Quando não se consegue lidar com o passado, você o esconde em um cofre em sua mente. Contém spoilers.
Qualquer fã de Hora de Aventura pode passar horas discutindo o que torna o desenho algo tão especial. Além dos personagens bem construídos e fascinantes, o enredo do show e a sensibilidade que denota em seu desenrolar são o real ponto forte de AT. Quem não se emocionou com a estória de Simon e Marcy, aprofundada no belo episódio homônimo e que tem uma das cenas mais emocionantes da série inteira? Ou quando recentemente foi revelada a história de Beemo no fantástico “Be more”? Ainda tivemos o sensacional destaque e desenvolvimento da Princesa de Fogo em “Earth and Water”, um olhar mais atento na relação de Bubblegum e Marceline em “Sky Witch” e muitos outros episódios que estão fazendo da quinta temporada de Adventure Time (e sua extensão) a melhor fase do desenho. Mas o último episódio lançado merece um destaque especial. Não só foi revelado um dos maiores mistérios da série, contrariando todas as teorias, como ainda foram fornecidas informações cruciais para entender melhor a estória.
Lembram-se da Fantasma de “The Creeps”? A teoria mais popular a seu respeito era de que ela havia sido a mãe de Finn. Isso já havia sido tão aceito pelos fãs que o caminho mais fácil para os roteiristas seria tornar a teoria realidade. E a preview do episódio, que mostrava a Fantasma e prometia revelar parte do passado de Finn, já havia feito os fãs surtarem e gritarem aos quatro ventos que aquele seria o episódio em que a teoria se provaria verdadeira. Só que ela não era verdadeira! A Fantasma era ninguém mais e ninguém menos do que… o próprio Finn!
Nesse episódio, o protagonista faz uma regressão e vê suas vidas passadas: um cometa ou meteoro, uma borboleta, uma gosma estranha e uma jovem chamada Shoko. Ela era uma ladra que trabalhava para uma gangue que vivia no castelo de “The Creeps” e só tinha um braço porque seus pais haviam dado o outro para uma bruxa ou bruxo em troca de um computador. A jovem é enviada para roubar o amuleto da soberana de um reino que estava surgindo: Bubblegum. Já tínhamos indícios de que a Princesa era mais velha do que dizia, mas nesse episódio houve a confirmação de que Jujuba tem, segundo Finn, gazilhões de anos de idade! O Reino Doce, em suas origens, era rústico, assim como seu povo, a quem Bubblegum chamava de “minhas crianças”, com exceção de Mr. Creampuff que era seu namorado (referência ao primeiro episódio de AT!). A Princesa trata Shoko com gentileza e a convida para ficar no reino, dando-lhe inclusive um braço robótico. O braço robótico! Eis a explicação para as diversas versões alternativas de Finn em que ele perde um braço, a menos que Shoko seja ainda mais uma pista de que em breve haverá uma virada na trama e Finn de fato perderá um braço.
Shoko fica tocada pela bondade de Bubblegum, a única pessoa a tratá-la bem, mas mesmo assim tenta roubar o amuleto da soberana, caindo no rio infectado de dejetos radioativos em seguida. Ela ainda consegue sair de lá (agora transformada na criatura que assombraria os sonhos de Finn) e rasteja até o local em que a árvore na qual seria construído o lar do herói crescia. Ela estava feliz em ter conseguido um novo braço, mas já era hora de apertar o botão de reset. Depois de acordar, Finn telefona para Bubblegum, chamando-a até a casa da árvore, e quebra o chão, revelando o esqueleto de Shoko e devolvendo o amuleto para a Princesa.
O panorama que “The Vault” abriu é vastíssimo! Quem imaginaria que Finn havia sido uma ladra em uma vida passada? Talvez a aversão que ele sinta pelo roubo em “City of Thieves” seja consequência da subconsciente culpa que ainda guarda de sua vida anterior. Talvez a paixonite que o rapaz nutrira por Bubblegum e sua determinação em protegê-la fossem devido a seu relacionamento com ela naquela vida e a culpa por tê-la traído no último instante. Ainda não sabemos de onde Finn veio e quem são seus pais, mas teremos muito tempo para descobrir isso. Adventure Time continua a expandir seu universo e mitologia e a inovar cada vez mais. Que venham muito mais episódios como “Tha Vault” e que a qualidade desse desenho jamais decaia.