Um mundo tão vivo, que as páginas do livro não foram o bastante para segurá-lo.
Fazia tempo que procurava uma fantasia de mundo rico, com diversidades, e que não abandonasse os clichês, mas fizesse bons usos dos mesmos. Fazia tempo que não pegava um livro do gênero para ler, acho que o último havia sido a gigantesca série Deltora Quest, livro que marcou muito meu início na leitura e nos universos fantásticos.
Depois de ler algumas resenhas e ouvir o podcast do autor falando sobre o livro, decidi dar uma chance ao mesmo, já que, como disse, estava procurando um novo mundo fantástico vivo para me aventurar.
O mundo preto e branco começa a se misturar e tornar-se cinza, e junto com o protagonista , o leitor começa a perceber que o tal mundo, cheio de coisas fantásticas, magia, também pode ser bem parecido com o nosso mundo. Essa disposição de elementos como vícios, contrabandos, coloca Kurgala em uma posição onde é realmente possível acreditar que aquilo tudo se desenvolve sozinho, sem as mãos de um escritor ou algo do tipo.
Falando um pouco da mecânica que o autor utiliza de nunca manter a linha temporal em dois capítulos seguidos (sim, o autor sempre intercala passado com presente), confesso que não gostei nem um pouco, afinal Solano é bom em colocar cliffhangers em cada fim de capítulo para te deixar sedento pela continuação daquela linha temporal. É muito interessante que a linha do presente sempre se mantenha explodindo com ação e descobertas a cada curva, em ritmo na maioria das vezes acelerado, dado ao fato que o protagonista estar sendo perseguido o livro todo, e em contrapartida os capítulos de seu passado tenham um teor mais calmo, e com pequenas informações para conectar ao que vem acontecendo no presente, ligando as pontas, porém tendo como efeito coleteral de quebra de ritmo que por vezes foi bom e outras danoso, em minha opinião.
A jornada do progonista também é construída de forma a mostrar cidades grandes, cidades sem lei, e ainda o mar de Kurgala. A variação de ambientes e situações previne que o livro caia numa mesmice que parece inevitável.
A linguagem do autor é simples mas mantém um linha de frases de impacto muito boas. Por frases de impacto entendam, boa metáforas para enriquecer um texto que foi escrito com palavras simples, ao invés de usar termos complicados para pseudo-enriquecer as coisas.
O modo de lutar do espadachim, usando os tais cículos que o autor inventou é uma forma criativa de dar “poderes” e ainda sim, não deixar o protagonista invencível por causa deles.
Em alguns pontos, como uma guerra civil que está acontecendo em certa parte daquele mundo, achei que poderia ser mais explorado, mas acredito que o desejo de manter o livro por volta do número de páginas que ele tem falou mais alto.
Os contos de Tamtul e Magano e as pequenas frases que abrem cada capítulo são um show a parte e dão uma grande vontade de ler o que os contos de fantasia tem a oferecer, ainda mais depois de uma relação feita sobre os mesmos. Isso é outro ponto importante do livro, ele tenta sempre deixar algo no ar, a saber, para incentivar a leitura a ir a frente.
A verdade é que o mundo que foi criado aqui estourou as 200 e tantas páginas que o livro tem. É realmente algo muito maior do que o que foi apresentado neste primeiro livro. Ainda bem que provavelmente virá uma continuação por aí ou até um guia ilustrado, já que é uma pena o talento do Solano estar apenas nas figuras de abertura de capítulo.