assim como cada roteirista, imprimiu ao Doutor características únicas que iam do vestuário (ora elegante, ora vibrante e excêntrico) e dos acessórios (cachecol gigante, guarda-chuva, all stars, gravatas-borboleta legais) à personalidade. O Doutor sempre foi um único homem que mudava sempre que morria e renascia; a idade curiosamente lhe fazia aflorar a juventude, mas não demorava para percebermos o quão velho ele era. Extremamente velho e solitário, louco e cheio de pesar. O protagonista de um conto de fadas sombrio cujo final feliz parece inalcançável.

Os companheiros do Doutor eram aqueles que o salvavam e eram salvos por ele. Comumente viajavam em sua TARDIS, e, quando não o faziam, ainda assim o ajudavam. Susan, Jamie, Jo Grant, Sarah Jane Smith, Leela, Romana, Adric, Ace, Rose, Martha, Donna, Amy, Rory e Clara, sem esquecer do Brigadeiro Lethbridge Stewart, do Capitão Jack Harkness, de River Song, de Mickey, Wilfred, Vastra, Jenny, Strax, Craig e tantos outros. Muitos desses companheiros e amigos eram humanos. Frágeis, extraordinários e brilhantes seres humanos que aprendiam coisas com o homem de Gallifrey e ensinavam outras ao Doutor; e que não o permitiam esquecer a promessa carregada no nome que escolhera. Aquele que cura, que cuida, que ajuda, que protege; no fim era ele que mais precisava ser protegido.

O universo era perigoso e cheio de inimigos. Os primeiros foram os Daleks. Criaturas cruéis, terríveis, sanguinárias e odiosas, protegidas dentro de estruturas que lembravam tanques-saleiros e mesmo assim capazes de assustar o mais bravo dos telespectadores. Mais tarde apareceriam outros inimigos, como os Cybermen – triste consequência da infindável ambição humana de se aprimorar, até restar somente um cérebro sob uma armadura prateada, característica de pesadelos – e o Mestre, outro Senhor do Tempo, grande inimigo do Doutor e sua antítese. Esses e outros inimigos primordiais apareceram na série nova e foram acompanhados de outras criaturas aterrorizantes: estátuas de anjos chorosos que se movem quando ninguém as fita, o mortal Silêncio facilmente esquecido quando se desvia o olhar, os homens dos sussurros que ninguém deve escutar, a escuridão faminta. O medo está lá, ele sempre esteve lá, nas coisas chamativas e nas quase imperceptíveis. E principalmente no homem de muitas faces e nomes.

A Tempestade Iminente, a Besta, o Predador, Valeyard. Antes um exilado do planeta Gallifrey, depois o último Senhor do Tempo, sobrevivente da Grande Guerra do Tempo (cronologia da série atual), destruidor de Daleks e aniquilador de sua própria espécie. Salvador, tirano, herói, guerreiro, no fundo apenas um garoto muito velho que corre. Ele corre de seu nome, de seu passado, de seus segredos, de sua escuridão. O garoto esperto corre e se lembra; sua vida é um rastro de lágrimas. Crianças não terrenas, crianças vazias, Asilo dos Daleks, planeta dos mortos, o passado, o futuro, universos paralelos, ele viu coisas que ninguém acreditaria, ele perdeu coisas que ninguém entenderia.

Há sempre percalços, impedimentos, obstáculos. O partir dos caminhos e seu lobo mau, o fim dos dias, o fim das jornadas, o fim do tempo, o Big Bang, os anjos que tomam uma cidade, uma tumba… no fim ninguém pode correr com o Doutor para sempre. Todos se vão e ele fica só, e esses são os dias mais terríveis. Ele tem de lidar com a raiva, a tristeza, o desespero, a culpa e a loucura que se acumularam nele por séculos. Naqueles dias, o Doutor não tem vontade de continuar correndo, ele não quer se ater à regras. O homem de Gallifrey só deseja vencer, só quer que as coisas deem certo e que ninguém se machuque, exceto por ele próprio. Mas há dias bons, dias em que todos são felizes, dias em que ninguém morre, dias em que homens bons não vão à guerra. E, nesses dias, o Doutor dança. E ele continua a viajar, a conhecer pessoas extraordinárias e a contemplar o começo e o fim de todas as coisas. E há momentos em que lhe perguntam a questão mais importante, aquela que jamais deve ser respondida. Doutor Quem? Mas a resposta nunca importou.

Ele é o Doutor.

Ele é assustador e maravilhoso.

E ele tem medo.

I walked away from the Last Great Time War. I marked the passing of the Time Lords. I saw the birth of the universe and I watched as time ran out, moment by moment, until nothing remained. No time. No space. Just me! I walked in universes where the Laws of Physics were devised by the mind of a mad man! I watched universes freeze and creations burn! I have seen things you wouldn’t believe! I have lost things you will never understand! And I know things! Secrets that must never be told! Knowledge that must never be spoken! Knowledge that will make parasite gods blaze! So come on, then! Take it! Take it all, baby! Have it! You have it all!

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