Acabei de assistir o filme contando como Doctor Who começou (não aguentei esperar as legendas) e devo dizer que foi uma experiência emocionante. Mark Gatiss brilhantemente retratou a atmosfera em que o show foi concebido e as dificuldades em torná-lo uma realidade. Celebrar o passado enquanto se pavimenta o futuro tem sido o tema da celebração dos 50 anos da série, e esse tema tem sido muito bem trabalhado.
A história começa mostrando William Hartnell (interpretado impecavelmente por David Bradley), prestes a filmar suas últimas cenas como o Doutor. Ele se recorda de quando foi contatado para interpretar o personagem que mudaria para sempre sua imagem de ator que só interpretava personagens durões para a figura mais amada pelas crianças e pelos adultos britânicos. Vemos seus momentos de rudeza e de ternura, seu crescente amor pelo papel e como sua saúde foi se deteriorando. Mesmo quando sua memória falhava cada vez mais e quando se tornava difícil (e doloroso) para ele continuar atuando, Hartnell não queria abandonar o personagem. Era difícil distinguir o Doutor de William e a maneira com que ele construiu o senhor do tempo permanece icônica até hoje, servindo de inspiração até para as encarnações mais recentes. Vê-lo ser obrigado a se despedir do papel e, ainda assim, dar as boas vindas a seu substituto Patrick Troughton (sem mencionar uma surpresa no fim do filme) leva lágrimas aos olhos de qualquer fã da série. Doctor Who não existiria se não fosse pelo trabalho de Hartnell e isso jamais deve ser esquecido.
O filme também se foca na produção daquela que se tornaria a série de ficção científica mais bem-sucedida da História. Vemos o co-criador Sidney Newman apresentando o conceito para Verity Lambert (a primeira mulher a ser produtora da BBC) e como a mesma, junto com Waris Hussein (primeiro diretor de Doctor Who), colocaram todo o seu esforço no projeto e desafiaram aqueles que não acreditavam no potencial da série. O discurso de Verity sobre como ela sentia que estava fazendo algo bom e especial com Doctor Who, a cena do ônibus com as crianças fingindo ser daleks (só de pensar que Newman achava que os daleks não fariam sucesso chega a ser meio engraçado agora), assim como as de Sidney se retratando e Verity celebrando com Hussein o sucesso da tal desacreditada série foram lindas. É comovente ver como Doctor Who teve tanto amor e dedicação em seu início, e se não fosse pela persistência de Verity e Waris nós não teríamos essa espetacular e longeva estória para acompanhar.
Também achei maravilhosa a maneira como a Londres de 1963 foi retratada, assim como ver como eram os antigos estúdios e aparelhos da BBC, os figurinos e carros da época, as pessoas de fantasia, a primeira TARDIS, os bastidores de alguns episódios e duas cenas inesquecíveis de “The Dalek Invasion of Earth” recriadas: a marcha dos daleks pela ponte e a despedida de Susan Foreman, acoando a despedida do próprio William Hartnell mais tarde. An Adventure In Space and Time foi uma ótima maneira de começar as celebrações do aniversário de 50 anos de Doctor Who (além do fantástico minisódio The Night of The Doctor, claro). E que venha o Dia do Doutor amanhã!