Opinião | O momento em que os games digitais venceram as mídias físicas?

Que os games digitais estão inseridos no cotidiano de qualquer gamer da atualidade é inegável. Mas qual é o momento em que você prioriza ter um título digital ao invés de tê-lo em mídia física? Esse momento já chegou para você? Pois pra mim esse momento acabou de chegar, exatamente esta semana, daqui algumas horas, quando Destiny estará oficialmente lançado mundialmente e terei o game no momento em que o interruptor dos servidores foram ligados, pois optei pela versão digital e inclusive ela já está baixada no meu Xbox One, só aguardando mesmo o sinal da partida para começar a funcionar.

Talvez essa decisão tenha se iniciado ainda mais cedo se for considerar que ano passado adquiri um Nintendo 3DS XL e tomei a decisão na época de que todos os games que teria no portátil seriam digitais, aposentando assim aquela coisa chata de ficar carregando cartões de games pra baixo e pra cima para quando não estivesse no aconchego do lar, ou até mesmo em casa (quem nunca se segurou pra levantar da cama para trocar de game no meio de um momento preguiça total?). Só que no portátil até entendo essa decisão, influenciada pelo meio da tecnologia dos celulares e tablets, onde tudo que você precisa está lá, a um toque de utilização. No consoles de mesa, não existe essa necessidade de tudo estar ali, já que o aparelho não fica sendo desconectado e carregado para vários lugares habitualmente.


Nos primódios, entre a locadora, a pirataria e o colecionismo necessário…

CrashBandicoot

Nestas horas eu penso um pouco sobre o passado dos games. Me recordo do primeiro PlayStation, que aqui no Brasil ficou famoso pela acessibilidade que o videogame tinha em relação aos games piratas, que eram ridiculamente baratos. O que inclusive matou a geração locadora de games, uma época em que não era comum colecionar games, já que era normal alugar apenas por um final de semana e isso era o suficiente muitas vezes. No PlayStation era normal ter pastas e estojos com dezenas, até centenas, de games piratas. E como era comum discos estragarem, riscarem, mofarem ou descascarem. Isso porque o cuidado com os piratinhas era zero.

E com tantos games, a geração PlayStation era um exercício levantar a todo momento para ficar trocando os jogos, pois com tantas opções, sempre queria jogar de tudo um pouco. Os games enjoavam rápido, porque sempre havia algo novo, algo ainda não experimentado. Foi também uma época de mudança nos games, do 2D ao 3D, de novos gêneros e games que não podiam existir em gerações anteriores.

Acho que o conceito maior de coleção de games, aí no meu caso e acho que muitos outros gamers da minha geração, acabou surgindo quando o PlayStation 2 e o Gamecube foram lançados. Ainda não se falavam em games digitais nos videogames tradicionais (no PC não sei qual era vibe nessa época porque nunca dei muita atenção a eles). Os consoles tinham apenas uma única interface do dia um de seu lançamento, até o momento em que morriam. Não existia esse conceito de atualizações rotineiras de software para melhor performance.

E com a morte da locadoras, a geração PS2 e Cube obrigavam os jogadores a ter os games em casa. O PlayStation 2 ainda tinha suas vantagens de ainda vivenciar a pirataria, mas no Gamecube as coisas eram complicadas. Existiam jogos que sumiam das prateleiras das lojas e não voltavam mais. Eu me lembro o quão difícil em determinado momento dessa geração foi complicado encontrar games como Baten Kaitos, Beyond Good & Evil e Rayman 3. Ou você tinha ou teria que arriscar a compra de um usado, que também tinha preços diferentes dependendo da demanda do game. Foi aí que surgiu pra mim o conceito de ter um game em casa para não ficar no perigo de nunca conseguir jogá-lo futuramente.

Sentimento que mudou um pouco quando na próxima geração, Wii, PlayStation 3 e Xbox 360 surgiram os games digitais. A princípio era uma modalidade dedicada somente a pequenos games, de desenvolvedores independentes e pequenos estúdios, onde posteriormente a coisa foi crescendo até se tornar o que é hoje. No Wii os títulos seriam do Virtual Console, com clássicos da Nintendo, e como eu colecionei eles até decidir me desfazer do console e perder tudo (mas a minha coletânea digital influenciou o preço do console na época em que o vendi, então não perdi dinheiro com isso).

Até o final da vida do meu Xbox 360, minha biblioteca digital possui mais de 200 títulos de joguinhos comprados virtualmente. Só que um porém, a minha biblioteca de games físicos no Xbox 360 era tão grande quanto as digitais. Posso dizer que era pau a pau a prioridade. Comprava sem problemas games de caixinha, da mesma forma que curtia os joguinhos digitais da Arcade. Até que essa nova geração surgiu e algo mudou.


Quando devo optar por um título digital e quando é melhor pegar a mídia física?

Destiny

Imagino que essa decisão de ter títulos digitais não chega a ser novidades para alguns gamers. O Steam no PC já anda promovendo essa mudança cultural desde a geração passada, mas nos consoles como o PlayStation 4 e o Xbox One me parece que o baque do desapega das mídias físicas está acontecendo somente agora.

Alguns meses atrás adquiri Titanfall numa baixa de preço e peguei a versão em mídia física mesmo. Não que ele tenha sido meu primeiro game em disco no Xbox One, pois já tinha em casa Rayman Legends e Assassin’s Creed IV, mas estes eram games focados em single player, enquanto Titanfall é um game somente online. Faz diferença? Acho que faz.

Estava conversando com o Paulo PRLS (ex-colaborador aqui do blog) semana passada a respeito dessa decisão de começar a adquirir games em meio digital no Xbox One e deixar um pouco de lado as mídias físicas. Pois percebi que nestes meses em que estou com o One a minha prioridade nos momentos em que tenho tempo para jogar alguma coisa, sempre procuro pelos títulos que já estão prontos para serem jogados no console. Rola uma preguiça crônica de ter que trocar o disco de um game, pegando-o um outro na prateleira, guardando o disco que estava no console em sua respectiva caixa, isso porque não sou um gamer de ficar horas numa única coisa. Gosto de jogar uma ou duas partidas de Titanfall, depois pular para um Garden Warfare e disputar alguns modos de jogo, depois pegar um Arcade e passar algumas fases de um single player. E se tivesse estes games em disco, teria que a todo momento ficar saltando do sofá para trocar os discos. Titanfall atualmente é game padrão para ficar dentro do Xbox One, por ter comprado ele em mídia física. Isso dificulta até mesmo a jogar Watch Dogs, que também comprei em mídia física e pra jogar ele, preciso ficar sem o Titanfall no console, pronto para qualquer momento que quiser jogá-lo e isso me incomoda um pouco. Bizarro, eu sei.

Tanto que já cogito numa promoção que rolar futuramente, comprar Titanfall por meio digital e vender a versão física dele. E é exatamente isso que me influenciou adquirir Destiny digitalmente, já que é outro título que precisa estar pronto pra ser jogado a qualquer momento. Um jogo que sei que não vou me desfazer da minha coleção, mesmo que digital, do Xbox One.

Claro que essa regra não é escrita em pedra. Ainda devo pegar títulos em meio físico, mas a prioridade destes é que poder jogar, fechar e passar pra frente, vendendo-o como usado. Algo que já faço desde os tempos de Nintendo Gamecube. Há títulos que você quer ter pra sempre e títulos que você apenas quer jogar e finalizar e nunca mais vai usar. Watch Dogs, que mencionei ter comprado fisicamente cai justamente nesse exemplo. O game não é mil maravilhas, mas quero jogar, e depois de ter usado ele o suficiente, pretendo vender e deixar outro gamer ser feliz com o game.

Agora em outubro há Forza Horizon 2. Esse é um outro bom exemplo de um jogo que não devo querer digitalmente, pois duvido se daqui alguns anos não terá um Horizon 3. E se isso acontecer, certamente vou querer me livrar do anterior, e custeando assim uma graninha para a sequência. Então talvez esse seja um título para se ter fisicamente.

E essa forma de pensar segue para outros games futuros. Halo Master Chief Collection? Quero digitalmente, pois nunca pretendo me desfazer. Call of Duty: Advanced Warfare? Fico com a mídia física, pois ano que vem tem outro e aí eu descarto o atual. Sunset Overdrive? Apesar de ser um game single-player, se os reviews forem favoráveis, são grandes a chances de ficar com a versão digital mesmo, da mesma forma que tenho todos os Crackdowns do Xbox 360 e não me desfaço deles. Assassin’s Creed Unity? Outro que no próximo ano tem mais um, então melhor optar pela versão física para poder desfazer futuramente.

O raciocínio que estou apresentando aqui, que é algo apenas particular e pessoal relativo a minha forma de manter as coisas nessa nova geração, ainda pode mudar caso futuramente a Microsoft pense numa maneira de me deixar vender meus games digitais, algo que alias inicialmente o Xbox One faria, mas as políticas do console mudaram com toda a polêmica que teve no péssimo anúncio do console na e3 do ano passado. Porém essa, de venda de games digitais por parte do usuário, parece ser uma tendência para o futuro. Eu acredito que daqui alguns anos será possível vender coleções de games digitais.


Sem medo, porque nada dura pra sempre!

PlayStationNow

Outra coisa que vem ajudando muito a inserir culturalmente os games digitais são programas como os da PlayStation Plus e agora também a Xbox Live Gold, que oferece games gratuitos a seus usuários, enquanto estes se mantiverem assinantes do serviço. É semelhante ao desapega que serviços como a Netflix promoveram em meio as comunidades de colecionadores de Home Vídeo, com DVDs e Blu-rays. Eu mesmo ainda coleciono filmes e animações em Home Vídeo, mas em um volume muito menor do que já colecionei algum dia, e ter um serviço como o Netflix me influenciou muito nessa decisão.

Os programas de assinatura dos consoles da atualidade ao dar games gratuitos, incentivam a experiência do usuário para com o games digitais, que estão sempre ali, disponíveis rapidamente, enquanto aqueles parados na estante ou prateleira vão ficando mais esquecidos com o tempo. Foi uma maneira encontrando para possibilitar essa nova experiência de mercado, sem que o jogador se sentisse obrigado a trocar suas mídias físicas pelas digitais. Você já está trocando e nem está percebendo. E não há qualquer problema com isso.

Sempre haverá aqueles que acham que isso pode acabar com o mercado, ou aqueles que possuem medo de perder sua biblioteca digital. Eu também tinha esse medo na geração passada, quando percebi que a minha biblioteca do Xbox 360 estava enorme, e nos tempos em que o aparelho tinha as três luzes vermelhas (3RL) da morte. Mas troquei de Xbox 360 três vezes na geração passada e jamais perdi um conteúdo digital pago sequer. Sempre foi possível transferir a conta de um aparelho a outro. Até no 3DS, que ainda tem gente que pensa que não dá, o sistema já possui a Nintendo Network ID e nada da sua biblioteca digital se perde (veja relato nos comentários dessa postagem de ontem aqui do blog).

Ou seja, está tudo por aí, ao menos até o momento. Será que vai durar pra sempre? Não tenho essa ilusão também, até penso se não seria o caso de comprar um novo Xbox 360 e deixar guardado se algum dia o meu velho de guerra pifar. Mas não é algo que me preocupo hoje com isso. Talvez quando console estiver sumindo do mercado. Só acho que também é uma ilusão achar que as mídias físicas vão durar pra sempre, ainda mais estas baseadas em CDs, DVDs e BDs. Senti isso na pelo ao perceber tempos atrás que meus primeiros DVDs de filmes, guardados com carinho e cuidado, porém que não eram utilizados há um bom tempo, começavam a dar sinais de mofo e estariam estragando. Alguns salveis, outro foram pro lixo. Sim, porque mídias físicas também estragam, ainda que guardadas com carinho. A falta de uso ajuda a estragar, e não dá para quem tem uma coleção enorme de filmes ou games, ficar rodando e usando tudo de tempos em tempos. É mais trabalho do que uma coleção deveria dar. Na minha opinião claro.

Enfim, cheguei aqui ao final dessa pequena matéria opinativa e reflexiva. Algo mudou, pra mim essa geração finalmente me provou que não quero mais games físicos (apenas aqueles títulos mais ou menos que merecem ser revendidos) e que é muito mais prático ter os títulos digitalmente. Talvez futuramente as lojas passem a vender apenas as caixinhas, com códigos para baixar o game digitalmente, para aqueles que querem algo para enfeitar a prateleira. Talvez os consoles futuramente nem tenham mais opção de entrada de discos (isso quase aconteceu nessa geração mesmo). Ou talvez isso tudo seja uma febre passageira e acabe passando e os games físicos voltem com tudo. Talvez os cartuchos voltem como pendrives. Talvez as locadoras possam voltar se o colecionismo continuar custando tanto quando custa hoje. Talvez games por streaming sejam a nova tendência do futuro (PlayStation Now parece ser o primeiro passo). Talvez muita coisa mude, talvez não. Talvez, talvez e talvez.

Só sei que essa semana, tive uma excelente experiência adquirindo a pré-venda digital de Destiny, pagando menos do que pagaria se o comprasse fisicamente no Brasil, já podendo baixar o game antes do lançamento oficial, e assim que chegar o dia 09, vou poder sair jogando, sem me preocupar com frete, com atrasos na transportadora ou ter que tirar meu Titanfall do leitor de disco do meu Xbox One. Vai ficar tudo ali, juntinho e prontos para quem tiver um tempo de sentar e jogar. E pra mim isso está ótimo!


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9 Comments

  1. Thiago, tu comprou o Destiny na loja brasileira ou americana? Pois no meu caso, eu compro jogos do eshop digitalmente na loja brasileira para incentivar o mercado daqui. Mas nesse caso só os jogos mais baratos, como o virtual console ou indies.

    1. Atos, no caso da Nintendo eu apenas compro na loja americana, porque como já comentei aqui no blog, a Nintendo tá cagando pra gente, então eu cago pra ela também. Infelizmente, porque eu adoraria apoiar a eshop nacionalmente, mas nestes preços não dá, é pedir a mão e comer o braço.

      Já na Xbox Live, atualmente eu posso comprar tanto na BR quanto na US, pois o sistema deixa mudar a vontade. E eu apoio aqui, quando o preço é justo. Se a LiveBR tivesse solto Destiny a 149 reais, eu teria pego por aqui, mas lançamento a 199 não concordo, então eu peguei na US, mas meu apoio ao mercado nacional vem por outras fontes, como jogos em promoção por aqui, acessórios e até mesmo o meu console é nacional.

      Eu dou a mão, mas com muito cuidado pra não pegarem meu braço. XD
      E Destiny me custou 56 dólares, pois participo da Live Rewards (que não existe por aqui infelizmente).

      Alias ficou pra outro dia, a discussão se os games digitais precisam custar o mesmo que os games físicos. Isso é uma das poucas coisas que discordo nessa evolução para o digital, apesar que as quedas de preço são mais rápidas nesse formato.

  2. O futuro da mídia física nos games deve seguir o mesmo caminho da indústria do cinema. A maior parte das pessoas, o “povão”,opta por conteúdo digital (tv a cabo, Netflix, downloads, etc.), enquanto os colecionadores se concentram nas edições especiais (que vem ganhando popularidade no Brasil).

    Bom, pelo menos é o que eu faço. Tem Blu-ray simples de Gladiador à venda? Passo. Tem Blu-ray duplo de Gladiador, com estojo enluvado e cheio de extras? É meu!

    Seguindo o exemplo acima, eu quase comprei aquela edição linda de Watch Dogs que saiu aqui no Brasil. Desisti quando descobri que a versão de PS3 do jogo era uma bosta.

    Enfim, é isso. Nessas edições de colecionador, o consumidor adquire um produto com maior valor agregado (cheio de extras e mimos), sem falar que nessas edições o lucro das produtoras é maior. O mercado deve seguir por aí!

  3. Eu sempre prefiro mídia físicas, pelo preço, comodidade e apoio às lojas de games. Ainda faltam muitas melhorias para o digital ser viável não só no Brasil, mas no resto do mundo também.

      1. Só se Submarinos, Americanas, Pontos frios e Walmarts da vida deixarem de sacanear o mercado e trabalharem sério e pararem com essa palhaçada de ofertas sem sentido.

        1. bom isso é outro mimimi, de empresas grandes que devoram menores. em todo o caso, não teve aquele Patapon que era vendido fisicamente em loja com a caixinha vazia e que dentro vinha o código para baixar o game. eu acho que o futuro da mídia em si (e não do mercado físico) deveria ser esse. parar com essa coisa de disco óptico, e vir apenas uma forma de resgatar o produto online, tudo com manuais, caixinha, aquele esquema pra enfeitar a prateleira de colecionador.

  4. Utilizo tanto a mídia digital quanto a física, a grande vantagem que vejo na mídia digital é que você pode conseguir aqueles jogos bem difíceis de se encontrar em minutos, como Witcher 2, ou uma aquisição recente minha, os Monkey Island remasterizados, jogos que, se você encontra em mídia física, geralmente estão bem caros.

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