|Atenção! Fiz esta matéria tentando ao máximo não entregar grandes spoilers a respeito da história de Toriko, para tentar atrair novos leitores ao mangá. Pode seguir sem medo. ENTRETANTO as imagens aqui selecionadas pertencem aos capítulos 270 em diante do mangá. Então se você não segue o mangá, não fique analisando-as minuciosamente. |
Ame-o ou odeie-o. Essa é a relação que vejo muitos leitores de mangás populares, como Naruto, Bleach e One Piece, terem com relação ao mangá Toriko. E eu entendo alguns dos motivos que existem para se odiar, ou pelo menos, menosprezar Toriko. Claro que acho que boa parte destes motivos são injustos e infundados, mas calma que chego lá no momento apropriado.
Contextualizando e os altos e baixos de uma geração pós One Piece, Naruto e Bleach…
Primeiro é importante contextualizar um pouco a respeito da obra. Toriko é um mangá de Mitsutoshi Shimabukuro (difícil de pronunciar, tente), e não é o primeiro mangá deste mangáka na Jump. Mitsutoshi teve um mangá publicado na revista semanal da Jump entre 1997 a 2002, chamado Seikimatsu Leader den Takeshi!, que se finalizou com 25 volumes, mas que infelizmente nunca li e não tenho qualquer impressão sobre o mesmo. Após sua primeira obra, Mitsutoshi trabalho em Ring, para a Super Jump (uma das muitas ramificações da Weekly Shōnen Jump) entre 2004 a 2005. Toriko foi então seu terceiro mangá, que estreou na WSJump em 2008 e continua sendo publicado desde então, se tornando um dos maiores mangás da atualidade da revista. Já se encaderno mais de 30 volumes do mangá e o mesmo está muito próximo de atingir 300 capítulos.
O caso de amor e ódio que Toriko causa nas pessoas vem da ideia de que ele não é um mangá que está reinventando a roda, mas de que ele apenas é um bom mangá do gênero shonen (batalha) misturado num universo fantástico. É diferente da situação na qual One Piece (1997), Naruto (1999) e Bleach (2001) foram criados no final da década de 90, um período onde os mangás precisavam se reinventar porque o formato havia se engessado um pouco, pare e pense em como essa trinca da Jump é diferente de antigos mangás da revista, como Dragon Ball ou Yu Yu Hakusho, que também possuíam universos de fantasia, mas não tinham a complexidade que estas obras viriam a ter com o passar dos anos. Não havia muito que se pensar em suspense, mistério e regras definidas. Então é verdade que One Piece, Naruto e Bleach foram quebras de paradigmas naquele momento e nos anos posteriores ao surgimento de cada um. Toriko não veio dessa fase, ele é exatamente o contrário, sendo um fruto do que One Piece, Naruto e Bleach construiram. E é isso que molda a sua qualidade nos dias de hoje, chegando muitas vezes a superar no raking da Jump, estes mangás que criaram toda uma nova geração de mangákas. Só para concluir o meu raciocínio, que fique claro então que na questão de inovação e reinvenção da fórmula, não há como Toriko superar tais mangás, mas não acredito que fosse isso que ele pretendia em 2008 quando surgiu, afinal, há 6 anos atrás, nem Naruto e nem Bleach davam os sinais de cansaço que dão hoje em dia, e eles ainda estavam em seu auge. Toriko surgiu numa época de forte concorrência e o fato de estar vivo até hoje, é um prova da qualidade de sua história.
Outro ponto que faz algumas pessoas torcerem o nariz é que Toriko é conhecido por ser uma mangá num universo de cozinheiros, de comida. O que admito que não é a parada mais descolada e maneira quando se pensa que concorre com mangás onde os personagens são piratas, ou ninjas ou shinigamis com espadas enormes. Toriko não causa o apelo certo nesse sentido e não que ele precise disso, mas é admirável que tenha conseguido sucesso sem ter esse elemento que chama a atenção do público mais novo. Na melhor das comparações Toriko é um caçador, só que de ingredientes gourmet raros que geralmente advém de enormes feras e bestas animalescas, mas acho que isso posso destrinchar melhor quando chegar na fantasia do universo do mangá.
Há também uma característica incomum em Toriko, que diz respeito ao seus protagonistas. Pensando no público alvo da Jump, é perceptível que boa parte dos novos mangás são planejados com protagonistas jovens, do tipo estudante adolescente do colegial (ou algo assim nos padrões da cultura japonesa). Luffy e Naruto eram “crianças” (pequenos jovens) quando seus mangás se iniciaram, Ichigo talvez fosse um pouco mais velho, mas ainda um adolescente (o traço do Kubo faz Ichigo parece mais velho, talvez propositalmente). Toriko não é uma criança e muito menos um adolescente, mas um adulto mesmo. Não um velho, um adulto jovial claro. Há esse choque de idade dos personagens. Komatsu que talvez seja o personagem até mais importante do que Toriko no mangá, não chega a ser um adulto, mas ele tem um pé de maturidade que um adolescente não teria, o que o torna um adulto prematuro talvez. Isso é algo que causa uma estranheza no público mais jovem que chega para conhecer um pouco de Toriko, sem dúvida alguma.
Entrando pelo animê e saindo via mangá… o que difere?
Me lembro que conheci Toriko através de um especial para a TV que os apresentou juntamente com os personagens de One Piece. Logo de cara isso me causou uma sensação estranha, mas não de uma forma ruim, porque esse especial foi bem divertido, e mostrou que o universo de Toriko poderia ser tão instigante e maluco quanto o de One Piece. Dava para pirar nas coisas ali mostradas. Se One Piece tem ilhas absurdas e fantásticas, Toriko tem flora e fauna bizarras e estranhas, que são meramente baseadas no que existe no mundo real. E agora, antes de continuar, preciso explicar algo.
O mangá de Toriko atualmente é dividido em dois arcos: o arco do mundo humano e o arco do mundo gourmet. Eu não li o arco do mundo humano desde o primeiro capítulo até o seu fim. Como disse, meu primeiro contato com Toriko foi em seu animê e ali fiquei, até ele ser encerrado há alguns meses atrás. Uma pena que acabou. A Panini nesse meio tempo (e talvez tardiamente) começou a lançar o mangá no Brasil, na qual já estou colecionando. Só acho uma pena que a periodicidade de Toriko no Brasil seja bimestral, o que significa que iria demorar demais para o mangá impresso aqui chegar aonde parece na versão em animê. Por isso decidi migrar a leitura de Toriko para a internet, tal qual já faço há anos com Naruto, Bleach e One Piece (além de Hunter x Hunter quando não está em hiato). Mas o mangá nacional continuo colecionando e vou começar a ler em breve, mas por enquanto as minhas memórias do começo da história de Toriko virão apenas da versão em animê.
Por que explicar isso? Porque há pequenas nuances entre a versão animada e o mangá. Eu tenho a impressão, apenas folheando o que a Panini já publicou no Brasil, de que o mangá é mais hardcore no sentido de as cenas de ação são mais grotescas, violentas e sangrentas, e que essa parte era bem mais suavizada no animê. Não sei se há grandes mudanças no enredo ao longo das sagas do mundo humano entre mangá e animê, e nem pesquisei a respeito, pois em geral estas coisas não fazem muita diferença no final das contas. Exceto, claro, pelo final do animê. Eu não sei o que deu na cabeça dos produtores, não sei se o Mitsutoshi ajudou a produzir, mas há ali naquele final animado que muda certos fatores importantes que ditam a regra para o arco do mundo gourmet, a segunda fase do mangá. Há um personagem ali que deveria morrer e ele não morre!! Como assim!?
Fora que há batalhas e poderes do confronto final do animê que não acontecem no mangá. Muito menos aquele final feliz. O mangá tem um desfecho bem mais sombrio e aterrorizante. Quando percebi que mangá e animê não estavam andando de mão juntas nos eventos, tive que voltar os capítulos do mangá para descobrir onde foi que a coisa seguiu caminhos diferentes. Então para aqueles que viram Toriko apenas em animê e estão pesando em pegar o mangá, o façam já pelo capítulo 230. A partir desse ponto você fica por dentro de tudo que precisa saber e entender antes de começar o arco do mundo gourmet (que se inicia lá pelo 260).
Sendo assim, dá para ver o animê (147 episódios) pra depois pular pro mangá? Dá. Sem problema, e veja assim mesmo o final (os últimos 5 episódios) do animê, que mesmo sendo diferentes do mangá, ainda assim são divertidos. Mas pense deles como um final alternativo do arco do mundo humano, tal qual como foi feito com o animê de Claymore por sinal. Eu suspeito que Toriko não vá mais voltar a ter um animê, ou pelo menos não um que continue com esse primeiro animê. Se voltar, vai rolar uma tremenda encoxada de roteiro para acertar os erros do final do primeiro animê. Fora que o mangá não tem capítulos o suficiente para sustentar o retorno da versão animada. Talvez os produtores deveriam ter segurado um pouco as rédeas do animê antes dele chegar nessa situação de que não ser mais possível continuar a história.
Por que devo ler Toriko?
É preciso deixar claro que Toriko almeja o mesmo público que qualquer mangá shonen, então ele tem batalhas, humor, um pouco de drama e todos os clichês do gênero. O que difere dele de um Naruto ou Bleach é que Toriko é um mangá relativamente novo, que ainda não apresenta sinais de cansaço oriundo de décadas de publicação e de tramas sendo guardadas para o último momento da história. Toriko está sendo publicado há 6 anos, o que já é muita coisa e se você imaginar que o mangá terá apenas 2 arcos, ele já cruzou a barreira da metade da história que o autor pretende contar. Pode haver mais arcos após o atual (mundo gourmet)? Se pode, o autor não dá qualquer indício, pois quando penso na trama, vejo que tudo está amarrado para esse arco atual, onde tudo vai ser resolvido através dele.
Claro que estou falando arco e mundo gourmet, mas isso não significa que dentro dele não terá sagas próprias. Terá sim. Se pensar que os protagonistas estão atrás de certos itens especiais que seriam como o One Piece do mangá One Piece, sendo que há oito itens (e eles acabaram de achar o primeiro) há pelo menos mais sete arcos para ser narrado, podendo haver outros que sirvam como interlúdio entre um arco e outro. Ou seja, Toriko está longe de ser encerrado, porém ele parece ter história para durar mais algum tempo, porém talvez não tanto quanto um Naruto ou Bleach, que se você colocar no papel, já deveriam ter acabado há um bom tempo e seus autores deram uma pela embromada agora na reta final. Toriko ainda não sofre desse engessamento da história, que se mantém num ritmo tão bom e divertido quando um One Piece continua. O tempo de publicação me parece que ainda está longe de causar problemas a trama de Toriko e isso e muito bom.
Uma das coisas que me impressionaram quando comecei a ler o mangá, nesse segundo arco da série, é que nele explicam coisas que nunca fizeram sentido ao universo de Toriko, mas que como fã da série, havia apenas aceitado que as coisas eram assim e tudo bem. Afinal cada mangá tem suas regras e características próprias e algumas coisas nem sempre precisam de contexto ou serem explicadas nos mínimos detalhes. One Piece os personagens comem uma fruta especial que lhe dá poderes. Até hoje os motivos e explicações da fruto e dos poderes não foi dado. Em Toriko os personagens chamados de bishokuya (caçadores gourmet – e não sei como a Panini anda traduzindo isso, futuramente vou acertar os termos aqui na matéria) possuem uma espécie de demônio interior, que no começo do mangá são mostrados como se fossem uma presença hostil instintiva na hora de batalhas. Algo como uma aura de força. É estranho explicar. Após isso, certos personagens também possuem o que o mangá chama de células gourmet, que desenvolvem força e habilidades a tais pessoas que comerem certos ingredientes e comidas que sejam compatíveis com tais células. Pra mim, essa era as regras desse universo e tudo bem existirem tais características que justificavam que personagens, como o próprio Toriko existam. Mas agora no mundo gourmet, estes pequenos detalhes não muito explicados no começo do mangá, estão sendo destrinchados e existe uma razão para que pessoas sejam assim, que os demônios sejam muito mais do que um efeito visual para o mangá funcionar e isso é demais! É algo que vem da geração One Piece, Naruto e Bleach, onde algo só vai fazer sentido quando chegar ao ponto em que precisa ser explicado para continuar sendo aceitável pelo público.
A história principal…
Toriko há muitos mistérios nesse sentido. A história principal mostra um mundo, como o nosso, que vive sua era gourmet, a era das comidas fantásticas. Refeições que fazem muito mais do que apenas encher a pança. Existem ingredientes mitológicos, raros, fantasiosos, coisas que nunca as pessoas sonharam que existiram. Algo desencadeou essa era, mas isso não se faz necessário no começo do mangá. Mas se a comida se transformou em algo incrível, tal como itens consumíveis num RPG, que podem der poder a certos tipos de pessoas, que podem salvar vidas, que podem mudar o ambiente em sua volta, isso também desencadeou a evolução de todo um planeta. Feras e bestas que jamais a humanidade imaginou, agora existem. Seres gigantescos, feras bizarras, ambientes impossíveis de um humano normal chegar. O planeta onde se passa Toriko é tão incrível quando foi aquela sensação dos leitores de One Piece tiveram quando Oda apresentou a grande rota no mangá, com ilhas impossíveis e absurdas. Toriko tem essa inspiração, de uma mundo fantástico, onde certas coisas não possuem limites, especialmente se você pensar em flora e fauna e como estes dois elementos combinados criam situações e combinações inacreditáveis.
E um mundo tão delicioso se torna agressivo e perigoso para um humano normal. A humanidade se isolou num parte específica do planeta. Longe do assim chamado mundo gourmet, onde nenhum humano normal poderia sobreviver. Talvez você pense que a humanidade se enclausurou numa espécie de gaiola metafórica, tal qual Attack on Titan, mas não. A Era Gourmet permite que a humanidade não passe fome, todos vivem bem e felizes. Não há escassez de comida e existe uma organização que cuida disso. É aí que entra pessoas como Toriko, que buscam ingredientes fantásticos dentro do mundo humano para alimentar todas as pessoas.
A primeira parte do mangá constitui de explicar e contextualizar o leitor a esse universo. A mostrar o crescimento de Toriko, que precisa alcançar ingredientes em áreas isoladas e perigosas, que irão servir de treinamento para que ele algum dia possa ir ao mundo gourmet. O mangá também cria uma regra, há aqueles que caçam os ingredientes e aqueles que o preparam, chefs habilidosos, que conseguem preparar ingredientes impossíveis de serem cozinhados de formas convencionais (na maior parte das vezes). É aí que entra o Komatsu. Um pequeno jovem que se une ao Toriko em grandes aventuras nesse primeiro momento do mangá, onde eles criam um laço de amizade, forma uma parceria culinária e se arriscam pelo mundo humano, se fortalecendo a cada nova aventura. Esse é o momento de aventuras do mangá, onde novos personagens vão sendo apresentando, assim como vilões e seres que talvez sejam mais antigos e que só irão fazer sentido mais tarde. O mundo humano é dividido em várias sagas (veja todas aqui). O mundo humano é muito maior do que fiz parecer, mas depois você descobre o mundo gourmet e percebe que ele é oito vezes maior! Hunter x Hunter também fez algo assim nos capítulos mais recentes.
Quando o fantástico se torna épico…
E há um momento onde Toriko passa do mangá normal de fantasia para algo de explodir a cabeça. Que é quando ele entre nessa segunda fase do mangá, o mundo gourmet. Não vou revelar particularmente como acaba o arco do mundo humano, já que estou tentando amenizar o máximo os spoilers nesse texto de apresentação de Toriko, mas saiba que deu merda. Foi tudo pras cucuias e a resposta para resolver esse problema está no mundo gourmet. Resta então Toriko, Komatsu e outros personagens amigos deles (e que são co-protagonistas do mangá também) se reunirem e irem explorar essa nova realidade. Afinal eles treinaram e passaram por provações complicadas para chegar a esse momento do mangá.
É aí que o mangá pira foda. Nesse ponto os limites que já eram absurdos, dão um salto que você jamais imaginaria que ainda daria para ser feito. O mundo gourmet é como o novo mundo em One Piece. Não procure algo que faça sentido nele. Há chuva de raios lasers, labirintos aquáticos inacreditáveis (do tipo que se você pegar um lápis e começar a correr o caminho da página do mangá não conseguir sair dele), criaturas que mudam a percepção ao seu redor, e seres que poderiam se equiparar aos Colossus de Shadow of Colossus (game de PlayStation 2). São 8 bestas que reinam o planeta, os reis do mundo, e 8 vilas que existem em todo o mundo gourmet, mas que ninguém sabe como são. Eu arrisco dizer que esse primeiro arco do mundo gourmet me lembra muito os seres da obra de Hayao Miyazaki. Em especial as criaturas da vila do mundo da culinária bizarra.
E esse é o momento que vou conversa toda semana com os leitores aqui no blog a partir de agora, porque a partir da publicação desse texto, fica oficializado que Toriko estará no Conversa de Mangá aqui no blog! Aí vou poder soltar spoilers a vontade, vamos falar de pontos específicos da trama, de personagens, do que rolou, do que pode rolar, teorias e assim por diante. E pra mim isso é um alívio, porque dá uma injeção de ânimo poder ler um novo mangá semanal que está em um grande auge de qualidade e poder escrever a respeito, tal como é feito com One Piece, enquanto outros mangás, como Naruto e Bleach que ainda tem muitos leitores, mas parece que estes só estão na embarcação esperando que os mesmos terminem logo.
Então, quem curte o Conversa de Mangá. Já vai se preparando. Pega aí o 147 episódios do animê de Toriko e depois pula lá pro capítulo 230 do mangá. Atualmente ele está no capitulo 292. O que não é muito para o público que vem de One Piece, Naruto e Bleach. Vem pro universo de Toriko que vale a pena!
Fica a recomendação! Leia Toriko, não se deixe enganar achando que é apenas um mangá shonen genérico e sem graça. Há sim muita fantasia, e certos trejeitos que não são convencionais do gênero, mas é um mangá criativo e divertidíssimo. Como todo mangá, talvez ele demore um pouco pra engatar, mas todo mangá pensado para existir a longo prazo, com anos de publicação, passa por esse perrengue no início. Mas Toriko engata fácil, basta que você dê uma chance!
Itadakimasu!